Na
noite de 27 de março, a jornalista Eliane Cantanhêde anunciou que a decisão
estava tomada: Jair Bolsonaro (PSL) havia batido o martelo sobre a demissão de
Ricardo Vélez. De imediato, o presidente se fez de vítima e falou que sofre
fake news. Aquele seria o caso. Não era. O presidente mentiu e usou a mentira
para atacar a jornalista.
Cantanhêde
disse na Globonews: "É uma questão de tempo. Pode ser em horas, pode ser
em dias". Repare que ela não disse que ele estava demitido naquele
momento, mas que Bolsonaro havia tomado a decisão de demiti-lo e o faria. A
informação se mostrou correta. Bolsonaro deu razão a ela. A fake news acabou
sendo do presidente.
A
guerra contra a imprensa
Bolsonaro
segue a cartilha Donald Trump em várias coisas e o enfrentamento à imprensa é
um dos pilares. A estratégia é desacreditar todos aqueles de onde podem vir
críticas. Fazem isso com a oposição e com a imprensa.
A
quem quer ajudar Bolsonaro, é importante saber: mais ajuda quem critica que
quem bajula. Fechar os olhos aos erros não ajuda nem nunca ajudou. Bolsonaro
tem cometido erros. O MEC estava uma bagunça e até o presidente se convenceu
disso, ainda que muitos apoiadores não enxergassem. Varrer para debaixo do
tapete só acumularia a imundície para um futuro próximo.
A
gestão Vélez ficou marcada por anunciar medidas e recuar depois. Desconheço
ação importante anunciada e mantida. Os recuos foram o que fez de melhor. Os
erros que deixou de cometer são seu legado.
O
tempo decorrido
Que
Vélez não tinha condição de permanecer no cargo havia ficado claro nos
primeiros dias de "gestão". Ele não bateu o recorde de Cid Gomes, que
saiu após 77 dias. Vélez saiu no 98º. Mas ninguém bate o mais recente
ex-ministro em quantidade de trapalhadas. Ele ganhou sobrevida porque Bolsonaro
não queria dar razão a Cantanhêde. Queria mais um elemento na sua briguinha
besta com a imprensa. Só conseguiu atrapalhar mais seu governo - deu tempo a
Vélez de fazer ao menos mais uma bobagem. No fim, o presidente deu razão à
jornalista.
Alguns
dos simpatizantes de Bolsonaro foram às redes sociais dizer que uma coisa nada
tem a ver com a outra. Ora: a jornalista anunciou a demissão no dia 27. Em 5 de
abril, Bolsonaro deu o indicativo de que iria demitir o ministro. Entre uma
coisa e outra foram nove dias. Sem fato novo, segundo o porta-voz. As pessoas
acham mesmo que uma coisa não tem a ver com a outra?
Alguém
acha que Bolsonaro estava convicto de que iria manter Vélez em uma semana e, na
semana seguinte, decidiu demiti-lo do nada? Sem fato novo, como confirmou o
porta-voz. Sério que as pessoas acreditam nisso?
O
discurso chapa branca
Algumas
pessoas questionaram - a que ponto chegamos - Cantanhêde por dar a informação
quando ainda não era confirmada, não era oficial. Ela noticiou uma tomada de
decisão. Saiu de alguma reunião ou confidenciada a alguém. Isso é um fato.
Esperar que só aquilo que é oficial seja notícia é levar ao ápice o
chapa-branquismo. As notícias mais importantes são aquelas que os governantes
não querem que saiam. E, sabe de uma coisa, quem hoje espera que a imprensa só
publique o que é oficial certamente não queria o mesmo, por exemplo, no governo
Lula. Assim como quem reclamava do criticismo da imprensa com Lula espera todo
rigor na cobertura sobre Bolsonaro.
Quem
hoje é poder amanhã será oposição. É o jogo da democracia. Uma imprensa crítica
e vigilante é uma garantia para todos, que podem estar no poder, mas um dia
estarão fora. Passa mais rápido do que os governantes imaginam.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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