Teve
seca e fome, é verdade! Mas o que ficou mesmo foi o artesanato, o forró, o
camarão, a força, a fé e as redes para dormir no melhor estilo néon da estação.
De quebra, o simpático Bode Ioiô, que levou uma Sapucaí inteira a cantar.
As
referência ao Ceará, na segunda noite de desfiles do Grupo Especial na Apoteose
do Samba (RJ), começaram na apresentação da União da Ilha do Governador. A
agremiação abriu o enredo "A peleja poética entre Rachel e Alencar no
avarandado do céu" com um Padre Cícero que voava sobre a avenida aos
aplausos do público.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da
escola, Philipe Lemos e Dandara Ventapane, incluíram movimentos de forró e
xaxado aos trejeitos da evolução. A partir daí, cangaceiros, vaqueiros,
brincantes juninos e retirantes invadiram a passarela puxados pelo refrão do
samba-enredo, que começava com um expressão típica cearense: "Vixe
Maria!".
As
fantasias receberam a riqueza da renda, com direito a ala assinada pelo
estilista Ivanildo Nunes, uma das personalidades do Estado convidadas para o
evento. O design em couro de Espedito Seleiro, também presente, percorreu
vários momentos da apresentação, que trouxe ainda o artesanato em barro,
madeira e palha, com direito a alegoria em homenagem à Cearte e ao Mercado
Central. Camarões "enormes" como o cearense tanto gosta ganharam as
cabeças de uma das alas e peixes saíram de açudes como o do Cedro, tema de um
dos setores da escola. A passagem terminou com um carro alegórico futurista em que
tramas de renascença emolduravam a mulher rendeira. Nomes do Estado como o
artista plástico Zé Tarcísio, o empresário Régis Medeiros, o deputado estadual
Gony Arruda, o casal de empresários Edson Queirós Neto e Ticiana Rolim e a top
model e atriz Dani Gondim integraram o desfile.
Na
sequência entrou na avenida a Paraíso do Tuiuti que, com os versos do enredo
"O Salvador da Pátria", usou o folclórico Bode Ioiô para fazer uma
crítica social e política, marca dos enredos da escola. Da eleição do animal a
vereador em 1920, quando as cédulas ainda eram em papel, a Tuiutu percorreu
temas do cenário e das polêmicas na política nacional. A escola terminou o
desfile com uma Sapucaí inteira cantando o simpático e fácil refrão do
samba-enredo e querendo, de fato, conhecer este animal digno de uma escola de
samba.
Por
fim, a Mangueira chegou com sua homenagem à vereadora assassinada do Rio de
Janeiro, Marielle Franco, em uma letra que remetia, dentre outros assuntos, ao
abolicionista cearense Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, e cobrava
mais respeito e voz às mulheres brasileiras.
O
fato das três escolas virem em sequência e com referências diversas sobre o
Estado foi um diferencial na noite. Por mais de três horas, o público esteve
conectado a detalhes da cultura e da história cearense. A carcaça do boi morto
na seca até passou, mas na memória fica mesmo é a alegria de viver e o colorido
do povo nordestino. Vixe maria, foi lindo demais!
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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