Quanta
honra participar desse momento histórico do carnaval do Rio!
Ainda
no primeiro semestre do ano passado, Leandro (gênio do carnaval carioca) me
ligou e combinamos um café. Leandro é um grande amigo. Conversamos sempre, mas
naquele dia ele queria me falar do enredo da Estação primeira.
Fiquei
impressionado com sua ousadia. Conversamos muito sobre os heróis esquecidos,
sobre história e nossos sonhos. Leandro ouviu muitos professores de história.
Esse samba carrega a contribuição de gente incrível como Luiz Antônio Simas e
tantos outros. Fiquei todos esses meses pensando o que seria esse enredo na
avenida.
Quando
entrei na avenida segurando a bandeira da Mangueira, encerrando esse desfile
monumental, não consegui me conter. Enquanto cantava esse inesquecível samba,
as lágrimas corriam. Lembrei das muitas aulas, dos alunos, das escolas, foram
20 anos dentro de sala. Lembrei com muita força do trabalho como educador
popular nas prisões do Rio.
Foram
muitos anos junto com aqueles jovens negros, pobres, encarcerados. Foi com eles
que aprendi o valor da minha profissão, foi nas celas como salas de aula
improvisadas que aprendi o valor da luta por direitos humanos. Foi no front,
nesse limite invisível que pouca gente entrou que me tornei educador. Todos
eles passavam pela minha cabeça e minha garganta quando cantava a mangueira.
Vinha
a imagem de Marielle. Essa menina que conheci em 2002, que reencontrei em 2006.
Que veio compor minha equipe de trabalho em 2007. Marielle trabalhou comigo por
10 anos. Vi essa menina se transformar. Lembro do dia que falei pra ela que
tinha chegado a hora dela assumir a coordenação da comissão de direitos
humanos. Falei que ela estava pronta. Ela riu, respirou fundo e transformou a
comissão. Mari não foi só uma companheira de trabalho, foi uma filha que perdi.
Ela estava ali. Sendo cantada e lembrada pelo mundo.
Sei
de tudo que a Mari passou a representar para o mundo. Tenho muito orgulho, mas
a saudade que sinto é daquela menina que conhecia tão bem, que amei tanto.
Tudo
passou pela minha cabeça. Nunca vou conseguir agradecer tamanha emoção.
Obrigado,
Leandro.
Obrigado,
Mangueira.
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