A lei prever responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades (Foto: Divulgação) |
Estar
à frente de uma tela de computador interagindo com milhares de pessoas e com
acesso a um número maior ainda de informações tende a alterar o comportamento
das pessoas no meio virtual. Especialistas alertam que, apesar de o ambiente
virtual trazer a sensação de "terra-sem-lei", as publicações e
comentários seguem também os preceitos legais da constituição, sob o risco,
inclusive, de responsabilização legal.
André
Peixoto, advogado especialista em direito da tecnologia da informação, alerta
que o movimento, na verdade, é contrário. "As condutas praticadas na
internet são puníveis, sim, e as pessoas são localizáveis, sim", explica.
Conforme ele, as possibilidades de rastreamento são cada vez maiores. Previstos
na Constituição Federal, crimes como injúria, racismo, difamação podem ser
identificados e punidos. André alerta que o ambiente da internet chega a ser
mais delicado pela capacidade de alcance de postagens e pela facilidade de
gerar provas.
Mas
nem sempre entre a liberdade de expressão e determinada má conduta há um
caminho claro. Muitas vezes, levada pela raiva ou frustração, as pessoas fazem
postagens ou comentários inadequados sem avaliar os impactos que podem trazer.
A
plataforma SaferNet, uma associação de civil com foco na promoção e defesa dos
Direitos Humanos na Internet no Brasil, orienta que o direito de manifestar
livremente opiniões, ideias, e pensamentos faz parte do tratado de uma
sociedade democrática e simboliza a liberdade de expressão. Exercê-la, conforme
o instituto, requer responsabilidade e informação para que o seja legítimo.
"Vale
lembrar que a liberdade de expressão esbarra no respeito à opinião do outro e
respeito à sua integridade moral. Esses também são princípios democráticos de
uma sociedade que contempla o bem-estar e integridade de todos. A defesa da
liberdade de expressão na web tem que considerar esses princípios para que não
haja distorção do seu exercício", alertam.
W
Gabriel, professor e consultor de marketing em mídias digitais, alerta que
falta educação de cultura digital. Conforme ele, quando há baixa cultura
digital, as pessoas não conseguem entender de fato o funcionamento do ambiente
virtual. "Assim, não há como avaliar os prós e os contras. Quem conhece
uma das regras do Marco Civil da Internet?", questiona. A lei 12.965,
sancionada em 2014, versa sobre uma série de questões relacionadas ao uso,
segurança e disponibilidade de internet.
No
último dia 5 de janeiro, durante os primeiros dias da onda de ataques a
equipamentos públicos e privados do Ceará, uma das seguidoras do perfil do O
POVO Online, Silvia Soares, fez comentários em publicação afirmando que a sede
da instituição jornalística deveria ser alvo dos ataques. A publicação mostrava
a rota e as blitze que a polícia havia divulgado e o jornal fez cobertura.
"No
comentário, essa senhora disse que o jornal fazia um desserviço ao comunicar
uma blitz que foi informada pelo próprio comando da Polícia Militar, e, em
razão disso, essa senhora afirmou que O POVO deveria sofrer as consequências,
que deveria ser alvo dos ataques", explicou Robson Sobreira, advogado do
Grupo de Comunicação O POVO. Conforme ele, na ocasião, foi enviada uma notificação
extrajudicial para Silvia para que ela se justificasse do ocorrido.
Em
carta de retratação, Silvia explicou que a interpretação foi errônea sobre a
publicação. "Acabei me deixando levar pela raiva, escrevendo um comentário
que não deveria ser escrito e que não deve ser levado a sério, pois não era e
nem é o meu real desejo. Que fique claro que não tenho participação no enredo
que se passou nesses 30 dias de janeiro em Fortaleza", afirmou.
Sobre
os ataques, ela explica que ter sido impactada pela insegurança a deixou
sensibilizada. "Tive a experiência de ser privada de andar no Vila Velha
por conta de toques de recolher onde mora minha mãe, a mesma (minha mãe)
relatava atos como apedrejamento nas lâmpadas da rua para que a mesma ficasse
escura e o fechamento das mercearias. Essa experiência é revoltante e me deixou
sensibilizada", disse.
Para
André Peixoto, a conduta da seguidora ao fazer o comentário foi inadequada com
consequências que poderiam ser graves. "O comentário incita o dano à
propriedade privada", diz. O professor W Gabriel relembra campanha
europeia Think before you post. Em livre tradução, Pense Antes de Postar.
"Eu
costumo dizer que se vai postar algo e quer saber se é apropriado, pode pensar:
Se você pregasse essa mensagem ou comentário num poste público em frente à sua
casa você sentiria vergonha? Se não, tudo bem. Agora, se há problema, é melhor
não postar porque isso pode causar um dano", conclui.
O
QUE DIZ A LEI:
A
lei 12.965, que regulamenta o uso e provimento da internet no Brasil, garante a
liberdade no ambiente virtual mas sempre pautada nos termos da Constituição
Federal
Art.
3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I
- garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento,
nos termos da Constituição Federal;
II
- proteção da privacidade;
III
- proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV
- preservação e garantia da neutralidade de rede;
V
- preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de
medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao
uso de boas práticas;
VI
- responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da
lei;
VII
- preservação da natureza participativa da rede;
VIII
- liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não
conflitem com os demais princípios estabelecidos na Lei.
Com
informações portal O Povo Online
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