A
Procuradora Geral da República tem defeitos e virtudes. Os
defeitos, dizem, são de temperamento; as virtudes são de caráter. É fechada,
centralizadora, discretíssima e tem pouca visão de estratégias políticas. Por
outro lado, é técnica, correta, ciosa do interesse público e, especialmente, do
papel institucional do Ministério Público. Em
nome dessa defesa do MP, varreu para baixo do tapete os erros gigantescos
cometidos pelo antecessor Rodrigo Janot e pela Lava Jato.
E
deixou para o último instante o questionamento da excrescência da fundação de
direito privado financiada pela Petrobras, em cima de um acordo com autoridades
norte-americanas. Só a questionou quando começaram a brotar críticas na
imprensa, em uma demonstração da falta de timming sobre o momento de demonstrar
sua coragem.
Nessa
fundação está a chave da questão, para entender uma série de ações nebulosas de
Janot e da Lava Jato nos Estados Unidos.
Ouça
a explicação de Dallagnoll. Segundo ele, não se está tirando dinheiro da
Petrobras, mas apenas impedindo que o valor da multa fique nos Estados Unidos.
Diz
também que, como a União é controladora da Petrobras, as autoridades americanas
não permitiriam que ficasse com os recursos das multas. Trata a Lava Jato como
se fosse a legítima representante, no Brasil, dos interesses das autoridades
judiciais americanas, que não confiariam sequer no estado brasileiro.
Há
outras fakenews no discurso. Por exemplo, o acordo não está condicionado à
criação de uma fundação. Fala em reparação de direitos difusos. E não aponta
qual o direito difuso a ser reparado. Além disso, há um Fundo dos Direitos
Difusos Lesados, que impede que o Tesouro se aproprie dos recursos.
Falsifica
os fatos, também, quando minimiza a influência da Lava Jato na fundação. Caberá
aos procuradores e ao juiz escolher as organizações que farão parte do
Conselho, assim como colocar representantes em cada área e dar um enorme
impulso à indústria do compliance, que terá nos procuradores da Lava Jato os
consultores especializados.
Não
é a parte mais grave da história.
Vamos
entender melhor a partilha do que pode ser chamado de “o golpe do século”, em
relação a Petrobras.
A
montagem do golpe do século
Coube
a Ellen Gracie, ex-Ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) traçar a
estratégia do acordo da Petrobras com a SEC (a CVM americana) e com o Departamento
de Justiça (DoJ).
Ao
mesmo tempo em que se iniciavam as tratativas, Janot e o grupo da Lava Jato
foram pessoalmente aos Estados Unidos compartilhar provas e delatores contra a
Petrobras.
Com
essa estratégia, a Petrobras deixou de ser tratada como vítima para se tornar
ré: esta foi a chave do golpe. Por aí se entende, também, o desmonte implacável
da imagem da Petrobras pela Lava Jato.
Foram
dois os motivos das quedas nas cotações da Petrobras:
1. A
queda nas cotações internacionais de petróleo, que afetou todas as petroleiras.
2. A
expectativa das multas a serem aplicadas pela SEC e pelo DoJ à Petrobras, em
função da estratégia de acordo delineada. Ou seja, parte da queda no valor das
ações da Petrobras tem relação direta com a estratégia encampada pela PGR de
Janot somada à campanha para apresentar a Petrobras como a empresa mais
corrupta do planeta.
As
propinas não tiveram peso algum nos resultados da Petrobras, porque embutidas
nos preços dos contratos e irrisórias perto do faturamento da empresa. Tudo
isso poderia ter sido demonstrado para rebater as pretensões dos escritórios
que decidiram processar a Petrobras.
Além
disso, aqui mesmo, nosso colunista André Araújo mostrou caminhos alternativos
que poderiam ter sido trilhados para evitar essas multas, passando pelos
acordos diplomáticos governo a governo.
O
acordo abriu espaço para um enorme butim, acertado entre três partes: a
Petrobras, através de seu presidente Pedro Parente, as autoridades
norte-americanas, e a Lava Jato. O butim foi dividido da seguinte maneira:
1.US$
2,95 bilhões para um acordo extrajudicial com os acionistas nos EUA, o triplo
das previsões mais otimistas de seus advogados. Parte relevante de honorários
para escritórios de advocacia. Tudo isso sem que a Lava Jato esboçasse uma
reação sequer.
2.US$
400 milhões para contratação de escritórios para atender às demandas do DoJ na
Petrobras. Depois da Petrobras, Ellen Gracie aplicou a mesma estratégia na
Eletrobras, alvo da Lava Jato em cima de informações trazidas por Janot na sua
visita ao DoJ. E graças às mudanças ocorridas na presidência e no Conselho da
empresa, ampliando enormemente o escopo de trabalho dos escritórios
contratados.
3.R$
2,45 bilhões para serem administrados por uma fundação montada e controlada
pela República do Paraná.
Reza
o acordo firmado:
A
cooperação da Petrobras incluiu a realização de uma investigação interna
minuciosa, compartilhamento proativo em tempo real de fatos descobertos durante
a investigação interna e compartilhamento de informações que não estariam
disponíveis ao Departamento, fazendo apresentações regulares ao Departamento,
facilitando entrevistas e informações de testemunhas estrangeiras e coletando,
analisando e organizando voluntariamente volumosos evidências e informações
para o Departamento em resposta a solicitações, incluindo a tradução de
documentos-chave.
Por
aí se entende as inúmeras homenagens recebidas pelos bravos integrantes da Lava
Jato nos principais centros de lobby dos Estados Unidos e do mundo.
Agora
se chegou a um ponto de não retorno, que exigirá da PGR e dos Ministros do STF
uma determinação que até agora não demonstraram, em defesa da
institucionalidade brasileira, e para impedir a desmoralização final das
instituições e a intimidação pelo uso das milícias paraestatais
Publicado
originalmente no portal GGN
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