O bloco Doido é Tu passou de iniciativa dentro dos CAPS da Capital para a avenida (Foto: Mauri Melo) |
O
Carnaval é época aguardada com ansiedade por muitos. Os adereços, o glitter e
as fantasias saem do armário. Contudo, há quem critique a festa como distração
para que os foliões não pensem sobre está acontecendo no País.
"O
Carnaval pode ser alienante porque as pessoas usam dessa forma. Por que eu não
posso usar de outra forma?", contrapõe o estudante Gabriel Farias.
Parte do bloco avulso Não é Fácil ser Eu, que sairá pela primeira vez com o
tema "Jesus na goiabeira", uma referência a fala da ministra da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
"Muitas
coisas na nossa vida são atos políticos. Se fantasiar também pode ser um ato
político de mostrar uma indignação com uma coisa que está acontecendo no
País", concorda a estilista Marianna Calixto, 24, que utilizou como
fantasia o Kit Gay, uma das falsas notícias divulgadas contra Fernando Haddad
(PT) durante a campanha eleitoral.
A
festa não se contrapõe a discussão de temas sérios. Pelo contrário, ajuda a
trazer para perto questões que são lutas diárias para quem integra blocos de
rua e maracatus.
"Uma
coisa faz parte da outra, não se separa. A gente faz movimento negro dentro do
maracatu e maracatu dentro do movimento social negro", relata o presidente
do Maracatu Nação Iracema, William Pereira. O grupo irá cantar a força da
negritude enquanto atravessa a avenida Domingos Olímpio.
De
uma "luta constante", como William Pereira adjetiva, surge a vontade
de colocar em prática a resistência. "Não tem nada separado, é uma coisa
dentro da outra. Dentro do maracatu a gente faz a política cultural, de
condições de moradia, de busca de identidade", explica.
Sem
financiamento público, o bloco Carnaval no Inferno se coloca na rua com o
desejo de reivindicar espaço em uma sociedade que ainda exclui. "Os nossos
corpos são nomeados como demônios, bixa, sapatão, que são aplicados
pejorativamente, mas a gente tenta se apropriar deles para fazer protesto
também", explica Natália Moura, integrante do grupo desde a criação, em
2017.
A
busca por espaço em uma cidade ainda excludente para corpos dissidentes da
"cis-heteronormatividade" levou o bloco para a rua. "É um
protesto por ter nosso corpos nos espaços que normalmente nos foram negados.
Atrelar isso a festa é a forma que encontramos de falar sobre isso",
afirma.
O
bloco Doido é Tu passou de iniciativa dentro dos Centro de Atenção Psicossocial
para a avenida, onde começou a desfilar em 2006. A terapeuta Danielle Bargas
integra o bloco há três anos e explica o tema escolhido para esse ano:
"Manicômio nunca mais!". "O nosso bloco é formado por usuários
da saúde mental. Muitos dos brincantes do nosso bloco trazem no seu corpo e nas
suas emoções as marcas da política manicomial", ressalta.
O
tema faz referência a portaria criticadas por muitos especialistas da área.
"Não só a gente afirma que manicômio nunca mais, como a gente desfila uma
outra possibilidade. O Doido é Tu é uma metodologia de saúde mental",
defende ela.
O
historiador Carlos Henrique Barbosa explica que o Carnaval possui
"potencial político de dar visibilidade a questões sociais e
políticas". "O que emerge tem uma potencialidade, porque a gente vive
no carnaval um momento de inversão. Muitas vezes aqueles que não têm cotidianamente
o poder da fala, durante o Carnaval tem esse poder", afirma.
Com
informações portal O Povo Online
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