9 de fevereiro de 2019

Política nova? Regina Ribeiro

No início da semana, o administrador de empresas e advogado, Geraldo Luciano, escreveu um artigo, na página aqui ao lado, com o título "Um adeus à velha política?" O texto traz pelo menos duas possibilidades de mudança e uma certa esperança de que as coisas na política devem estar em rota de alteração, diante da alta consciência do eleitorado. Um dos exemplos de postura positiva é o caso do senador Eduardo Girão que, ao assumir o Senado, teria dispensado "regalias, privilégios e cortado o número de assessores". Não há nada demais nisso. O senador Eduardo Girão não faz mais do que sua obrigação em arcar com os compromissos de campanha. Antes disso, seu discurso sempre foi embasado na "valorização da vida, na construção da paz e no exercício da ética". Seria de estranhar que mal chegando ao Senado, esse homem abolisse todo o seu discurso.

No mais, quase tudo nesse governo já me parece atrasado e ultrapassado. Mesmo o pessoal da escola de Chicago, de quem eu esperava um mínimo de propostas inteligentes e concretas para o País, às vezes, tenho a sensação de que eles estão perdidos e não conseguem entregar nem o rascunho da pauta econômica. No campo da política, Daniel Queiroz, Flávio Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio dão provas de que mudança mesmo só a descoberta do potencial do WhatsApp na campanha política. E o blá-blá-blá do presidente nas lives falando duas ou três bobagens para devotos.

Quer algo mais ultrapassado que o discurso do ministro da Educação? O homem quer restaurar Moral e Civismo nas escolas, quando deveria estar preocupado com robótica, inteligência artificial e ética num mundo pós-humano, que é justamente o ambiente que os meninos de hoje vão viver. Chamar jovens brasileiros de "canibais" e ladrões de hotéis quando viajam foi de uma ausência completa de elegância. Tem menino levado da breca em todos os continentes, mas isso nunca será uma unanimidade. Os meus filhos, até o momento em que escrevo este artigo, nunca trouxeram para casa nem pacotinho de açúcar de restaurante de aeroporto. Eu fiquei me perguntando como um discurso consegue ser tão pobre, vindo de um ministro. De Educação. Mas o pior é este gestor público considerar que a "Universidade não é para todos e, sim, para uma elite intelectual", pois "nem todos estão preparados para ela". Então, é o Ministério da Educação do Brasil que vai dizer - e escolher - quem é essa elite intelectual? Voltamos ao século XV?

Quando o discurso não é atrasado demais é descompassado como o do responsável pela Secretaria Especial da Desburocratização, Paulo Uebel, que promete restringir concursos, e cortar 21 mil cargos digitalizando praticamente todos os processos dos órgãos públicos, subtraindo funções presenciais e substituindo tudo pela Internet. Isso é ótimo nas universidades. Mas ainda há um contingente imenso de pessoas semi-analfabetas e completamente analfabetas digitais que poderão ficar ainda mais distantes do serviço público. O Estado existe para servir ao cidadão, promover bem estar e justiça social por meio de políticas eficientes. Pobre desse governo que posa de entender muito de "tudo", mas não sabe nada sobre "todos".

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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