Vista parcial do Açude Castanhão em 2009 (Foto: Arquivo Jornal O Povo) |
Sangria
de grandes açudes, inundações, boas colheitas e transtornos. Esse foi o cenário
vivido no Ceará há dez anos: 2009 entrou para a história do Estado como o
último ano de grandes cheias, com chuvas muito acima da média e açudes
transbordando. Naquele ano, as precipitações registraram média 53,1% maior que
a histórica. Observou-se 1.125,7 milímetros (mm), de acordo com a Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). E foi o suficiente para
render segurança de água ao sertanejo por alguns anos. A quadra chuvosa que
começa neste 1º de fevereiro não suscita a mesma esperança.
Mesmo
com o prognóstico de 40% de chances das chuvas serem em torno da média
histórica para os meses de fevereiro, março e abril de 2019, a preocupação com
a matriz hídrica é alta. O cenário não é confortável, com o sistema começando a
quadra com 10,46% do total possível.
A
cheia dos principais e maiores açudes do Estado (correspondentes a 60% da
reserva), Castanhão, Orós e Banabuiú, só seria possível com chuvas intensas e
concentradas. A previsão para a região Centro-Sul, onde alguns deles ficam
localizados, no entanto, é de precipitações abaixo da média.
Conforme
Raul Fritz, meteorologista da Funceme, as chuvas de 2009 contribuíram para
garantir reservas hídricas e fazer o Estado atravessar o período de seca.
"Mas, já faz dez anos, e a gente espera que algum ano semelhante venha
para voltar a recuperar nossa reserva de água. Estamos precisando de um ano
muito chuvoso", define.
Inaugurado no fim de
2003 e com sua primeira sangria em 2004, o açude Castanhão, na Região
Hidrográfica do Médio Jaguaribe, em 2009 teve todas suas comportas abertas e
encheu quase totalmente sua capacidade de 6,7 bilhões de metros cúbicos (m³). O
maior reservatório do Ceará começou aquele ano já com 79,61% de seu potencial
em janeiro. O ápice se deu em maio, último mês da quadra chuvosa: 97,82% era o
volume do açude no dia 16 de maio de 2009, segundo relatórios da Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Hoje, o Castanhão está com apenas 3,77%.
Com
o auge das precipitações, a preocupação também roubou a cena. À época, O POVO
percorreu a Região Norte do Ceará, a mais afetada pelas enchentes e encontrou
cidades inundadas, famílias desabrigadas e plantações perdidas. Em Santana do
Acaraú, a 240 km de Fortaleza, 70% da safra plantada foi perdida. A situação se
alastrou. Em junho de 2009, 133 dos 184 municípios cearenses haviam decretado
estado de emergência.
Devido
às intensas chuvas de 2009 e 2011, o cearense ficou na "zona de
conforto", de acordo com o titular da Secretaria dos Recursos Hídricos
(SRH), Francisco Teixeira. "O início dos anos 2000 foi muito importante no
quesito chuva e recursos hídricos. Em 2004, o Castanhão teve a primeira sangria
após somente 40 dias de inauguração. Nos anos seguintes, as chuvas seguiram na
média e veio 2009 e 2011. Ganhamos quase uma década de conforto", reconta
o secretário.
Em
2009, o Estado ainda vivia os reflexos de 2004, ano em que choveu 1.038,7 mm e
teve "praticamente todos os açudes cheios", segundo Francisco
Teixeira.
Àquela
época era comum ter mais de 100 reservatórios sangrando. "Hoje em dia,
sangra oito, dez açudes e a gente já tá comemorando. O sertanejo fica muito
ansioso. O que é ruim é a estiagem", comenta o secretário.
Hoje
a quadra chuvosa tem início. A situação em nada lembra 2009 e preocupa o
cearense. Dos 155 açudes monitorados pela Cogerh, 105 estão abaixo de 30% da
capacidade. E tem sido assim nos últimos anos, após estiagem que o Estado
atravessa faz sete anos.
Francisco
Teixeira, pelo histórico do semiárido, aponta que períodos de estiagem para o
Ceará são comuns. "Temos chuvas muito irregulares. Isso serve mais como um
ensinamento: mesmo em períodos de abundância, tem de ter política de recursos
hídricos", pondera.
É
preciso olhar para o futuro e continuar a administrar com cuidado os recursos.
Teixeira atenta para a manutenção do três pilares da gestão de água: tecnologia
para previsões melhores, economia de água e diversificação da matriz hídrica.
Com
informações portal O Povo Online
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