Daquele
tempo em que vc xingava sem reservas, ameaçava mulheres, defendia torturas,
atacava negros, gays, indios… e nada acontecia.
Tá
bom… acontecia sim, uma frágil indignação da platéia que vc amava indignar.
Saudade
do tempo em que vc era o escroto folclórico, o insano inconsequente, o raivoso
brincalhão e o mito para os iguais. Vc era o mito!!
Saudade
do tempo em que vc pedia impeachment aos berros e com isso se sentia dono do
mundo, o inatingível, o guerreiro sedento por guerra.
Do
tempo em que era o discípulo homenageando o herói torturador e assim ganhava,
no máximo, matérias assustadas. E vc amava assustar.
Saudade
do tempo em que vc, do baixo clero, podia ser o ladrão invisível, o corrupto
disfarçado, a reserva imoral, a mentira deslavada. E nada acontecia. Ah quanta
saudade, hein Jair!!
Saudade
do tempo em que podia roubar sem ninguém ver, empregar fantasmas ao bel prazer
e distribuir dinheiro público com a família sem ninguém perceber. Vc era a
insignificância produtiva.
Saudade
do início do estrelato. Saudade dos gestos de armas. Saudade de ser carregado.
Saudade de provocar petistas, ciristas, comunistas, socialistas e até
capitalistas. Sim, vc já foi nacionalista, embora não conseguisse cantar o Hino
Nacional.
Saudade,
saudade de honrar a bandeira americana e receber tapinhas de “meu querido
escravo”.
E
faz tão pouco tempo, não é?
Agora
vc olha pro lado e vê uma traira. Olha pra trás e vê uma arma engatilhada. Olha
pra frente e vê o precipício.
Agora
vc está diplomado presidente do maior país da América Latina. Um gigante que
enxerga vc como a formiga miúda e vc olha pro gigante como uma célula
intestinal.
Agora
vc nem tem mais família. A familia Bolsonaro virou sinônimo de falcatrua.
Então, Jair, isola a família.
Sua
família oficial vai vigiar seus passos com chicotes de 4 ou 5 estrelas. Sua
família oficial vai massacrar seus dias e noites com tarefas oficiais que vc
odeia, odeia, odeia.
Trabalhar,
Jair, nunca foi seu forte.
Agora
vc vê os filhos fugirem das redes com medo do povo. Agora vc tem medo até do
seu povo. E medo de abrir a boca, quem diria, vc que era um boquirroto
incansável.
Seu
silêncio durante o Hino Nacional foi esse medo da boca, não foi Jair? Abrir a
boca é um perigo, disseram a vc. E vc tem saudade até disso, bons tempos da
boca aberta sem medo da língua.
E
comer porcarias? Nunca mais, Jair. Beber água, tomar suco de caixa, uma pinga,
nunca mais.
Porque
seu medo chegou à comida. E comida é boca!
Vc
precisa de provadores. Vc precisa de seguranças, 12 mil. Vc precisa de
vigilantes, vc precisa de sono. Vc precisa sumir. Dá vontade de sumir, não dá
Jair?
E
pensar que tudo o que vc queria era brincar de super herói.
Publicado
originalmente no blog do Gustavo Horta
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