O
início do governo Jair Bolsonaro é claramente uma extensão da campanha
eleitoral encerrada no último mês de outubro. Um discurso mais comedido em
espaços institucionais e outro radicalizado para a plateia. A dúvida que ainda
paira é saber qual das duas versões dará a linha dos próximos quatro anos de
mandato.
O Bolsonaro que tomou posse no Congresso Nacional, no dia 1º, falou em "um verdadeiro pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário", destacou o "compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão". Era face, em certa medida, da sensatez.
O Bolsonaro que tomou posse no Congresso Nacional, no dia 1º, falou em "um verdadeiro pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário", destacou o "compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão". Era face, em certa medida, da sensatez.
O
Bolsonaro que surgiu no Parlatório do Palácio do Planalto, já de faixa
presidencial, era outro, disposto ao confronto, preparado para uma guerra.
Falou em "libertar o povo do socialismo e do politicamente correto" e
voltou a afirmar que nossa bandeira "jamais será vermelha" - como se
em algum dia tivesse chegado perto disso -, só mudando de cor caso seja
"preciso nosso sangue para mantê-la verde e amarela". Ou seja, o
desejo parece o de manter a divisão do País e discriminar quem pensa diferente.
Era a face, em certa medida, da irracionalidade.
Assim
como na disputa pela Presidência da República, Bolsonaro cria "moinhos de
vento" para chamar de inimigos, numa batalha ideológica que não o levará a
lugar nenhum. Perda desnecessária de energia para um momento que exige
respostas rápidas e concretas. Afinal, qual a necessidade de criar uma Guerra
Fria tupiniquim em pleno século XXI? Essa estratégia só pode ser compreendida
caso o presidente queira criar uma cortina de fumaça para esconder as
fragilidades da nova gestão, o que torço para que não seja o caso.
O
que Bolsonaro precisa fazer, de fato, é criar um ambiente de estabilidade e
construir pontes, ao invés de implodi-las em tão curto espaço de tempo. Seu
papel, como estadista, é se predispor ao diálogo, o que não significa dar o
braço a torcer para seus adversários. O chefe do Executivo já tem o poder em
mãos. Não há mais necessidades de criar picuinhas ou algo que o valha em troca
de holofotes. Popularidade não lhe falta. Para mantê-la, entretanto, é preciso
ir além das frases feitas e seguidamente repetidas. A hora é de sentar na
cadeira e trabalhar, apresentar resultados.
Entretanto,
além das frases já destacadas, algumas medidas tomadas logo nos primeiros dias
de governo mostram que Bolsonaro não está muito perto de descer do palanque e
bem longe de criar um clima de paz e tranquilidade. Ao invés de tentar acabar
com a pecha de homofóbico, o ex-parlamentar edita Medida Provisória que retira
a população LGBT da lista de políticas e diretrizes destinadas à promoção dos
Direitos Humanos. Ao invés de mudar a imagem de um homem que é contra os
índios, o presidente resolve esvaziar a Funai, retirando do órgão a tarefa de
identificar, delimitar e demarcar terras indígenas no País. E onde foram parar
essas atribuições? No Ministério da Agricultura. Pasmem!
Caso
siga essa toada, Bolsonaro não poderá se espantar caso as ruas, em pouco tempo,
sejam palco de protestos. Naturalmente eles virão. E sabe Deus como nosso
presidente irá lidar com eles.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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