Bolsonaro participa do Foro Econômico Mundial em Davos (Foto:Fabrice Coffrini) |
Opções
extremas se viabilizam em épocas de crise e Jair Bolsonaro (PSL) se tornou
presidente devido à crise ética que varreu a política brasileira. A sucessão de
escândalos gradualmente minou todo o sistema político tradicional. O hoje
presidente, a despeito de estar lá há bastante tempo, apresentou-se como
diferente disso tudo. A perspectiva de mudança, de novo padrão ético, elegeu
Bolsonaro. A sinalização era de postura implacável, com punição doa a quem
doer. Esse comportamento tem como preço a cobrança redobrada contra quem o
pratica. O PT também era arauto da moralidade e, no governo, não entregou a
mercadoria que vendeu.
Ontem,
fez três semanas desde que Bolsonaro tomou posse. Deu tempo de perceber que o
rigor do candidato não é o do presidente.
Desde
antes da posse, desenrola-se o cada vez mais enrolado caso de Fabrício Queiroz,
ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), senador eleito e filho mais velho do
presidente. Oficialmente, é tratado como problema de Flávio. Na prática, ele é
filho de Bolsonaro. Difícil fazer essa separação de forma absoluta.
Bolsonaro
fez a mistura. Tem nos filhos conselheiros, porta-vozes, parceiros na política.
Participam das decisões de governo. Eles foram determinantes na condução da
campanha. O presidente se elegeu em família e governa em família. Levou a
família para dentro do Palácio. Com os eventuais bônus e os óbvios ônus.
Pela
própria postura de Bolsonaro, a crise de Flávio é do governo, também. E aí vem
problema do presidente. Não há explicação rápida, esclarecedora. Pelo
contrário, Queiroz, a família dele e o próprio Flávio deram jeito de não
prestar depoimento. A família esculacha a imprensa, mas preferiu dar as
explicações a emissoras de televisão simpáticas e não ao Ministério Público,
uma instituição de Estado. As respostas foram capengas e perguntas deixaram de
ser feitas. A explicação ficou débil.
Flávio
também foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar as investigações e
obteve liminar. O senador eleito também se movimenta para ser julgado no STF,
protegido pelo foro privilegiado. Em abril de 2017, Bolsonaro gravou vídeo ao
lado de Flávio no qual dizia: "Não quero essa porcaria de foro
privilegiado".
Três
semanas foram suficientes para perceber que o padrão do tratamento do entorno
de Bolsonaro com corrupção não é diferente do governo Michel Temer (MDB), não é
diferente dos governos do PT. Os métodos são tristemente iguais. O silêncio de
Sergio Moro é eloquente.
Bolsonaro
perdeu grande oportunidade, antes mesmo da posse, de demarcar a diferença. Duas
semanas antes da posse, o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) foi condenado
por improbidade administrativa, acusado de fraude quando era secretário em São
Paulo. Após a eleição, Bolsonaro havia escrito no Twitter: "Nossos
ministérios não serão compostos por condenados por corrupção, como foram nos
últimos governos". Poderia haver ali a demarcação. Poderia mostrar que não
aceitaria condenado em seu governo. Que cumpriria com o que escreveu.
Bom
exercício é tentar projetar o que diria Bolsonaro do atual episódio estivesse
ele na oposição e outro no poder. Fosse, por exemplo, o filho do Lula. Como
reagiriam Bolsonaro e apoiadores?
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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