Em entrevista Bolsonaro elogia Moro e critica Camilo (Imagem capturada de video da TV Diário) |
O
governo Jair Bolsonaro (PSL) demonstra duas posturas distintas em relação à
crise no Ceará. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o
secretário nacional de Segurança Pública, general Guilherme Theophilo,
mostraram abertura, postura de colaboração e disponibilidade. Rapidamente
disponibilizaram apoio e autorizaram o envio da Força Nacional. Foi a esfera
técnica e a postura foi irretocável. Já na política?
O
presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o vice-presidente, general Hamilton Mourão
(PRTB), tiveram postura inadequada, como não se dando conta de que já estão nas
funções para as quais foram eleitos. O presidente disse: "Ele (Moro) foi
muito hábil, rápido e eficaz para atender ao Estado, cujo governador reeleito é
uma oposição radical à nossa".
Bolsonaro
prossegue: "Nós jamais faremos oposição ao povo de qualquer estado. E o
povo do Ceará precisa nesse momento. As medidas já foram tomadas. Faltava por
parte do governo do Ceará se enquadrar, e via ofício informar, da real
necessidade da presença da força pela sua incapacidade de resolver o problema".
Já
Mourão, segundo o site O Antagonista, chutou o balde para a lua. "O
problema é do governador, que sempre tratou mal a PM. E pelas informações que
recebemos, 40% do efetivo da polícia está de férias agora. Como ele pode deixar
isso?". Completou: "Ele quer jogar no colo da gente. É a velha tática
do PT".
Bolsonaro
confunde as coisas e Mourão erra feio. O presidente faz menção descabida ao
fato de ser governo opositor. Na esfera administrativa, na relação federativa,
isso não deve vir ao caso, jamais. Dizer que não fará oposição ao povo de
nenhum estado não é favor, é obrigação. Nem é novidade.
Presidentes
e governadores sempre trataram de tentar preservar relações federativas, sem
prejuízo de divergências políticas. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tinha
ótima relação com Zeca do PT, do Mato Grosso do Sul. Quando era governador de
Minas Gerais, as pessoas esquecem, a relação de Aécio Neves (PSDB) com Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) era também muito boa.
E
nem precisam gostar uns dos outros. O Governo Federal tem atribuições nos
estados. Governadores devem demandar a União, dentro dos papéis institucionais.
Não me recordo de o presidente da República politizar de tal forma a relação
administrativa com Estado, ressaltando como mérito o fato de não praticar
preconceito ideológico.
Quanto
a Mourão, errou a mão feio. Nem discuto se o diagnóstico está certo ou errado.
Ele é vice-presidente da República. Não condiz com sua função comprar briga com
governador de Estado em crise, no quarto dia de mandato. Que belo cartão de
visitas! E politiza a questão de modo que Bolsonaro diz não fazer. "Ele
quer jogar no colo da gente. É a velha tática do PT". O PT tem tática de
jogar as coisas no colo do Bolsonaro? O partido estava na Presidência até 2016
e Bolsonaro era deputado. O que jogava no colo dele? Não tem nem lógica.
O
governo Camilo errou? Claro que errou. É o quatro ano de mandato, sucedendo
oito de governador aliado. Se chega a tal situação não é como resultado de
trabalho exemplar. É até pertinente que o novo Governo Federal aponte os
problemas que vê numa questão na qual foi chamado a intervir. Mas isso precisa
ser conversado. Não cabe em bravata para a plateia. No calor da crise, o
momento é de resolver.
Como
escrevi ontem, o segundo governo Camilo tem teste que pode definir, desde já, o
sucesso ou fracasso do mandato inteiro. A depender da resposta que for capaz de
dar. Mas o governo Bolsonaro também está em teste. Muita gente, inclusive no
Ceará, votou nele na esperança de ter mais segurança. Também é primeira
situação na qual precisará mostrar como irá se portar.
Nada
que Bolsonaro disse é tão inusitado quanto a acusação de que Camilo faz
"oposição radical". Logo ele, mais conciliador político cearense em
décadas. O que por vezes vira até defeito.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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