Imagem capturada do Jornal Nacional da Rede Globo |
A
população optou pela continuidade da guerra quando decidiu colocar Bolsonaro e
Haddad no segundo turno. Quem tentou apelar ao bom senso virou suco. A
Globo vive um momento delicado e iniciou o ano empurrada para o ringue. Seu
modelo de negócio é alvo do ataque das novas mídias. A Globoplay é uma
tentativa desesperada de enfrentar gigantes como a Netflix.
Bolsonaro
foi à guerra. Fez em 15 dias o que o PT não fez em 13 anos. O famoso “fica
tranquilo que eu resolvo com o João (Roberto Marinho)”, que Zé Dirceu
pronunciava durante as reuniões do comitê de crise no Planalto, parece não
fazer parte do cardápio do novo governo.
O
Capitão abriu fogo. Para se comunicar usa os concorrentes Twitter, Record e
SBT. Anunciou que irá reduzir os recursos para a mídia tradicional e que
acabará com a famosa “bonificação por volume”, mecanismo que faz a Globo
engolir os recursos do mercado publicitário.
Pra
completar, o Planalto articula a nova CNN Brasil para disputar o nicho da
Globonews. Seus sócios são Edir Macedo e empresários amigos do clã.
É
cedo para dizer qual será o desfecho desta batalha. Há espaço para um acordo?
Não parece haver divergência no conteúdo do projeto. Bombeiros sempre aparecem
quando fica claro que morrerão todos na guerra. Por enquanto, parecem medir
forças.
Por
isso é muito cedo também para decretar o fim do governo. Lembram do “Temer não
dura seis meses”? A situação é delicada, não há dúvida. Mas quem está
interessado de verdade na queda de Bolsonaro? Derrubá-lo para colocar quem no
lugar? Com qual projeto?
O
destino de Bolsonaro nada tem a ver com a consistência das denuncias contra
Flávio. O futuro está ligado à capacidade política do Planalto de pacificar o
bloco de poder que, direta ou indiretamente, o fez subir a rampa. Não é absurdo
acreditar em soberba e suicídio infantil. Mas a realpolitik pode acabar se
impondo também.
Rodrigo
Maia e Renan comemoram. As denúncias enfraquecem o governo e trazem o
presidente para o mundo dos mortais. Colocam o parlamento no centro do jogo. O
Senado terá a denúncia contra Flávio nas mãos. A Globo parou de atirar em
Renan. Coincidência?
Moro
vive seu inferno astral. Seu capital político ainda é enorme, mas nunca esteve
tão ameaçado. Como virar o campeão da moralidade se não consegue ir ao
supermercado sem ouvir “E o Queiroz?” Se a situação piorar viverá o dilema de
abandonar o barco ou segurar as pontas agarrado à promessa de sua vaga no STF.
O
núcleo militar acompanha preocupado. Sabe que parte do desgaste pode acabar na
conta das instituições militares. O general Mourão está ali para qualquer
“eventualidade”.
Paulo
Guedes passa a ser o maior fiador do governo. O mercado está eufórico. A Bolsa
virou uma festa rave. Se a reforma da previdência for aprovada tudo será
esquecido. O que são alguns milhões do Queiroz perto do bilionário mercado de
previdência privada?
Bolsonaro
é apenas a mula que fez o capital financeiro chegar ao poder. Se o animal
fraquejar na travessia, trocar de montaria é sempre uma opção, desde que não
mude o rumo.
O
campo progressista, dividido e isolado, continua como coadjuvante numa luta sem
sentido pela liderança da derrota. A necessária Frente Ampla é um sonho
distante.
O
canhão da Globo continua poderoso. A luta pela sobrevivência desperta os
instintos mais agressivos. O desfecho deste capítulo ditará o rumo dos próximos
acontecimentos.
Haverá
um acordo? Quem recuará? O campo conservador ficará observando a luta
fratricida que pode colocar em risco seus interesses estratégicos? A única
certeza é que a instabilidade continuará a ser o sobrenome do Brasil, por um
longo tempo.
Publicado
originalmente no portal Vi o Mundo
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