Em Minas Gerais, cerimônia teve discussão e até agressões (Foto: Reprodução TV) |
Quase
dois meses após o fim das eleições, o acirramento político que marcou a
campanha ganhou novo fôlego. Em alguns estados, o palco do retorno dos embates
ideológicos foram as diplomações dos candidatos eleitos, cerimônias
institucionais organizadas pelos tribunais eleitorais, mas que este ano ganharam
um contorno político inédito: cartazes, livros, gritos de guerra, vaias,
xingamentos e até agressões físicas protagonizaram as cerimônias.
Cientistas
políticos ouvidos pelo jornal O POVO avaliam que, embora a polarização ideológica
vivenciada nas eleições não tivesse arrefecido totalmente, ela tinha amenizado.
O que serviu de ingrediente para elevar a temperatura foi a decisão do ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, de soltar todos os
presos com condenação após a segunda instância, o que atingiria o ex-presidente
Lula (PT).
O
ato de Mello, na última quarta-feira, 19, durou apenas algumas horas até ser
derrubado pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli, mas foi o suficiente
para marcar as diplomações de estados como Minas Gerais e Ceará, para onde
deputados petistas eleitos levaram faixas e cartazes com os dizeres "Lula
livre".
Em
Minas Gerais, onde o cerimonial do evento proibiu tais manifestações, o
deputado federal eleito Cabo Junio Amaral (PSL) tentou arrancar um cartaz das
mãos do outro deputado Rogério Correia (PT), gerando agressões físicas. No
Ceará, teve cartaz em favor de Lula e até livro: o deputado federal Heitor
Freire (PSL) escolheu o "A Verdade Sufocada", do Coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-CODI durante a ditadura militar.
"Esse
foi um ano muito violento na política. Então, quando praticamente no final do
ano o ministro Marco Aurélio toma essa decisão jurídica, ele acaba elevando a
temperatura de um caldeirão que já estava quente. A verdade é que o clima nunca
arrefeceu totalmente, mas estava em um nível suportável", avalia o
cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
Prando
acredita que o clima pode esquentar ou esfriar a depender da postura do
presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). "Se ele abrandar o discurso, tirar
as roupas de candidato e portar-se como presidente, talvez a gente possa voltar
a um nível suportável de divergência política sem que ela descambe para a
violência", concluiu.
Já
Adriano Gianturco, professor de ciência política do Ibmec-MG, avalia que essa
tensão política é "natural" e que, inclusive, "já era prevista,
imaginada". Ele admite, porém, que, se comparadas aos anos anteriores, as
diplomações refletiram a polarização atual. "Na política, é normal que exista
isso. O normal é que política seja conflito, e não diálogo como alguns gostam
de dizer", afirma.
Questionado
se esse clima será levado aos trabalhos do Congresso Nacional, ele afirma que é
provável que sim. "Em parte, a política é um palco. Esses papéis
continuarão a ser encenados. O que mudou é que agora há um novo embate, entre
direita e esquerda", diz Gianturco.
Com
informações portal O Povo Online
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