Após
incluir a Controladoria-Geral da União no pacote de corte de ministérios, o
presidente eleito Jair Bolsonaro deu sinais que pode voltar atrás a respeito
desta decisão anunciada na semana passada. O plano apresentado era
transformá-la em um órgão subordinado ao que seria o superministério da
Justiça, dirigido pelo juiz federal Sérgio Moro.
Segundo
o jornal Folha de S.Paulo, o ex-militar não está tão certo sobre o futuro da
CGU. Ele afirmou que "talvez seja mantido o status de ministério" do
órgão após encontro com dirigentes da Aeronáutica, na manhã da última quarta-feira (07/11).
O
futuro presidente havia prometido reduzir o número de ministérios de 29 para
algo em torno de 15 ou 17 durante sua campanha eleitoral. Após eleito, no
entanto, reconheceu que o número de cortes poderá ainda ser alterado.
A
possível extinção da CGU como ministério e órgão independente gerou incômodo
entre os servidores da pasta. Rudinei Marques, presidente do sindicato das
categorias que ali atuam publicou nota em que explicitou a preocupação com
cenário que estava apresentado.
"Causou
preocupação porque a normas internacionais de auditoria recomendam que o órgão
de controle interno tenha uma natureza jurídica e um posicionamento hierárquico
vinculado diretamente à Presidência da República. A função desse tipo de órgão
é monitorar a máquina do Estado para a correção de problemas e detecção de
falhas e irregularidades, combatendo a corrupção", explicou a
CartaCapital.
Entre
as principais funções da CGU está justamente a análise, avaliação com o
objetivo de detectar falhas e propor a ministros a aplicação de correções em
políticas públicas, como o Bolsa Família ou o Minha Casa, Minha Vida. Tal
processo, explica Marques, requer independência para que haja o diálogo com
diferentes ministérios e o atendimento às recomendações, inclusive o da
Justiça.
"Ficando
subordinada a pasta da Justiça, a CGU perde o poder hierárquico dos outros
ministérios de que as altas recomendações sejam acatadas. Foi por isso que, em
2001, saiu a decisão do Tribunal de Contas da União determinando a realocação
do órgão - que era antes uma secretaria do Ministério da Fazenda - e tivesse
uma independência funcional", afirma.
A
CGU não atua apenas no combate contra a corrupção. Muitos dos problemas em que
o órgão encara está em orientar os atores públicos que produzem a má gestão -
gerando ineficiência e descontinuidade dos programas de governo. "Colocar
a CGU numa caixinha da pasta da Justiça ignora que a perda de recursos públicos
estão também nesse ponto", pondera Marques.
Outro
temor dos servidores, relata o presidente do sindicato, está no fatiamento das
suas quatro macro funções: Transparência, Ouvidoria, Auditoria e Corregedoria.
Hoje elas atuam de forma integrada.
Um
exemplo prático: a partir do Portal da Transparência, um cidadão consegue
acompanhar para onde estão indo os recursos federais destinado a sua cidade.
Caso a pessoa note que determinada obra não está tendo continuidade como se apresenta
no portal, ela pode fazer uma denúncia na Ouvidoria.
Essa
denúncia - quando pertinente - provocará ação do setor da Auditoria que,
constatado irregularidade, acionará a Corregedoria que terá o papel de avaliar
os responsáveis pela infração e determinará sua punição civil e/ou
administrativamente.
"Ela,
subordinada a um ministério grande, é capaz de assumir uma posição sem
protagonismo ao invés de haver seu fortalecimento. É uma estrutura que está bem
e está funcionando bem. Mexer nela é uma incógnita sobre a forma ela seguirá
sendo", diz
Após
manifestação do presidente eleito, o Conselho Nacional do Sindicato informou a
Carta Capital que "avaliou como positivo o posicionamento externado pelo
presidente eleito, pois considera que o status de ministério garante a
independência funcional, imprescindível para o cumprimento de nossa missão
institucional".
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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