O
fim da cooperação cubana no programa Mais Médicos deve colocar os prefeitos no
Nordeste contra a parede, gerando um efeito cascata. Essa
avaliação é do sociólogo Cleyton Monte. Para ele, o déficit de profissionais de
saúde em áreas vulneráveis do País vai sobrecarregar as gestões municipais, já
alquebradas por conta da crise fiscal.
"O
Nordeste recebeu muitos médicos do programa, principalmente cubanos. As pessoas
vão sentir falta. Essa ausência vai criar uma pressão sobre os prefeitos",
afirma Monte, que também é membro do Conselho de Leitores do jornal O POVO. No
Ceará, 118 municípios eram atendidos por cubanos.
Para
o pesquisador, a demora no processo de contratação na administração pública
deve emperrar a reposição de vagas. "As prefeituras estão em crise
financeira, e os prefeitos vão procurar o governo federal, jogando o problema
para Bolsonaro", projeta. "Lembro que a gente tem eleição daqui a
pouco. Os gestores não querem ficar com esse buraco."
Professor
de Sociologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Francisco Farias avalia
que a saída de Cuba "dificulta o diálogo do presidente eleito com o Nordeste".
O docente pondera, no entanto, que "a lógica do Bolsonaro não é ganhar
esse eleitorado (dependente de programas sociais)".
Para
Clésio Arruda, cientista político da Universidade de Fortaleza (Unifor), o Mais
Médicos só se transformou num problema para Bolsonaro porque o pesselista ainda
não se despiu do figurino de candidato. "A campanha não acabou. O que se
esperava do presidente eleito era um discurso de apaziguamento, composição do
governo, mas isso não está acontecendo."
O
fim do regime de cooperação entre Cuba e Brasil para envio de médicos da ilha
caribenha abre uma lacuna difícil de sanar. Os cerca de 8,3 mil profissionais -
uma parcela deles já chegou àquele país - atendiam 2.885 cidades brasileiras,
somando 28 milhões de habitantes.
Em
1,5 mil delas, eram a única mão de obra disponível. São rincões com menos de 20
mil moradores aonde apenas os cubanos, os últimos da fila na distribuição de
vagas do Mais Médicos, aceitaram ir. Sem eles, é provável que essas localidades
voltem à situação degradante de 2013, quando o programa foi criado e a taxa de
médicos por mil habitantes no País era de 1,8 - a média no mundo ocidental é de
três.
Presidente
eleito, Jair Bolsonaro (PSL) tenta fazer crer que as condições impostas à
continuidade do Mais Médicos - parte delas só existentes no Brasil - tinham por
objetivo a melhora da condição laboral dos cubanos, nisso não interferindo
qualquer viés político.
A
ligeireza com que o capitão da reserva se voltou ao assunto tão logo as
eleições passaram, todavia, sugere que Bolsonaro, assim como no episódio da
indicação de um diplomata-ativista para o cargo de chanceler, orienta-se
sobretudo pela ideologia. Embora nem sequer tenha assumido a Presidência, o
preço a pagar é alto.
Para
as relações comerciais do Brasil, um ambiente de desconfiança, com rusgas
acumuladas com China, Mercosul e países árabes. Para a população brasileira,
principalmente a mais pobre, o custo é mais elevado ainda: é a própria saúde
que está em jogo a partir de agora.
Com
informações portal O Povo Online
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