Papa Francisco com fiéis no Vaticano, no dia da canonização do Papa Paulo VI (Foto: Reprodução/Vaticano) |
Você
provavelmente já ouviu falar em casos de preconceito e discriminação de pessoas
por conta de sua opção religiosa, não é mesmo? Esse fenômeno acontece no mundo
todo e está presente em quase todos os momentos da história. A religião, como
você deve saber, já foi e ainda é motivação para guerras e conflitos. A
intolerância religiosa atinge todas as crenças, mas a perseguição a
determinadas religiões é mais ou menos intensa conforme a região e a época.
Antes de mais nada, vamos entender quais são as principais religiões do mundo, quais dentre elas são as mais praticadas no Brasil.
No
mundo
A religião de maiores adeptos no mundo ainda é o cristianismo, que representa 31,2% da população mundial segundo dados da Pewreasearch. Em segundo lugar está o islamismo com 24,1% de adeptos e o terceiro maior grupo de pessoas é representado por aqueles que não possuem nenhuma religião, seguidos por hindus e budistas.
No
Brasil
No Brasil, segundo dados do Censo de 2010, 64,6% da população era católica, seguidos de 22,2% de evangélicos. Assim como no mundo, o terceiro maior grupo no Brasil é representado por aqueles que não têm religião. Em seguida estão “outras religiões”, o espiritismo, a umbanda e o candomblé.
Intolerância
religiosa na História
A história da intolerância religiosa é uma história de séculos. No Império Romano os católicos foram perseguidos. Na Idade Média, católicos perseguiram judeus e pagãos. No Brasil, os portugueses não aceitavam as crenças religiosas dos índios e os catequizaram e no período da escravidão, proibiam os negros de cultuar seus deuses. Esses são apenas alguns exemplos.
Segundo
o professor Antonio Ozaí da Silva, a raíz da intolerância está na transição das
religiões politeístas para as religiões monoteístas. Isso porque, ao reconhecer
a existência de um Deus único, as religiões deixam de aceitar a existência de
outros deuses – não se pode haver concorrência. É daí que surge a ideia de
guerra santa, isto é, a realização de conflitos para afirmar a concepção de um
Deus.
Para o professor, a intolerância é resultado do medo e insegurança e da necessidade do ser humano em possuir certezas, e conclui que ela é alimentada por grupos de poder e interesses. Por isso, para entender a intolerância a determinadas crenças, é necessário uma interpretação completa do contexto social, político e econômico.
Intolerância
religiosa no Brasil
O artigo 5º da nossa Constituição atual prevê que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Mas nem sempre foi assim. A Constituição de 1824, por exemplo, declarou oficial a religião católica no país e proibiu a realização de cultos públicos de outras religiões.
A partir da Constituição de 1891 houve a separação oficial dos assuntos religiosos e do Estado, ou seja, o país passou a ser laico. Isso significa que não é permitida a interferência de assuntos religiosos na atuação do Estado. A Constituição atual, além de manter a determinação de que o Estado é laico, garante a liberdade religiosa.
Apesar de nossas leis determinarem a liberdade religiosa, exercer uma fé pode não ser tão livre assim no Brasil. Considerada crime de ódio, manifestações de intolerância religiosa são comuns no país e ferem tanto a Constituição quanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Segundo o Disque 100 do Ministério dos Direitos Humanos, há em média, uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas no Brasil. Acredita-se que esse número seja maior, pois muitas ocorrências não são denunciadas.
Segundo dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos, de 2011 a 2014 foram feitas 504 denúncias de intolerância religiosa. As religiões mais atacadas foram as de matriz africana, umbanda e candomblé, em segundo lugar estão religiões evangélicas, e em terceiro, espíritas.
Intolerância
religiosa no mundo
É difícil encontrar um país onde não haja intolerância religiosa ou extremismo por parte de praticantes de alguma religião. A crença de que uma religião é legítima e deve se sobrepor à outras está relacionada à ideia de fundamentalismo religioso. Segundo Alex Kiefer, o fundamentalismo é resultado de uma interpretação equivocada que os fiéis fazem dos livros sagrados de sua religião. Hoje fala-se muito do fundamentalismo islâmico, que está associado a casos de violência e até terrorismo, mas a perseguição religiosa não é uma prática restrita a uma ou outra religião.
Em Myanmar, país vizinho da China e Tailândia, por exemplo, está acontecendo um genocídio já denunciado pela ONU de uma minoria muçulmana que vive na região, chamada rohingya. No Tibet, há um conflito entre os budistas e o Partido Comunista Chinês, que matou milhares de tibetanos e causou a destruição de diversos templos. No Sudão há uma guerra civil há décadas, que dentre outras motivações, está relacionada à divisão entre muçulmanos e não muçulmanos. E no Iraque, os conflitos entre as correntes sunitas e xiitas da religião islâmica já foram responsáveis por milhares de mortes. Também existem casos de preconceito ou proibição à práticas de determinadas religiões, como aconteceu com as mulheres islâmicas, que foram proibidas de usar o véu em alguns países da Europa.
A
busca pela tolerância religiosa
A religião, que teria como propósito principal a solidariedade, a união, a paz e o respeito ao próximo, tornou-se motivo de conflitos e intolerâncias, o que podemos ver com frequência em noticiários. Nesse tópico, vamos mostrar para você algumas mensagens de livros sagrados ou profetas/lideranças de algumas religiões, nas quais demonstram a vontade pelo uso pacífico da religião. Todas essas frases foram retiradas da cartilha “Diversidade Religiosa e Direitos Humanos” da Secretaria Especial dos Direitos Humanos:
Judaísmo: Em cada indivíduo, em cada povo, em cada cultura, em cada credo, existe algo que é relevante para os demais, por mais diferentes que sejam entre si. Enquanto cada grupo pretender ser o dono exclusivo da verdade, o ideal da fraternidade universal permanecerá inatingível.
Mahatma Gandhi: A regra de ouro consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos toda a família humana como uma só família. Quem faz distinção entre os fiéis da própria religião e os de outra, deseduca os membros da sua religião e abre caminho para o abandono, a irreligião.
Maomé: Se eles se inclinam à Paz, inclina-te tu também a ela e encomenda-te a Deus…
Allan Kardec: Toda crença é respeitável, quando sincera e conducente à prática do bem.
Hinduísmo: A meta última da religião é o amor. Todas as religiões e crenças são consequentemente válidas, e sua aceitação tem de ser baseada na liberdade e numa opção consciente e espontânea. De outra forma, a religião não teria como meta o amor.
Religiões Afro-brasileiras: Prevenir a intolerância é assumir que nenhuma verdade é única. É reconhecer que o outro tem livre arbítrio (…) Esse reconhecimento pressupõe garantir-lhe o direito de pensar, de crer; de amar, de doar, de rezar, de ser gente religiosa. Gente que exercita a missão sagrada de reconhecer no outro a imagem e semelhança de Deus, Olorum ou Javé.”
Buda: Em verdade, jamais se destrói o ódio pelo ódio. O ódio só é destruído pelo Amor. Este é um preceito eterno.
Jesus Cristo: Bem Aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem Aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem Aventurados os que promovem a Paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Intolerância
religiosa em um mundo plural
Como
vimos nesse texto, a intolerância religiosa está presente no mundo todo e em
diversas épocas da humanidade. Crenças que perseguem, em outro momento ou lugar
são perseguidas, e essa dificuldade em aceitar a existência de um Deus
diferente do seu, foi, e ainda é, motivo de grandes tragédias. Vivemos em um
mundo plural, formado por pessoas diferentes, com posicionamentos, crenças e
interesses diferentes e somente o respeito mútuo pode garantir uma convivência
saudável em sociedade.
Publicado originalmente no portal Politize
Leia também:
A confusão entre o islamismo e o terrorismo
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