Bolsonaro tenta justificar indicações de políticos para ministérios (Foto: Divulgação) |
Jair
Bolsonaro (PSL) disse que não haveria indicações políticas em seu ministério.
Nem aparelhamento ideológico do Estado. "A questão ideológica é tão, ou
mais grave, que a corrupção no Brasil. São dois males a ser combatido. O
desaparelhamento do Estado, e o fim das indicações políticas, é o remédio que
temos para salvar o Brasil", declarou em 2 de outubro, antes ainda do
primeiro turno. Porém, na sua indicação para o Itamaraty, escolheu um ideólogo.
E, não sei se são indicações políticas, mas há muitos políticos indicados. Sem
dúvida, em proporção inferior à de governos anteriores. O que não significa que
não estejam lá.
Dos
12 ministros já escolhidos, três são deputados. Todos do DEM. A presença é sintomática.
O partido não apoiou oficialmente Bolsonaro na eleição, mas é a força que
desponta no governo. Não são ministérios quaisquer: Casa Civil e Saúde são duas
das pastas mais preciosas. Agricultura é eixo estratégico, sobretudo em governo
que tem nos ruralistas importante polo de sustentação.
Retorno,
de certa forma, aos tempos de PFL, quando o partido foi espinha dorsal dos
governos José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Ao longo dos
anos Lula/Dilma, o DEM foi gradualmente perdendo relevância. Tem hoje 43
deputados federais e, na eleição, caiu para 29. Deixou de ser uma grande para
se tornar média força. Hoje, porém, torna-se proeminente na gestão Bolsonaro.
Muito mais que o PSL.
Pode-se
argumentar até que Tereza Cristina (Agricultura) e Luiz Henrique Mandetta
(Saúde) são indicações técnicas. Ela dirigente ruralista e ele médico. Como
escrevi há alguns dias, o argumento só vale se a gente aceitar que o economista
Romero Jucá (MDB-RR) foi indicação técnica de Michel Temer (MDB) para o
Ministério do Planejamento, ou o engenheiro civil Gilberto Kassab (PSD) foi
opção técnica de Dilma Rousseff (PT) para o Ministério das Cidades.
Mas,
pode-se por certo apontar que são políticos com conhecimento técnico da área.
Não consta que Mandetta seja propriamente uma grande sumidade em saúde. Há mais
de década, é muito mais político que outra coisa. Porém, se o gestor público
concilia capacidade política e técnica, tanto melhor. Não sou contra político
em cargos públicos. Quem dizia ser era o Bolsonaro.
A
forma da política de Bolsonaro
Bolsonaro
faz indicações políticas, sim senhor, e entrega fatia importante do governo ao
DEM velho de guerra. Porém, é inegável que essa ocupação política é bem
diferente das administrações anteriores. Na intensidade e na forma. O
presidente eleito apenas insinua de que forma pretende fazer articulação
política. Sobre isso irei me deter mais em colunas próximas.
O
papel do DEM
O
curioso é que o presidente do DEM, ACM Neto, afirmou ontem que o partido ainda
não garantiu apoio a Bolsonaro. Isso dependerá, ele disse, da convergência
entre as agendas econômica e social. Disse ainda que a decisão será de toda a
legenda.
Pode
ser que ACM Neto apenas despiste para não ficar evidente o toma lá, dá cá pelos
cargos. Até porque ele sinaliza tendência de esse apoio se confirmar. "Se
a agenda for convergente, não vejo motivo para o Democratas não ajudar. O
Brasil tem de dar certo. Não vamos ser empecilho para isso".
De
outro modo, seria mesmo uma graça o DEM ser oposição a governo no qual tem um
quarto dos ministros já indicados, e todos muito importantes.
Faria
ainda menos sentido que o PSDB ser oposição a um governo no qual um tucano é o
principal secretário - coisa que acontece no Ceará.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.