Foram
cerca de 11 milhões de brancos ou nulos e 31 milhões de abstenções no segundo turno,
contando mais de 42 milhões de eleitores, cerca de 30% do total. Foi o maior
índice desde 1989, na primeira eleição após a redemocratização do Brasil,
quando 16 milhões de pessoas não registraram voto útil.
Enquanto
muitos brasileiros iam às urnas no último domingo para digitar os números de Bolsonaro
(PSL) ou de Haddad (PT), o administrador de empresas Francisco Parente,
54,apertava a tecla “nulo” pela primeira vez. Não se sentir representado pelas
candidaturas que concorriam nestas eleições é uma das causas apontadas por cientistas
políticos para o recorde de abstenções registrado no último domingo.
“Eu votei nulo porque os dois candidatos não
atenderam minhas intenções para presidente da República”, afirma Parente.
De
acordo com o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília
(UNB), o recorde de ausências no segundo turno estaria relacionado à
dificuldade de transferência de votos de eleitores identificados com candidaturas
de centro.
“Foi
uma eleição extremamente polarizada entre direita e esquerda. O centro
representado no Brasil pelo PSDB, que polarizava com o PT desde
1994,desapareceu”, diz Fleischer, referindo-se à pouca expressividade da
candidatura tucana para a Presidência em 2018, encabeçada por Geraldo
Alckmin(PSDB) no primeiro turno.
Já
o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, aponta “o discurso radical” dos presidenciáveis do segundo turno
como fator principal do alto índice de abstenções.
“Foi
uma eleição alicerçada sobre um tripé que tinha na rejeição, no ódio e no medo seus
principais elementos. O discurso dos dois que foram para o segundo turno era
radical, que via no adversário não um oponente, mas um inimigo a ser eliminado
e me parece que uma parcela considerável de brasileiros optaram por não dar o
voto em nenhum dos dois”, pondera.
Para
ele, não dá pra saber como vai ser o comportamento do eleitor em 2022, ou mesmo
em 2020, nas eleições municipais. Mas, de certa maneira, “(o recorde de
abstenção) é um recado claro de que esse discurso desagregador, mais violento,
(dos candidatos) acaba” por não fazer eco em uma parcela da população.
Dentre
os elementos que dificultaram o processo de identificação entre eleitores e os discursos
que permearam a disputa, a pós-doutora em filosofia política Mirtes Amorim, professora
da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca a associação mais intensa entre
política e corrupção nos últimos anos. “O estigma da corrupção fez as pessoas
se afastarem, deixarem de acreditar na política de uma maneira geral”.
O
advogado Sérgio Ellery, 40, foi um dos eleitores que decidiram anular o voto
por não se sentir representado. “Acho que é mais uma maneira de mostrar que o
que está aí de um lado ou de outro não é nem que não seja ideal, é muito longe
disso”.
Sobre
o não-voto, o programador Murilo Dartiba, 23, o caracteriza como uma forma de questionar
o sistema político. “Eu sempre acreditei que o voto não deveria ser
obrigatório”.
A
ausência das urnas pode ter outras causas, como a impossibilidade do eleitor de
comparecer ao respectivo local de votação por estar viajando ou por residir em
outra cidade.
Dartiba
conta que neste ano gostaria de ter votado, mas está morando distante de Rondônia,
onde tem domicílio eleitoral. “Eu não transferi meu título porque nunca foi uma
prioridade muito grande. Eu pretendo fazer isso agora. Por questão de voto essa
foi a única eleição em que eu me arrependi de não ter votado”.
NÚMEROS DO SEGUNDO TURNO
11
milhões votaram branco e nulo, são 9,5% dos 147,3 milhões de eleitores.
31
milhões de brasileiros deixaram de ir votar, 21,30%do eleitorado.
Somados
aos brancos e nulos, 42,1 milhões não votaram.
Com
informações portal O Povo Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.