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30 de outubro de 2018

Os motivos dos eleitores para se abster do voto


Foram cerca de 11 milhões de brancos ou nulos e 31 milhões de abstenções no segundo turno, contando mais de 42 milhões de eleitores, cerca de 30% do total. Foi o maior índice desde 1989, na primeira eleição após a redemocratização do Brasil, quando 16 milhões de pessoas não registraram voto útil.

Enquanto muitos brasileiros iam às urnas no último domingo para digitar os números de Bolsonaro (PSL) ou de Haddad (PT), o administrador de empresas Francisco Parente, 54,apertava a tecla “nulo” pela primeira vez. Não se sentir representado pelas candidaturas que concorriam nestas eleições é uma das causas apontadas por cientistas políticos para o recorde de abstenções registrado no último domingo.

 “Eu votei nulo porque os dois candidatos não atenderam minhas intenções para presidente da República”, afirma Parente.

De acordo com o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UNB), o recorde de ausências no segundo turno estaria relacionado à dificuldade de transferência de votos de eleitores identificados com candidaturas de centro.

“Foi uma eleição extremamente polarizada entre direita e esquerda. O centro representado no Brasil pelo PSDB, que polarizava com o PT desde 1994,desapareceu”, diz Fleischer, referindo-se à pouca expressividade da candidatura tucana para a Presidência em 2018, encabeçada por Geraldo Alckmin(PSDB) no primeiro turno.

Já o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aponta “o discurso radical” dos presidenciáveis do segundo turno como fator principal do alto índice de abstenções.

“Foi uma eleição alicerçada sobre um tripé que tinha na rejeição, no ódio e no medo seus principais elementos. O discurso dos dois que foram para o segundo turno era radical, que via no adversário não um oponente, mas um inimigo a ser eliminado e me parece que uma parcela considerável de brasileiros optaram por não dar o voto em nenhum dos dois”, pondera.

Para ele, não dá pra saber como vai ser o comportamento do eleitor em 2022, ou mesmo em 2020, nas eleições municipais. Mas, de certa maneira, “(o recorde de abstenção) é um recado claro de que esse discurso desagregador, mais violento, (dos candidatos) acaba” por não fazer eco em uma parcela da população.

Dentre os elementos que dificultaram o processo de identificação entre eleitores e os discursos que permearam a disputa, a pós-doutora em filosofia política Mirtes Amorim, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca a associação mais intensa entre política e corrupção nos últimos anos. “O estigma da corrupção fez as pessoas se afastarem, deixarem de acreditar na política de uma maneira geral”.

O advogado Sérgio Ellery, 40, foi um dos eleitores que decidiram anular o voto por não se sentir representado. “Acho que é mais uma maneira de mostrar que o que está aí de um lado ou de outro não é nem que não seja ideal, é muito longe disso”.

Sobre o não-voto, o programador Murilo Dartiba, 23, o caracteriza como uma forma de questionar o sistema político. “Eu sempre acreditei que o voto não deveria ser obrigatório”.

A ausência das urnas pode ter outras causas, como a impossibilidade do eleitor de comparecer ao respectivo local de votação por estar viajando ou por residir em outra cidade.

Dartiba conta que neste ano gostaria de ter votado, mas está morando distante de Rondônia, onde tem domicílio eleitoral. “Eu não transferi meu título porque nunca foi uma prioridade muito grande. Eu pretendo fazer isso agora. Por questão de voto essa foi a única eleição em que eu me arrependi de não ter votado”.


NÚMEROS DO SEGUNDO TURNO

11 milhões votaram branco e nulo, são 9,5% dos 147,3 milhões de eleitores.

31 milhões de brasileiros deixaram de ir votar, 21,30%do eleitorado.

Somados aos brancos e nulos, 42,1 milhões não votaram.

Com informações portal O Povo Online


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