Pela
primeira vez desde a redemocratização, um candidato à Presidência da República
poderá se eleger sem ter ido a qualquer debate no segundo turno da corrida ao
Palácio do Planalto.
Na
tarde de ontem (18/10), o presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno,
garantiu que Jair Bolsonaro não irá aos dois últimos debates da campanha: na
Rede Record, no domingo próximo, e na TV Globo, na sexta-feira da semana que
vem.
O
dirigente afirmou que o estado de saúde de Bolsonaro é de "absoluto
desconforto" e que ele não pode ser submetido a "uma situação de alto
estresse, sem nenhum motivo".
Braço
direito de Bolsonaro, Bebianno deu a declaração no mesmo dia em que o jornal
Folha de S. Paulo publicou reportagem que aponta suposta compra de pacotes de
mensagens disparadas no WhatsApp contra a candidatura do adversário do nome do
PSL, o petista Fernando Haddad.
Caso
se confirme a ausência de Bolsonaro, dos 13 debates previstos durante toda a
campanha até agora, incluindo-se o primeiro turno, o candidato terá participado
ao final apenas de dois: na TV Bandeirantes e na RedeTV!, ambos na primeira
quinzena de agosto, quando Haddad ainda era vice na chapa capitaneada pelo
ex-presidente Lula, preso em Curitiba.
Nunca
antes qualquer postulante se elegeu tendo se submetido a tão poucos confrontos
com seus adversários diretos na briga. Candidato à reeleição em 2006, Lula
faltou a debates, mas no primeiro turno.
Bolsonaro,
todavia, inverteu essa lógica. Na briga pela Presidência, o militar priorizou
as transmissões online e a comunicação sem intermediários com seus eleitores,
utilizando intensivamente as redes sociais.
Impedido
de participar do último debate do primeiro turno por recomendação médica, o
postulante concedeu entrevista à Rede Record, que a transmitiu no mesmo horário
em que a rival Globo realizava o encontro entre os presidenciáveis.
Pesquisador
da Universidade Federal do Ceará e membro do Conselho de Leitores do O POVO,
Cleyton Monte afirma que esse é o "modus operandi do candidato desde as
manifestações pró-impeachment", em 2016.
"Bolsonaro
chegou a participar de dois debates, e é consenso que ele não se saiu tão bem
porque não conseguiu articular as suas propostas. Então, para ele, não faz
sentido ir", avalia Monte.
De
acordo com o analista, o mau desempenho nas mídias tradicionais foi crucial
para a estratégia do ex-capitão. "O debate se destina mais a tirar voto do
que a ganhar", assegura o sociólogo. "E ele teria muito a
perder." Para o estudioso, Bolsonaro "foi até sincero quando disse
que vai faltar por questão estratégica".
Monte
também argumenta que, embora uma fração expressiva do eleitorado defenda a
participação do deputado federal em programas televisivos (73%, segundo
Datafolha de ontem), o militar não deve perder votos por ausentar-se desses
eventos.
"O
candidato já encontrou outras formas de se comunicar com os seus eleitores, e
isso é fundamental. Ele construiu um canal", acrescenta. "Estas são
as eleições das redes sociais, principalmente do Whatsapp. E a campanha do
Bolsonaro já tinha exata noção disso desde o começo."
Deputado
federal reeleito e um dos coordenadores da campanha de Haddad no Ceará, José
Guimarães (PT) classificou a falta de Bolsonaro nos debates como "um
vexame e um absurdo".
Para
o líder petista, o "Brasil não pode se permitir isso" sob risco de
caminhar para um beco sem saída. "Bolsonaro é um engodo e uma violência.
Tem que exigir a retirada dele. É um embuste. Nunca se viu isso", criticou
o deputado. "Ele não tem compromisso com o povo, com as instituições. É
odiento e capacho do mercado."
Secretário-geral
do PSL no Ceará, o advogado Aldairton Carvalho disse que Bolsonaro ainda não
falou se deixará de ir também ao debate da Rede Globo, na sexta-feira.
"Ele não vai ao da Record, isso está certo. É a avaliação hoje. Mas até
essa pode mudar amanhã", respondeu Carvalho.
Com
informações portal O Povo Online
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