Imagem da Campanha do Congresso Nacional em comemoração aos 30 anos da Constituinte |
Há
exatos 30 anos, o Brasil dava um importante passo: promulgava a Constituição
Federal de 1988 (CF). Após a Ditadura Militar, ela trazia novamente ao País um
regime democrático e se propunha a ser garantidora do bem-estar social. O
documento contou com a participação da sociedade civil e foi formulado por
assembleia constituinte de 559 parlamentares 26 deles do Ceará eleitos em 1986.
Composta
de 250 artigos e pouco mais de 100 emendas, a CF traz logo em seus títulos
iniciais a preocupação com os direitos individuais e sociais e a proteção dos
direitos humanos. "Ela continua a ser atual, na medida em que seus
objetivos fundamentais entre eles, a dignidade da pessoa humana e a cidadania
persistem como metas para o Estado brasileiro", explica professor do curso
de Direito da Universidade de Brasília (UnB), Cristiano Paixão.
Essas
características, entretanto, são as mesmas que nos últimos dois anos vêm
passando por instabilidades. No Legislativo, tramitam propostas de emenda à
constituição (PEC) que minimizam a responsabilidade federal frente a medidas
sociais, como a PEC 287/16 (reforma da Previdência), prevista para entrar em
pauta logo após o segundo turno destas eleições.
"As
emendas constitucionais são necessárias para atualização e aperfeiçoamento. Mas
nenhuma das aprovadas até agora expandiu a cidadania. Pelo contrário: uma
delas, a PEC 95, é um fiel ataque aos direitos estipulados na Constituição,
diante do rígido limite de gastos públicos nela previsto", argumenta.
De
acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o
pleito do próximo domingo, 7, deve ratificar o perfil conservador do Congresso
segundo o instituto, a atual legislatura é a mais conservadora desde 1964. A
previsão é de aumento das bancadas ruralista, religiosa, empresarial e da bala.
"Já
tivemos em 2014 um Congresso conservador e foi negativo do ponto de vista da
execução da CF para produzir uma sociedade igualitária. Houve um esvaziamento
de pautas dos direitos humanos e da cidadania, dos direitos sociais mais amplos
no que se refere à seguridade e assistência sociais", argumenta a
professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC),
Monaliza Oliveira, que é integrante do Laboratório de Estudos em Política,
Eleições e Mídia (Letem) da UFC.
Ela
ressalta que os mesmos deputados que votam contra pautas LGBT também votam a
favor de medidas econômicas liberalizantes. "São duas faces da mesma
moeda. (...) É problemático não só na disputa dos valores de minorias, mas por
também endossar pautas ultraliberais", defende.
Professor
do curso de Direito da UFC, Willian Paiva, analisa que a projeção é de que o País
tenha nos próximos quatro anos um Congresso que privilegie propostas que já
estão em tramitação em detrimento de projetos de interesse social.
Paixão
defende que é necessário que a sociedade esteja atenta à próxima composição do
Legislativo. "É necessário que lideranças da sociedade civil se mobilizem
para que seja eleito um Congresso plural e democrático", pontua.
Presidente
da Associação Brasileira de Constitucionalistas Democratas (ABCD), Marcelo
Figueiredo pondera que as problemáticas sociais que envolvem o documento surgem
da falta de obediência do poder público a ele.
Na
opinião de Cristiano Paixão, o impeachment da presidente Dilma Roussef (PT) é
um responsáveis pelo atual cenário de instabilidade da Constituição. "O
mecanismo do impeachment foi utilizado de maneira equivocada e abusiva em 2016.
Foi utilizado um dispositivo típico de um regime presidencialista como se
estivéssemos no parlamentarismo. O impeachment se assemelhou a um voto de
desconfiança. Assim, a Constituição deixa de ser vista como referência para
atores políticos", argumenta.
Monaliza
Oliveira também acredita que o atual cenário sociopolítico é fruto de um
processo iniciado com a destituição de Dilma. "Recentemente, aconteceram
mudanças constitucionais que levantaram o debate de em que medida esse
Congresso de fato representa a sociedade", pontua.
Quanto
à preocupação com o perfil do próximo presidente, Willian Paiva afirma que o
ideal é que o eleitor vá às urnas com um voto mais consciente, uma escolha
realizada em cima de critérios como o perfil do candidato e sua relação com as
pautas necessárias à coletividade.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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