Bolsonaro no Jornal Nacional (Foto: Divulgação) |
A
participação de Jair Bolsonaro (PSL) no Jornal Nacional foi informativa do
ponto de vista de mostrar quem ele é. Quem gosta vibrou com o tom de
enfrentamento. Quem não gosta ficou repugnado. O fato é que o candidato esteve
ali em plenitude, para deleite ou desgosto, conforme gostos e estômagos.
Bolsonaro
se saiu melhor no Jornal Nacional que nos debates até agora. A dificuldade para
articular ideias e frases foi atenuada. Mostrou até alguma desenvoltura, diante
do que se prenunciava duro interrogatório. A rigor, William Bonner e Renata
Vasconcellos não conseguiram, no conjunto da entrevista, deixá-lo contra a
parede. Para todas tinha resposta, dentro de sua lógica própria, da forma de
ver o mundo que é dele e que compartilha com os seguidores. Os entrevistadores
foram menos felizes que Guilherme Boulos (Psol) no primeiro debate e Marina Silva
(Rede) no segundo ao tirar o candidato do sério e do prumo.
Ele
ficou menos acuado do que Ciro Gomes (PDT) na véspera. Bolsonaro até
surpreendeu, pois se mostrou menos despreparado para esse tipo de embate do que
sugeriram suas participações nos debates.
Bolsonaro
gosta, sobretudo, de arena. Como a lógica da sabatina é o enfrentamento, ele
foi para a briga. E se municiou para isso. Criticou a forma como a Globo
contrata via pessoa jurídica (PJ) - a pejotização - e dribla direitos
trabalhistas. Citou Roberto Marinho para defender a ditadura militar. Era a
mais previsível de suas investidas, mas, a Globo sentiu e a militância delirou.
Por
outro lado, quando mencionou a diferença salarial entre Bonner e Renata
Vasconcellos, ela o enquadrou com firmeza no que foi, de longe, o pior momento
para o candidato. Aquele em que sentiu o golpe e perdeu pontos.
Faço
essa análise do ponto de vista da forma e da percepção do eleitor. De quem
vota, não volta e pode votar nele e de como percebem a entrevista. Entro agora
mais no pouco de conteúdo que permite perceber a visão administrativa de Bolsonaro.
Isso é preocupante, pois do candidato que lidera as pesquisas sem Lula quase
nada se sabe de sua visão administrativa e o que se sabe não é claro, não é
consistente, não é esclarecedor. Ontem, os dois momentos em que mais se
discutiu aquilo que ele pretende fazer, Bolsonaro simplesmente tirou o corpo
fora.
Sobre
as diferenças salariais entre homens e mulheres, ele segue a dizer que não é
com ele, não é problema dele. Que está na Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) e quem quiser reclamar vá à Justiça do Trabalho, procure o Ministério
Público do Trabalho (MPT). Ele mesmo que não vai se meter.
A
respeito dos direitos trabalhistas cuja redução o candidato defende, Bonner
insistiu, mas Bolsonaro não disse em quais vai mexer. Afirmou apenas que não vai
mudar aquilo que é cláusula pétrea da Constituição. Que isso só ocorreria se
houvesse Assembleia Constituinte. De onde se pode deduzir que pode tirar todo o
resto. É espantoso que um candidato que entra em campanha defendendo que a
população terá de abrir mão de direitos para ter empregos se recuse ou seja
incapaz de informar quais direitos são esses.
Um
dos pontos mais sintomáticos da fala de Bolsonaro foi em suas considerações
finais. Começou batendo na polarização PT x PSDB e pediu ao eleitor que rompa
esse ciclo.
Amanhã
começa a campanha em rádio e televisão. PSDB e PT terão muito mais tempo. Ao
bater em dois partidos que - salvo o cenário com Lula - estão lá atrás nas
pesquisas, o candidato demonstra que teme o quanto eles podem crescer.
Bolsonaro
teme que, como acontece desde 1994, PT e PSDB acabem polarizando a disputa. De
tudo que ele diz e pensa, está longe de ser o mais descabido.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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