A
tentativa de Camilo Santana (PT) de se equilibrar entre os palanques do PT e de
Ciro Gomes (PDT) tem peso considerável, e contrário, ao candidato pedetista. O
Ceará é absolutamente estratégico para o candidato a presidente que tem raízes
e história política no Estado.
Há cinco meses, em entrevista ao colega Carlos
Holanda, aqui do O POVO, Ciro definiu assim sua situação: "É o Ceará, meu
lugar, meu Estado, minha comunidade. (...) Não vou enfrentar essa violenta
resistência que eu vou atravessar no Brasil sem unir o povo do Ceará".
Em
outras palavras, Ciro pode ganhar no Ceará com folga e, mesmo assim, perder a
disputa presidencial. Porém, não há a mais remota hipótese de ele sequer chegar
ao segundo turno se não tiver votação avassaladora no Ceará.
Sem
Lula na disputa, é praticamente certo que Ciro será o mais votado no Estado. A
questão é o tamanho dessa votação. Jair Bolsonaro (PSL) é, hoje, o preferido do
voto conservador. Geraldo Alckmin (PSDB) testará qual o potencial de Tasso
Jereissati e do general Theophilo para levar votos para ele. Quanto à
candidatura petista, será crucial a capacidade de Lula transferir votos para
Fernando Haddad. É potencial considerável de estrago nos votos de Ciro.
Fortaleza
também pode ser problema para o mais velho dos irmãos Ferreira Gomes. Tem
muitos apoiadores, sem dúvida. Se Camilo fará campanha meio envergonhado e com
restrições, pode-se ter certeza de que Roberto Cláudio será o maior cabo
eleitoral do candidato a presidente pelo PDT. Mesmo assim, é um voto menos
direcionável e raramente adepto a tendências de massificação.
Simbolismo
do voto de quem conhece
Mostra
de como é importante o voto caseiro: em 2014, a derrota de Aécio Neves (PSDB)
para Dilma Rousseff (PT) no 1º turno em Minas Gerais foi exaustivamente
explorada pela candidata no 2º turno - quando o resultado se repetiu e foi
determinante para a derrota do tucano.
Nesta
semana, pesquisa CNT/MDA mostrou Alckmin atrás de Bolsonaro em São Paulo. É
resultado horroroso para quem saiu outro dia do Palácio dos Bandeirantes, está
indo para sua segunda disputa presidencial e foi a pessoa que por mais tempo
governou o maior estado do País na história da República. Se não ganhar em São
Paulo, Alckmin pode desistir de qualquer perspectiva nacional.
Esse
é um problema para Fernando Haddad. Tenta a Presidência depois de derrota
acachapante, no 1º turno, na tentativa de reeleição pela Prefeitura de São
Paulo. Se teve tal desempenho com o eleitor que estava sendo governado por ele,
o que se projeta no resto do País?
No
caso do Ceará, mais que o peso eleitoral, há o simbolismo para Ciro. Com a
candidatura presidencial, os holofotes do Brasil se voltam para o Estado. As
virtudes na educação, as dificuldades na saúde, o descalabro na segurança.
Nesse sentido, os números de 2017 divulgados ontem pelo Fórum Brasileiro da
Segurança Pública são problema extra. O Ceará se sai, como era de se esperar,
muito mal. Em que pese a melhora, ainda muito aquém do necessário, nos últimos
quatro meses.
Pressão
sobre Camilo
O
Ceará será a vitrine e o telhado de vidro para Camilo. Ele usará inclusive os
aspectos legais para justificar se manter o mais neutro possível na campanha.
Porém, a pressão irá crescer. Se Ciro estiver mal, cobrarão dele mais empenho.
Se estiver bem e com chances de ir ao 2º turno, a pressão será ainda maior para
melhorar o desempenho.
E,
para além de Camilo, será importante observar a atuação de seus aliados mais
próximos e operadores políticos. Mais que a postura pessoal do governador, vale
ver como se comporta o aparato de Estado. A favor de quem ele trabalha.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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