Aspecto
que chamou atenção no discurso de Camilo Santana (PT) sobre a aliança é a
insistência em falar que a decisão não será imposta por ninguém. “Não há
cacique na nossa aliança, não há decisão unilateral. O que há é um processo
democrático de diálogo e construção coletiva. ouvir os partidos, ouvir os
presidentes, ouvir as lideranças”, falou ele na quarta-feira, na Redação do O
POVO.
Adiante
na conversa, questionado pelo repórter Carlos Mazza sobre se Ciro Gomes (PDT)
permitiria a aliança com Eunício Oliveira (MDB), ele voltou ao ponto: “Não é o
Ciro quem manda, nem eu. A gente define tudo de forma democrática”.
Quando
algumas coisas precisam ser ditas é porque há a ideia de que ocorre o oposto.
Camilo disse que não tem cacique na aliança porque existe a imagem de que os
Ferreira Gomes ditam os caminhos. Falou que Ciro não manda porque se imagina
que ele é quem decide, sim.
Camilo
é realista quanto aos limites do diálogo. “Consenso não vai existir nunca, mas
que a gente possa encontrar uma pactuação para construir as melhores alianças
possíveis para esta eleição”. Realmente, não vislumbro quanto de conversa se
pode ter para fazer Ciro engolir Eunício na aliança, ou para que o emedebista
aceite de bom grado ficar fora da chapa oficial.
RECADO
Os
Ferreira Gomes têm sido muito duros nas negociações com Camilo. De maneira que
não aceitaram que fossem com eles no governo. Em 2010, no auge das pressões
sobre a chapa para o Senado, Ciro afirmou que seu irmão Cid Gomes “não
aceitaria faca nos peitos” da parte de ninguém. Agora, são eles que dizem que
não engolirão Eunício (foto) na mesma chapa que eles. Camilo, conforme
ressaltei, não cogita chapa sem o PDT.
Ao
dizer que não há cacique na aliança, o governador deixou no ar a ideia de
recado dirigido aos Ferreira Gomes, direto ou indireto. Afinal de contas, se
houver cacique na aliança, quem haveria de ser se não eles?
O
fato é que está criada a situação na qual, se Eunício ficar fora da coligação,
estará estabelecida a imagem de que foi imposição dos Ferreira Gomes. Se
Eunício estiver na aliança oficial, a impressão que ficará é de que os irmãos
foram enquadrados.
ESPAÇO
DO PT
Camilo
deixou muito claro que não vai ter vaga para o PT na chapa majoritária, além do
próprio Camilo. “O PT precisa compreender que o governador já é do PT. Uma
aliança como a nossa, com mais de vinte partidos, que tem três vagas, você
precisa discutir isso, e não impor”.
O
governador, aliás, usa a pressão interna do partido para justificar os
desacertos que partem dos demais. “Todo mundo tem divergência, até dentro do
partido tem divergência. O PT é exemplo disso. Se tem problema dentro do
partido, imagine no conjunto de partidos”.
VICE
Sobre
a aliança com o PDT, Camilo ressaltou que o partido hoje ocupa a vice, com
Izolda Cela, e a tendência é manter a mesma composição PT/PDT. Indaguei a ele
se isso significava manter Izolda na vice. Camilo respondeu que não
necessariamente. Que se referia ao espaço do partido na chapa. Perguntei,
então, se ele gostaria que fosse Izolda o nome. Camilo afirmou que não iria
responder. E acrescentou que eu já sei a resposta.
O
que sei é o seguinte: Camilo gostaria ter Izolda como vice de novo. Mas, a
decisão é do PDT e há mais gente interessada.
Aliás,
considerando que os pedetistas resistem até a ficar numa aliança junto com
Eunício, não dá mesmo para ter preferência.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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