Até 2012 o Brasil realizava duas campanhas anuais de vacinação contra a pólio (Antonio Cruz) |
Dados
do Ministério da Saúde mostram que a aplicação de todas as vacinas do
calendário adulto estão abaixo da meta no Brasil – incluindo a dose que protege
contra o sarampo, doença que registra surtos em pelo menos três estados. Entre
as crianças, a situação não é muito diferente – em 2017, apenas a BCG, que
protege contra a tuberculose e é aplicada ainda na maternidade, atingia a meta
de 90% de imunização.
A
tendência de queda nas coberturas vacinais, segundo a pasta, começou a aparecer
em 2016 e vem se acentuando desde então. Em 312 municípios brasileiros, menos
de 50% das crianças foram vacinadas contra a poliomielite. Apesar de erradicada
no país desde 1990, a doença ainda é considerada endêmica em pelo menos três
países – Nigéria, Afeganistão e Paquistão – e ensaia uma reintrodução nas
Américas caso a cobertura vacinal não se mantenha em 95%.
Em
entrevista à Agência Brasil, a coordenadora do Programa Nacional de
Imunizações, Carla Domingues, avaliou que o sucesso da vacinação no país ao
longo das últimas décadas e a consequente erradicação de doenças criaram uma
falsa sensação de que as doses não são mais necessárias. Outro problema,
segundo ela, é a divulgação das chamadas fake news nas redes sociais e que, no
caso das vacinas, podem causar alarde e assustar a população.
“Se
não tivermos a população devidamente vacinada, poderemos ter o risco de
reintrodução de doenças”, alertou. “Existe, por exemplo, um fluxo constante de
pessoas viajando. Se pararmos de vacinar, uma pessoa doente chega ao país e o
vírus tem a chance de voltar a circular. Enquanto a doença não for erradicada
no mundo, precisamos da vacinação”, completou.
Sarampo
De
acordo com a coordenadora, a situação do sarampo no Brasil é a que mais
preocupa. Amazonas e Roraima, juntos, já registram cerca de 500 casos confirmados
e mais de 1.500 em investigação. O Rio Grande do Sul também confirmou pelo
menos seis casos. Países de alta renda, segundo Carla, “relaxaram” com a
vacinação. Itália, Grécia e Bulgária são exemplos de nações com baixa cobertura
vacinal para a doença.
“O
sarampo é um risco concreto. Mais de 450 casos confirmados no Norte, em Roraima
e no Amazonas. Há casos confirmados no Rio Grande do Sul. [Estamos]
Investigando casos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Podemos ter uma
retransmissão do sarampo em todo o país”, alertou. “Os próprios profissionais
de saúde deixaram de achar que recomendação de vacina é importante”.
A
orientação do ministério é que todas as crianças, adolescentes e adultos até 29
anos recebam as duas doses previstas para imunização. Adultos com idade entre
30 e 49 anos devem receber uma dose.
Campanhas
Até
2012, o Brasil realizava duas campanhas anuais de vacinação contra a pólio –
época marcada pelo personagem Zé Gotinha. Atualmente, acontecem apenas as
campanhas de vacinação contra a gripe e de multivacinação, quando as doses do
calendário infantil que estão atrasadas são atualizadas. Entretanto, conforme
recomendação da Organização Mundial da Saúde para situações de baixa cobertura,
a pasta volta a realizar este ano campanha de vacinação contra a pólio e o
sarampo.
As
doses, segundo Carla, devem ser distribuídas em todo o país de 6 a 31 de
agosto, no formato de campanha indiscriminada. Isso significa que todas as
crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos que procurarem os postos
nesse período vão ser imunizadas – mesmo as que já haviam cumprido as doses
previstas no calendário infantil. “Será uma oportunidade de dar à criança mais
um reforço e aumentar a imunidade”, explicou.
Estratégias
Ainda
de acordo com a coordenadora, a estratégia do ministério frente à baixa
cobertura vacinal e aos recentes surtos registrados em diferentes regiões do
país é a de mobilizar a sociedade e gestores para alertar sobre os riscos. Há
situações, segundo ela, que envolvem, por exemplo, bairros específicos com
baixa adesão às vacinas ou ainda problemas na hora de registrar os dados no
sistema.
“A
população só procura vacina quando o surto está na mídia e temos pessoas
morrendo. Fora isso, as pessoas não são vacinadas. Como se a vacina fosse uma
ação curativa e não preventiva. Ela deve vir antes do surto. É dessa forma que
você ganha imunidade. Até porque a vacina vai demorar pelo menos 15 dias para
fazer efeito e, em um surto, nesse espaço de tempo, você não fica devidamente
protegido.”
Com
informações portal Agência Brasil
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