A
conexão à internet somente pelo celular se tornou a forma mais comum de navegar
na web no Brasil. A conclusão é da pesquisa TIC Domicílios 2017, produzida pelo
Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação
(CETIC.Br), vinculado às Nações Unidas e ao Comitê Gestor da Internet no
Brasil. O levantamento divulgado hoje (24) é um dos mais importantes do país
sobre o tema.
Em
2017, 49% dos lares brasileiros dependiam de um celular para acessar a rede
mundial de computadores. O índice foi pela primeira vez superior aos domicílios
que usam tanto dispositivos móveis quanto computadores de mesa (os chamados
desktops) para se conectarem. Dos lares pesquisados, 19% acessavam a internet
mas não possuíam computador.
A
exclusividade da conexão móvel está mais presente nas classes de menor renda.
Enquanto na classe A o índice de domicílios com acesso à web e computador é de
98%, nas classes D e E esse índice é de apenas 7%. Entre os usuários deste
segmento, 80% dependem de um celular pra navegar. Essa prevalência se manifesta
também nas áreas rurais (72%) e no recorte de gênero, estando presente mais
entre mulheres (53%) do que entre homens (45%).
O
fator socioeconômico foi confirmado pelos entrevistados como barreira. A
dificuldade de pagar pelo serviço foi apontada como principal obstáculo à
conexão, mencionado por 27% dos entrevistados. Os dados revelam desigualdade no
acesso à internet em geral com índice na casa dos 30% nas classes D e E e em
99% na classe A.
“Existe
uma população de internautas no Brasil que tem relação exclusivamente mediada
pelo telefone celular. Isso está ligado ao marcador socioeconômico. Os de A e B
combinam atividades mais convenientes pelo celular e outras pelo computador,
quando requer teclado ou tela maior. Quem não tem acesso ao computador utiliza
apenas o celular e isso acaba sendo um fator de limitação dos serviços que a
pessoa acessa e das habilidades que vai desenvolver”, analisa Winston
Oyadomari, coordenador da pesquisa.
O
coordenador acrescenta que esta exclusividade da conexão móvel muitas vezes não
significa que seja por meio de tecnologias 3G ou 4G, ficando limitada, em
determinados casos, apenas às transmissões sem fio conhecidas como Wi-Fi.
Limites
econômicos
Na
avaliação de diretor do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e Serviço
Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil), Alexander Castro, as restrições
econômicas de uma parcela da população fazem com que ela busque a conexão via
celular em razão dos planos serem mais acessíveis e terem mais opções. “A banda
larga móvel apresenta muito mais opções para a população, em termos de planos e
preços, do que a banda larga fixa. Esta última trabalha com o plano ilimitado,
com variação por velocidade", compara.
Segundo
Castro, o preço médio do megabit no Brasil caiu de pouco mais de R$ 21,8 para
R$ 4,64 entre 2011 e 2017. Contudo, por conta da situação econômica do país
ainda há dificuldade nas camadas mais pobres de adquirir o serviço. “Com a
crise, o desemprego, a população se manteve sem condições de contratar, mesmo
com a queda nos preços”, opina.
Qualidade
Na
avaliação da advogada que ocupa uma das representações da sociedade civil no
Comitê Gestor da Internet Flávia Lefévre, o aumento da dependência do celular é
uma tendência preocupante, já que evidencia a desigualdade entre ricos e pobres
no acesso à Internet. Além disso, as limitações destes aparelhos e das conexões
móveis, como planos com limites de dados, fazem com que a qualidade do acesso
seja consideravelmente pior. São restrições que dificultam tarefas como
assistir a filmes, baixar documentos pesados, usar chamadas de voz, acessar
serviços de governo eletrônico, entre outros.
Par
Lefévre, que também integra a campanha Internet Direito Seu, os brasileiros que
dependem do celular vão ficar a mercê de pacotes limitados e dos serviços
patrocinados, que não consomem dados da franquia. “Essas pessoas vão ficar
sujeitas aos aplicativos ‘gratuitos’, à seleção editorial do Facebook. A
internet vai virar o Facebook, o Whatsapp ou os apps definidos pela operadora.
A gente não pode considerar que alguém com essa qualidade de acesso esteja
sendo incluído digitalmente”, comenta.
Com
informações portal Agência Brasil
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