O
modo como os pré-candidatos se posicionaram sobre o “solta não solta”
envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é das coisas mais
reveladoras desta pré-campanha. Dos que pontuam nas pesquisas, poucos se
colocaram de forma clara.
Não é difícil entender por quê. Até a estrela do PT
já percebeu, Lula não será candidato. Ele tem patrimônio de votos capaz de
decidir a eleição. Então, os postulantes agem com cautela, de olho no melhor
jeito para atrair quem hoje declara voto no petista.
Manuela
D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (Psol) não tiveram dificuldade de se
posicionar. Como os mais próximos ao ex-presidente, defenderam a libertação de
Lula e a decisão do desembargador Rogério Favreto.
Do
outro lado, Jair Bolsonaro (PSC) também agiu conforme o esperado. Foi o de
sempre. Reclamou que as instituições estão aparelhadas e saiu-se com o discurso
de que corrupção é ideológica - e não tentativa de enriquecer. O pré-candidato
do PSC se projetou como crítico do PT e se fortalece ao se colocar como
antagonista de Lula.
Álvaro
Dias, do Podemos, também foi duro contra Lula e afirmou que o habeas corpus era
coisa de um “desembargador aloprado que serviu a governos petistas”. Os demais,
porém, foram um tanto vagos, quando não ambíguos mesmo.
Marina
Silva (Rede) disse estar preocupada — um estado de espírito, não uma posição
política. Defendeu o Estado de Direito, as normas jurídicas. Ou seja, nada. O
que houve de mais claro foi a posição de que a atuação de um magistrado no
plantão não deveria causar turbulências nem colocar em dúvida decisões de
tribunais colegiados. Traduzindo, ela criticou o habeas corpus. Ontem, ela
defendeu o juiz Sérgio Moro e disse que quem o critica é a favor da impunidade.
Henrique
Meirelles (MDB) — candidato de Michel Temer, mas que procura explorar a
passagem pelo governo Lula — disse ser contra a politização da Justiça e
defendeu respeito às normas processuais. Ontem, afirmou que a decisão das
instâncias superiores devem prevalecer — ou seja, Lula deve ficar preso.
Ciro
Gomes (PDT), dado a arroubos verbais, conseguiu ser ainda mais vago que Marina.
Disse que a disputa de liminares é “triste”, que a crise no Judiciário aumenta
a desconfiança da população, que se assusta ao ver postura em magistrados que
coloca em dúvida sua isenção e cobrou que todos ponham a mão na consciência e
reflitam sobre seus atos. Sempre um bom conselho, mas definitivamente não é um
posicionamento político de pré-candidato a um mês da campanha.
A
postura é intrigante porque Ciro, em tese, é aliado de Lula. Está de olho nos
votos de Lula. Aliás, depende dos eleitores que declaram intenção de votar no
petista para se viabilizar. Porém, negocia aliança com o DEM. Talvez isso
explique o equilibrismo.
Ainda
mais curiosa e vaga foi a postura de Geraldo Alckmin (PSDB). Disse que “manter
Lula ou qualquer outro cidadão brasileiro preso não pode ser uma decisão
política, mas sim da Justiça”. Contribuição inestimável ao pensamento jurídico,
por certo. Disse ainda que o País precisa de ordem, segurança jurídica e cobrou
que o Judiciário seja fator de equilíbrio.
Chegou-se
àquele momento no qual os marqueteiros assumiram quase por completo os
discursos. Não deixam passar nada que considerem que possa trazer prejuízo.
Levam isso ao ponto de não se dizer verdadeiramente nada. O caso de Alckmin é
emblemático. Ele é do PSDB. A essa altura, está com pudores de bater em Lula?
Será expectativa de ter votos petistas? Ou cautela quanto a pedido de habeas
corpus para tucanos?
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