Depois
de uma fase ruim, com perda de forças na queda de braço com Ciro Gomes (PDT)
pelo apoio de partidos de centro, ontem foi um bom dia para o presidenciável
Geraldo Alckmin (PSDB), com a confirmação do apoio do PTB à candidatura dele.
Um mês atrás, o nome do tucano era citado em notícias não tão positivas. O
assunto, em 18 de junho, era a dificuldade dele em subir nas pesquisas de
intenção de voto, preocupação que levou o partido até a encomendar uma pesquisa
interna para saber o motivo. Agora, a aposta dos tucanos é de que o jogo comece
a virar.
A
aliança com a legenda presidida por Roberto Jefferson, que acrescenta um minuto
de tempo de televisão aos 2,5 minutos a que o PSDB tem direito, será
oficializada em 28 de julho, na convenção do partido de Alckmin. Com o outro
minuto garantido pelo apoio firmado com o PSD, na semana passada, especialistas
avaliam que ele se consolida como o candidato que mais terá exposição durante a
campanha. Pode chegar a sete minutos de tevê, caso consiga atrair as outras
seis legendas com as quais tem conversado — PPS, PRB, Podemos, PSC, PSDC e PV,
pela lista que ele mesmo citou ontem, em entrevista coletiva, após participar
do Fórum de Mobilidade ANPTrilhos.
Apesar
de se manter com pouco mais de 5% nos índices de intenção de voto, de acordo
com as pesquisas mais recentes, é atraente, para os partidos, o fato de que
Alckmin já tem garantida uma exposição muito maior que a de candidatos que costumam
aparecer com bom potencial de votos, mas que não terão visibilidade durante a
campanha. É o caso de Jair Bolsonaro (PSL), que, apesar de liderar as
pesquisas, tem apenas sete segundos de tevê, e Marina Silva (Rede), com quatro
segundos, ambos sem nenhum indicativo de aliança com outras legendas.
Injeção
de ânimo
A
sinalização emitida pelo apoio do PTB também dá fôlego para que Alckmin avance
nas negociações com o chamado “centrão”, grupo que inclui DEM, Solidariedade e
PP. “Uma nova aliança, além de mais tempo de exposição, sempre traz perspectiva
de poder. Ao aparecer mais, aumentam as chances de que Alckmin chegue ao
segundo turno. Quando ele mostra que está crescendo e que consegue atrair
apoio, outros partidos tendem a entrar no barco dele”, explicou o cientista
político André César, consultor da Hold Assessoria Legislativa.
Do
centrão, o mais inclinado ao tucano atualmente é o DEM, que pode conseguir
emplacar um vice, caso se junte a Alckmin. O nome do deputado Mendonça Filho
(DEM-PE), ex-ministro da Educação, tem sido sondado para ocupar o posto, em uma
eventual chapa. Além disso, a agenda econômica de Alckmin é mais compatível com
a do centrão, em especial com a do DEM, do que a de Ciro Gomes, o que facilita
na hora de chegar a um consenso sobre o direcionamento de pautas importantes.
Pressão
As
convenções partidárias, fase durante a qual as alianças serão oficializadas,
começam amanhã e vão até 5 de agosto. Esse é o prazo limite para que as chapas
sejam fechadas. Na avaliação de César, Alckmin deve ser o primeiro a anunciar a
chapa, embora ainda não tenha consolidado todas as alianças que devem avançar.
“Ele deve continuar querendo mostrar que não está para brincadeira, que é a
opção mais consolidada”, explicou o especialista.
Além
do calendário apertado, o anúncio do PTB trouxe mais pressão às legendas que
ainda não se decidiram. “Ninguém quer ser o último a definir o apoio, porque
isso significa perder poder”, ressaltou o cientista político Sérgio Praça, da
Fundação Getulio Vargas (FGV). A lógica é que os partidos que fecham primeiro
mandam o recado de que estão subindo junto com Alckmin. Assim, caso o tucano
vença, eles terão melhores “recompensas” depois, por terem confiado nele
primeiro. Ou seja, o partido que deixar para apoiar por último algum candidato
que venha a ganhar a disputa será, também, o último na lista de prioridade
quando ele for distribuir os ministérios, por exemplo.
Em
relação a isso, Alckmin afirmou ontem que não negociou com PTB espaço
governamental, como pastas e secretarias. O assunto veio à tona durante a
coletiva, quando o tucano foi questionado sobre o fato de o PTB estar na mira
da Justiça, com a Operação Espúrio, que investiga fraudes em registros
sindicais, e ter protagonizado escândalos no Ministério do Trabalho nos últimos
meses. Alckmin afirmou que “todos os partidos têm bons quadros” e garantiu que
vai “buscar os melhores deles”. “O partido tem bons prefeitos, bons
parlamentares”, disse.
Ataques
a Meirelles
O
senador Renan Calheiros (MDB-AL) não para de direcionar ataques contra o
ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pré-candidato do partido à
Presidência da República. “Henrique Meirelles nos rebaixa. Tem 1% dos votos,
que atrapalha as alianças... Vamos mostrar que o partido não está à venda”,
disse Renan em um novo vídeo encaminhado na noite de ontem para os integrantes
do partido com direito a voto na convenção do MDB no próximo dia 2, onde pede
que eles não transformem o partido em uma “legenda de aluguel”.
Fontes
próximas ao parlamentar contam que, desde quinta-feira passada, Renan vem
telefonando para os integrantes do partido, alegando que Meirelles não é
originário do partido e, sim, do mercado financeiro. Ele, inclusive, declarou
apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso na sede da Polícia
Federal em Curitiba.
Para
especialistas, a atitude de Renan mostra uma estratégia política de
sobrevivência uma vez que ele e seu herdeiro, Renan Filho, atual governador de
Alagoas, buscam se reeleger no estado, e ganhar mais influência dentro da
legenda, pois ambos lideram as pesquisas de intenção de voto. O senador, no
entanto, é investigado pela Polícia Federal por denúncias no âmbito da Operação
Lava-Jato e há mais de 15 processos abertos contra ele no Supremo Tribunal
Federal (STF).
Meirelles,
por sua vez, não ficou quieto e deu o troco ontem: “Tenho ouvido que essa
opinião manifestada pelo senador me favorece, pois mostra um combate de
biografias. A minha é limpa. Fui presidente do Banco Central, ajudei os
brasileiros a saírem da pobreza. No Ministério da Fazenda, tirei o Brasil da maior
recessão. Tenho uma carreira inquestionável”, disse o pré-candidato em um
evento em Brasília.
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