Ana
Nunes, Rosenilde Alves, Francisca Rosimar, Nicolau Neto e Homero Henrique em
mesa de debate durante o II Seminário Regional Escola Espaço de Reflexão, em
Barro-CE (Foto: Fabrício Ferraz)
|
A
Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc), por intermédio da 20ª e 18º
Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 20 e 18), realizaram
entre os dias 18 e 20 de junho II Seminário Regional "Escola: Espaço de
Reflexão”.
Os
seminários tiveram como temática norteadora “Diversidade e Inclusão – Uma
Perspectiva de Educação em Direitos Humanos na Escola”. Para o professor
Roberto Souza, Coordenador da Crede 20, o evento se configura como “uma
necessidade desse tipo de debate ocorrer nas escolas como espaço de formação
dos sujeitos”. Segundo ele, “muito da nossa formação humana ocorre na família,
mas muito hoje pelo tempo que se passa no espaço da escola, não se pode ignorar
essas questões enquanto instituição, pois contribui na constituição do caráter
das pessoas e não somente na formação cognitiva”. O professor mencionou também
que o seminário já está presente na agenda anual da Crede e realçou a
importância de se levar as discussões para as salas de aulas.
A
professora Coordenadora da Crede 18, Luciana Brito, argumentou acerca do
objetivo central do seminário que é o de colaborar no desenvolvimento de
práticas pedagógicas corroborem para o pensamento crítico e reflexivo de
estudantes e docentes da rede estadual que levem em consideração a abordagem de
temas relacionados à cultura do respeito às diferenças.
Para
atender a essa expectativa as duas Coordenadorias contou com a articulação de
um grupo de trabalho regional que teve a frente os professores Fabrício Ferraz
(Crede 20) e Maria Alexandre (Crede 18). Na primeira, o evento foi realizado na
EEEP Professor José Osmar Plácido da Silva no município de Barro no dia 18 e na
segunda no Centro de Educação de Jovens e Adultos Monsenhor Pedro Rocha (CEJA)
no município de Crato.
Mesas
de Debates e Oficinas foram organizadas e vários convidados e convidadas para
conversarem acerca de temáticas que versassem sobre o respeito e a valorização
das diversidades. Em Barro, por exemplo, o professor, palestrante, blogueiro e
ativista dos direitos civis e humanos das populações negras pelo Grupo de
Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), Nicolau Neto, debateu sobre a presença do
racismo nos espaços de poderes, com ênfase nas escolas. Nicolau trouxe a luz do
debate que contou com a participação de professores/as, gestores/as escolares,
discentes e pais vários questionamentos. Qual é a história que se percebe nas
escolas quando o assunto é humanidade e diversidade?; Qual é a história da
África que se constrói nas instituições de ensino?; Quanto a africanos e
afrodescendentes, qual lugar eles ocupam na construção da história?; Que
imagens estão estampadas nos livros didáticos?... Segundo o professor, a ideia
não era apontar respostas, mas chamar o público para refletir. “Se fizermos
essas reflexões, veremos que não podemos baixar a guarda, pois vivemos e
convivemos com um racismo estrutural e institucional”.
Nicolau
fez menção ainda acerca de várias formas de manifestação do racismo, como a
explícita – agressões verbais e físicas, negação de ocupação de espaços ao
outro/a e a implícita, com destaque para o silenciamento pedagógico que é tão
cruel quanto. Para reforçar seu pensamento, Nicolau arguiu acerca das políticas
afirmativas, fruto principalmente da luta dos movimentos negros, como a Lei 10.639/03
que alterou a Lei 9.394/96 (LDB), tornado obrigatório o ensino da cultura
africana e afro-brasileira nas redes públicas e privadas de ensino. Para ele,
mesmo passados 15 anos de vigência da lei, poucas alterações foram vistas no
sentido de combate efetivo ao racismo e as desigualdades dele resultante. “O
que se aprende na escola, infelizmente”, disse ele, "ainda é fruto de um
currículo europeizante que torna invisível o povo negro. Ainda é uma história
que tem o negro e a negra como inferiores".
“A
história na escola não é, nem de longe, uma história que diversifica, que
valoriza e positive a comunidade negra, mas aquela narrativa que naturalizou a
transformação de africanos em escravos”, pontuo Nicolau. Assim, disse, “fica
difícil o combate ao racismo, pois umas das armas mais poderosas para isso, a
educação escolar, não tem ainda apresentado um currículo que visibilize a
negritude. É necessário, por tanto, uma educação que reconheça que é racista,
uma sociedade e um país que reconheça que é racista, para que se efetive as
políticas afirmativas já elencadas e que se construa outras de reconhecimento,
de respeito e valorização das diferenças, com destaque para uma relação étnico
racial positiva”. Ele concluiu realçando sobre a importante iniciativa do seminário,
visto que é um é um ato de reconhecimento de que somos uma nação racista. E
isso já é um passo.
Já
Homero Henrique, professor e assessor pedagógico na Coordenadoria de
Desenvolvimento Educacional e Aprendizagem (Codea, da Seduc), versou sobre Gênero
e Sexualidade, trazendo para discussão a necessidade de ver no lugar do outro,
respeitando suas diversidades. Homero apresentou dados chocantes acerca do
feminicídio e da morte da comunidade LGBT no pais. “Somos um dos países que
mais mata mulheres e pessoas que não se reconhecem e não se identificam como
homens e, ou, como mulheres”, disse ele, apontando uma onda de discursos de
ódio que tem ganhado corpo, principalmente nas redes sociais.
Ana
Maria Nunes, diretora da Escola de Ensino Médio Dona Antônia Lindalva de
Morais, em Milagres e Rosenilde Alves, professor de História e Filosofia da
EEFM Simão Ângelo, de Penaforte, contribuíram na mesa de debate frisando sobre
ações permanentes desenvolvidas na escola acerca do eixo norteador das
discussões e acerca do momento político pelo qual passa o pais,
respectivamente, com Francisca Rosimar como mediadora.
A
tarde houve o desenvolvimento de oficinas com temas como “Brincadeiras
Perigosas: Riscos e Impactos do Mundo Digital para Crianças e Adolescentes” (Joel
Jerry, Facilitador); “Quem ama não Agride: Relacionamentos Abusivos na
Adolescência” (Facilitador – Homero); “A Cultura do Debate e Formação Política”
(Francisca Rozimar, Facilitadora); “Sociedade Singular, Gênero Plural”
(Facilitador – Licaon Rocha) e “Ancestralidade, Etnia e Corporalidade”, tendo
como facilitador o educador popular João do Crato.
De
forma semelhante, mas com algumas diferenças se desenvolveram os trabalhos em
Crato. Nicolau Neto e Homero estiveram presentes na mesa de debate e reforçaram
o que tinham conversado em Barro. Compuseram ainda a mesa de discussões Ercília
Maria, pedagoga e professora pesquisadora do programa de pós-graduação em
educação da Universidade Federal do
Ceará (UFC) que falou sobre diversidade e intolerância religiosa,
principalmente com as de matrizes africanas; a professor e psicóloga no CREAS
em Crato Swianne Tavares que versou sobre direitos humanos e a Delegada Titular
da Delegacia da Mulher em Crato. Esta última trabalhou as violências cometidas
contra as mulheres.
À
tarde, os participantes formados por docentes, estudantes e gestores/as
escolares foram segregados para participarem de grupos de trabalhos tendo como
finalidade apresentares planos de ação para serem implementados nas escolas.
"Gênero e Sexualidade" teve a mediação do professor Homero Henrique e
da professora Selene Maria; "Mediação de Conflitos" foi facilitada
pelo professor Esdras Ribeiro; "Quem Ama Não Agride" teve a mediação
da professora Maria Wilka e "Como Tratar o Racismo na Escola" foi
mediada pelo professor Nicolau Neto e pela ativista do Coletivo Camaradas, Renata.
Com informações Blog Negro
Nicolau
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