A
fauna brasileira é prenhe de animais exóticos, tais como a anta, o bicho
preguiça, o tatu-bola e o besouro rola-bosta. Mas não é só nas nossas matas que
desfilam seres esquisitos. Há na sociedade dos homens certa figura assaz
estranha e incompreensível. Refiro-me aos sujeitos que defendem o liberalismo
econômico e o conservadorismo social. Seu habitat, ultimamente, tem sido as
redes sociais, onde se multiplicam, vitaminados pela crescente disseminação do
ideário ultradireitista.
Tais
indivíduos, no campo econômico, pregam a liberdade plena e desvigiada do
mercado, sem interferências estatais na livre iniciativa, na política de juros
e de preços, nas relações de consumo, na concorrência empresarial etc. O
mercado é uma espécie de deus, virtuoso e incorruptível, digno de veneração e
absoluto respeito.
Limitá-lo
ou discipliná-lo secundum legem é heresia, tal qual o assassínio de uma vaca na
Índia. Dentro dessa perspectiva, liberdade é sinônimo de democracia, civilidade
e desenvolvimento. Até aqui,tudo bem. O liberalismo – seja o econômico, de Adam
Smith, ou o jurídico, de John Locke – é uma das teorias políticas seminais da
humanidade, diretamente responsável pelo surgimento da ideia de direitos e
garantias fundamentais inalienáveis dos indivíduos, assim como pelo
fortalecimento dos postulados da democracia moderna.
Só
que agora vem a face estranha daquela gente. Junto com a pregação desse
liberalismo econômico, erguem eles o estandarte do tal conservadorismo social.
Diferentemente do que desejam para o mercado, nas relações sociais defendem a
presença de um Estado forte e censor, impositor de regras comportamentais,
afetivas e sexuais, sustentáculo da moral, dos bons costumes, da família
“tradicional” e da fé cristã. Aqui, portanto, liberdade é sinônimo de baderna,
anarquia e subversão da ordem.
Gente
mais esquisita: liberdade para o mercado e censura para as pessoas; para o
dinheiro, trovas de amor, para os indivíduos, trevas de pavor. Pode-se chamar
isso de síndrome da bipolaridade política.
Quanto
aos bichos exóticos da fauna brasileira, estes sim, torço para que consigam
multiplicar suas espécies e que jamais entrem em extinção, inclusive o
rola-bosta.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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