A
história política de Ciro Gomes (PDT) já passeou por amplo espectro ideológico
nas ações e nas alianças. Dificilmente haja algum partido do qual já não foi
aliado - e também adversário. A visão de gestão também mudou ao longo do tempo.
Ciro
nunca foi propriamente alinhado a uma escola ou corrente. Desenvolve uma
concepção própria. Hoje, está mais para desenvolvimentista.
Em
1994, ao assumir o Ministério da Fazenda, definiu o programa de privatizações
como uma de suas três prioridades e reduziu impostos de importação promovendo
grande abertura. Sua intenção era ampliar a oferta de produtos e segurar a
pressão do consumo sobre a inflação. Nessa época, as federações de empresários
se insurgiam contra a abertura e cobravam protecionismo. Nem pareciam os mesmos
liberais que estão aí hoje. Ao mesmo tempo, tentou coibir o consumo, fez o que pôde
para controlar preços e ameaçou seguidamente empresários que repassassem
aumentos ao comprador.
Hoje,
ele defende um neodesenvolvimentismo com ingredientes de liberalismo.
Em
síntese, Ciro Gomes é capaz de defender qualquer plataforma - e de argumentar
bem em defesa dela. Também pode conversar e fazer aliança com qualquer um.
Porém, o perfil de sua candidatura e seu discurso é de centro-esquerda. É nesse
campo, sempre alinhado com o PT, que ele atua há 15 anos. E é, também, onde
enxerga filão capaz de fazer dele presidente da República.
Ocorre
que o pré-candidato negocia aberta e explicitamente com DEM, PP, PRB e SD. Está
entre os agrupamentos de forças mais conservadoras que pode haver no País. A
mistura de concepções e práticas é, digamos, intrigante: o bloco reúne a defesa
do livre mercado com o uso político da religião, e inclui ainda fisiologismo e
denúncias de corrupção. Como trazem junto tempo de rádio e televisão, quase
todas as candidaturas, e governos, adorariam tê-los ao lado.
Em
outro momento, Ciro disse que só teria esse bloco na aliança se estivessem
também com ele PSB e PCdoB. A declaração não foi bem vista, mas as coisas
parecem ter caminhado mais com a centro-direita que com a centro-esquerda.
A
candidatura diz que as conversas ocorrem em torno de programa. E aí vai outro
problema. Essa coalizão é capaz de apoiar qualquer partido, político ou ideia,
desde que para ficar perto do poder.
PP
e PRB estavam no governo Lula, no governo Dilma Rousseff e apoiaram o
impeachment. O DEM, na época PFL, deu contribuição importante para a primeira
eleição de Lula. Aliás, o partido também havia sido determinante como fiador de
Ciro no Ministério da Fazenda, no governo Itamar Franco. Mas isso é outra
história.
O
fato é que Ciro, para convencer como candidato de centro-esquerda, precisará de
mais do que discurso. As companhias costumam ser uma das medidas mais adequadas
para avaliar políticos.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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