O Facebook divulgou em nota ontem (28/06) que vai adotar no Brasil, antes das eleições deste ano, ferramentas de transparência em anúncios políticos. Os recursos já haviam sido divulgados em maio pela empresa, mas estavam funcionando em poucos países, como nos Estados Unidos. A medida tem como foco as eleições, valendo para conteúdos políticos em geral.
Os
anúncios políticos impulsionados por páginas entraram na mira de questionamentos
de autoridades e organizações da sociedade civil quando o Facebook passou a ser
questionado pela influência em disputas como as eleições dos Estados Unidos de
2016 e o referendo de saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit.
A
empresa foi bastante criticada pelo vazamento de dados de milhões de usuários,
que teriam sido usados pela empresa britânica de marketing digital Cambridge
Analytica, no pleito de 2016, em favor do ganhador, hoje o presidente Donald
Trump. A possível influência de forças russas neste processo, por meio da
plataforma, motivou a abertura de uma investigação no Congresso do país.
Ferramentas
Os
usuários poderão visualizar os anúncios que estão sendo promovidos por uma
página. Isso não apenas caso eles apareçam nos conteúdos da linha do tempo
(chamada de feed de notícias), mas também ao acessar o endereço de cada página.
Isso valerá também para outros serviços da empresa, como Instagram e Messenger.
Para acessar a informação, o usuário deve procurar pelo link “informações e
anúncios”. Também haverá a possibilidade de denunciar este tipo de conteúdo.
Será
criada uma identificação de anúncios políticos, para diferenciá-los de outros.
Essa foi uma preocupação manifestada nos Estados Unidos, já que o design do
feed de notícias não destacava este tipo de conteúdo, por vezes possibilitando
a confusão deles com outros anúncios ou até mesmo com notícias não pagas.
Como
a legislação brasileira só permite o anúncio pago nas eleições por candidatos,
devem aparecer com este rótulo as publicações impulsionadas de quem está
disputando algum cargo.
Arquivo
Outro
recurso nas páginas será o chamado “arquivo”, onde ficarão os anúncios
veiculados por aquele perfil. Este tipo de recurso foi cobrado por autoridades
e especialistas pela preocupação de que a segmentação e personalização de
anúncios poderia ser explorada por um candidato, enviando mensagens direcionadas
a cada público que poderiam ser, inclusive, contraditórias entre si.
Com
a possibilidade de acessar um arquivo, o eleitor pode ver tudo o que o
candidato vai impulsionar na plataforma.
O
Facebook anunciou também que serão disponibilizadas mais informações sobre as
páginas, independentemente de veicularem ou não anúncios. O Facebook não
detalhou que tipo de informações serão acrescidas, mas citou como exemplos os
nomes antigos (é possível trocar os nomes das páginas na plataforma) e as datas
de criação (recurso que pode ajudar a identificar perfis criados
especificamente para eleições ou para determinadas ações, como impulsionar
anúncios).
Luz
sobre anúncios
Além
destas medidas, em abril a companhia já havia divulgado outras regras para as
páginas. Entre elas, a fiscalização dos responsáveis por estes perfis, para
garantir a identificação no caso de muitos seguidores. No primeiro trimestre, a
empresa derrubou seis milhões de contas falsas por dia a partir deste tipo de
monitoramento.
O
Facebook argumentou que as medidas visam coibir o mau uso da plataforma.
“Ao
lançar uma luz sobre todos os anúncios, bem como sobre as páginas que estão
rodando esses anúncios, conseguiremos evitar abusos, ajudando a garantir que
pessoas mal intencionadas tenham responsabilidade sobre os anúncios que
fizerem”, afirmou o comunicado, assinado pelo diretor de gerenciamento de
produto, Rob Leathern, e a diretora de marketing de produto, Emma Rodgers.
Na
avaliação da advogada especialista em direito digital e integrante do Comitê
Gestor da Internet no Brasil Flávia Lefévre, a possibilidade de acessar os
anúncios independentemente do que aparece no feed de notícias ajuda a furar as
"bolhas" causadas pela seleção de conteúdos operada pelos algoritmos
do Facebook.
Por
outro lado, a advogada se preocupa com a fiscalização dos responsáveis pelas
páginas. “A possibilidade de você ter um pseudônimo, uma conta alternativa,
fortalece sua liberdade de expressão. A gente tem tido casos de jornalistas e
comunicadores ameaçados e sendo mortos porque defendem determinadas ideias,
então isso pode calar a boca de muita gente”, alertou.
Com
informações portal Agência Brasil
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