A
mesma popularidade que fortaleceu o movimento dos caminhoneiros contra o preço
dos combustíveis também abriu margem para que boatos relacionados à crise
tomassem as redes sociais.
Por aplicativos de mensagens, não foram poucos os
falsos alertas e as informações mentirosas que circularam em mais de uma semana
de mobilização. Inclusive, com apropriação política do caos.
Os
pedidos de intervenção militar, que estiveram presentes em parte dos discursos
dos manifestantes, ficaram ainda mais evidentes pelos boatos plantados no
WhatsApp.
Um
dos mais compartilhados dava conta de uma falsa informação de que os militares
haviam pressionado o presidente Michel Temer a encerrar a greve, sob pena de
provocar a intervenção militar no País. Era mentira.
Também
houve quem recebeu e compartilhou outras falsas informações: como a reação dos
deputados federais à mobilização por meio do corte de energia no País, o falso
áudio do presidente de um sindicato de caminhoneiros que pedia o estoque de
comida e combustível, a mentirosa lista de reivindicação dos manifestantes que
pedia a renúncia do presidente da República Michel Temer... E muitos outros.
Só
a página Boatos.Org, que toma para si a responsabilidade de checar a veracidade
das informações que circulam nas redes sociais, contou mais de 15 mensagens que
ganharam notoriedade pelo compartilhamento via WhatsApp mas que não são
verdadeiras.
O
jornalista Edgard Matsuki, que edita a página, diz que o volume de boatos em
torno desse acontecimento se compara ao que circulou em casos como da prisão do
ex-presidente Lula e do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco.
“Sempre que tem algum fato com alguma grande comoção, os boatos se alastram”,
explica.
O
jornalista diz que, no caso da greve, as publicações se concentraram no
WhatsApp, se valendo, quase sempre, de informações com cunho alarmista. Matsuki
explica que essa é uma estratégia usada pelos criadores de boatos para
facilitar a disseminação da informação falsa.
“Houve
muito aproveitamento de vídeos antigos e o uso de áudio, que é um conteúdo mais
acessado e que, dependendo do tom de voz, pode passar ideia de credibilidade e
tom de urgência”, demarca o jornalista.
O
professor Márcio Moretto Ribeiro, um dos coordenadores do Monitor do Debate
Político no Meio Digital, disse que chamou atenção o conteúdo relacionado à
intervenção militar. Para ele, grupos políticos identificaram que parte dos
manifestantes assumia essa bandeira e, por meio dos boatos, tentou pautar o
debate por esse viés. “A propagação disso está muito associado a alguma
informação que a pessoa já acreditava e o texto acaba respaldando”, afirma.
A
partir do levantamento das páginas mais acessadas pelo assunto, Moretto
compreende que, além dos boatos, houve também grande repercussão do caso em
páginas alternativas à direita e também à esquerda.
Ele
diz que o assunto confundiu o jogo político, que estava muito polarizado entre
o discurso “antipetista” e do “golpe”. “Essa greve deu uma bagunçada nessas
narrativas. Eles (caminhoneiros) têm uma organização com cara de greve e
discurso contra o Temer que se aproxima da esquerda, mas também essa narrativa
da intervenção militar que chega à direita”, analisa.
Tom
“dúbio” da greve, que reforçou discursos tanto de esquerda quanto direita,
balançou interpretações e acabou facilitando a disseminação de boataria
Boatos
sobre a greve dos caminhoneiros:
Eleições
antecipadas
Circulou
falsa lista de reivindicação dos caminhoneiros que pedia a renúncia de Temer e
dos presidentes da Câmara e do Senado, além de eleições antecipadas
Bloqueio
do WhatsApp
Boato
apontava que o Governo Federal bloquearia a internet e o WhatsApp no Brasil
para evitar comunicação.
Corte
de energia
Falsa
“denúncia” dizia que os deputados federais assinaram liminar que determinava
corte de energia em todo o País.
Confisco
de contas
Áudio
de suposta funcionária do Banco do Brasil alertava que haveria confisco de
contas bancárias.
Estado
de sítio
Boato
dizia que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pediu para que Temer decretasse
estado de sítio por conta da greve.
Intervenção
militar
Texto
no WhatsApp dizia que generais do Exército tinham dado prazo para Temer
solucionar a greve dos caminhoneiros, sob risco de ocorrer intervenção militar
no País.
Estoque
de comida
Por
áudio falso, suposto presidente do sindicato dos caminhoneiros alertava à
população a estocar comida e combustível.
Temer
expulso
Vídeo
mostrava presidente Temer sendo expulso de protesto dos caminhoneiros. O vídeo
ocorreu após desabamento em São Paulo, não foi no contexto da greve.
Greve
geral
Cartaz
“anunciava” que haveria greve geral em todo o País na última segunda-feira, 28,
sem participação de partidos, políticos e sindicatos.
Com
informações portal O Povo Online
Clique aqui e confira como detectar boatos e notícias falsas
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