13 de junho de 2018

Altaneirense é palestrante na UFCG


O professor altaneirense José Nicolau Neto foi um dos palestrantes da 9ª Edição do Artefatos da Cultura Negra Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Cajazeiras, Paraíba, iniciado na  segunda-feira (11/06), ciclo de palestras voltadas a temáticas da Africanidade e Afrodescendência no país.

Na universidade, a ação tem a coordenação da professora doutora Kássia Mota e do professor doutor Alexandre Joca, ambos do curso de Pedagogia que explicaram a necessidade de se implantar dentro da instituição discussões mais efetivas acerca do combate ao racismo e de fomento a articulações com outros sujeitos históricos engajados nessa luta.

Para tanto, foram convidados a professora doutora Cícera Nunes, vinculada à Universidade Regional do Cariri (URCA) e o professor especialista Nicolau Neto, membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC). Ambos discorreram sobre a relação “Movimento Negro e a Universidade na Luta Antirracista”.


Na sua palestra professor Nicolau levantou para a discussão uma reflexão acerca do papel do movimento negro. Segundo ele, é preciso partir da premissa de que enquanto coletividade, que promove ações políticas, educacionais e culturais, ele reeduca a si próprio, a sociedade e o estado acerca das relações étnico-raciais no país. O movimento negro tem que ter um objetivo explícito e não pode fugir dele, tratando-se de emancipar os sujeitos que sempre tiveram e ainda tem sua história negativada. É a partir dessa perspectiva que o movimento negro pode e deve atuar, como um sujeito político que politiza, emancipa e ressignifica a raça.

O professor fez menção as várias formas de atuação e de mudança pela qual passaram os movimentos negros, tendo como recorte temporal a proclamação da república onde o pensamento europeizante era mais sentido. A Frente Negra Brasileira (anos 30), O Teatro Experimentral Negro (décadas de 40 a 60), A Imprensa Negra Paulista (anos 60 ) e os Fóruns da Política Educacional, tendo tido discussões sobre raça na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em 1961. Todos estes movimentos ao trazerem para o público o debate sobre o racismo e a necessidade de se construir estratégias políticas e educacionais para a superação das desigualdade raciais, contribuíram para ressignificar a raça, dando-lhe forma não inferiorizante de se manifestarem.

Citando a pedagoga brasileira Nilma Lino Gomes, Nicolau afirmou que a partir dos anos 80 do século passado houve confluência de determinados fatores do racismo, principalmente durante a ditadura civil-militar, que permitiram a formação de uma organização coletiva de caráter nacional, como o Movimento Negro Unificado. É aqui que ativistas negros passam a concluírem graduações e iniciam uma trajetória acadêmico-político, tendo intelectuais engajados e com pesquisas sobre o negro e a negra e suas historicidades como objetos/sujeitos de estudos.

Ainda segundo Nicolau, é nessa conjuntura que irá aparecer as ações afirmativas como demanda real, com destaque para a modalidade cotas. Ao mencionar a criação do Grunec em 2001, ele ressaltou que a partir de 2013 é perceptível algumas mudanças fruto de muita luta, como por exemplo, a Lei 10.639/03, as cotas raciais, as cotas nos concursos públicos e o Estatuto da Igualdade Racial). Elas representam mecanismo de reconhecimento do racismo e ao mesmo tempo significa medidas de combate as desigualdades raciais. Nicolau ainda frisou no campo dos avanços, o I Seminário de Ações Afirmativas: a Implantação do Sistema de Cotas realizado na URCA em fevereiro de 2017.  Para cada um desses avanços o membro do Grunec citava um retrocesso sob o pano de fundo do aumento desenfreado de ondas conservadoras e racistas.

Por fim, ele citou que a pouca presença de negros e negras nas universidades tem mobilizado pouco estas instituições e trouxe a luz da conversa os dados do censo da educação superior que apontou que entre 1997 e 2011 o percentual de negros/as no ensino superior passou de 4 para 19,8%, o que em termos numéricos significa algo de 13 milhões de jovens. Apesar disso, disse ele, os números não são animadores vistos que somos um país de maioria negra, afirmando, outrossim, que há nesse caso um problema estrutural e institucional grave que precisa ser resolvido.

O debate sobre o racismo e as desigualdades dele resultante sempre esteve posto, mas se faz necessário e urgente um enfrentamento mais efetivo por parte das instituições governamentais, completou.



Com informações Blog Negro Nicolau e fotos de Kássia Mota

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