O
governador Camilo Santana (PT) repete agora o que, futuramente, pode se mostrar
um grande erro: um arco de alianças tão amplo cuja acomodação de interesses se
inviabilize no curto prazo, despedaçando-se em seguida. Já aconteceu antes, e
não faz tanto tempo assim.
Corria
2006, e o leque de partidos que apoiavam a candidatura de Cid Gomes (então no
PSB) ao Governo do Estado tinha representantes de todos os grandes grupos
políticos do Ceará: do tucanato ao petismo, com José Guimarães e Luizianne
Lins, passando ainda por Eunício Oliveira e Moroni Torgan, além do hoje senador
Tasso Jereissati. A chapa que disputava a corrida eleitoral contra o governador
tucano Lúcio Alcântara era, então, um grande coração de mãe.
Pouco
tempo depois da vitória cidista ainda no primeiro turno, o coração foi
encolhendo. Até ficar pequeno para tanta gente. O recém-eleito para o Executivo
estadual não conseguia harmonizar interesses diversos, às vezes antagônicos.
Quatro anos depois, em 2010, esse movimento chegaria a seu clímax, e o barco
conduzido por Cid veio a pique – o primeiro a ser rifado foi justamente Tasso,
cuja candidatura ao Senado foi para as cucuias.
Anos
depois, seria a vez de Luizianne (cujo sucessor, Elmano Freitas, foi derrotado
em 2012) e, na sequência, Eunício (vencido em 2014 na disputa ao Abolição). Sem
exceção, os Ferreira Gomes atropelaram todos que se interpuseram em seu
caminho. A vítima mais recente, Domingos Filho (PSD), conhece bem o sabor da
lona. O que não o impediu de voltar ao regaço governista.
Se
parece uma boa ideia do ponto de vista eleitoral, uma aliança tão grande
carreia problemas que depois podem virar bombas-relógio, estourando no colo de
alguém. Para o PSDB, por exemplo, o preço foi alto. Para o PT de Luizianne,
também. Para o MDB de Eunício, teria sido maior, não fosse o recuo estratégico
do presidente do Senado – o mesmo movimento que Tasso tentou em 2010, mas foi
isolado pelo PT, que impôs José Pimentel como postulante a uma das vagas na
Casa.
Oito
anos depois, é o futuro do próprio Pimentel que entra na roda a fim de não
atrapalhar os planos do clã no Ceará. O petista cede a vaga justamente para que
Eunício integre a chapa de Camilo.
Moral
da história: o gigantismo do leque de apoiadores é bom quando dá certo, mas
quase sempre termina em choro – as últimas quatro eleições no Ceará ensinam
isso (três para o Governo e uma para a Prefeitura). É custosa – e requer
habilidade – a engenharia para conciliar pleitos divergentes numa mesma gestão.
Além
do fato de que, para o eleitor, tanta gente num mesmo palanque pode soar
esquisito, principalmente em 2018, quando o humor dos brasileiros anda rejeitando
a classe política de A a Z. É um risco, portanto, desfilar ao lado de tanta
gente, sobretudo de quem está na mira da Operação Lava Jato. Mas isso é um
problema que Camilo terá de explicar ao eleitor.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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