Quatro
dias após caminhoneiros deflagrarem paralisações em todo o País, o governo
Michel Temer (MDB) se sentou para negociar com grevistas. A reunião,
considerada atrasada e improdutiva apesar de anúncios públicos de acordo,
rendeu ao Planalto críticas não só de adversários políticos, como também de
antigos – e essenciais – aliados no Congresso.
Muito
além da instabilidade e receios de desabastecimento, a crise expôs o processo de isolamento de Michel Temer (MDB).
Desautorizado
por presidentes da Câmara e do Senado durante as negociações com caminhoneiros,
o emedebista amarga consequências do fim de um governo impopular, com crises no
próprio partido e na base aliada.
O
principal movimento ocorreu na última quarta-feira, 3º dia de greve, quando o
Executivo ainda tratava a questão como de pouca relevância. Pré-candidato ao
Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tomou iniciativa
diante da inércia e, sem qualquer combinação, aprovou projeto que zera cobrança
de PIS/Cofins sobre o diesel até o fim do ano.
A
iniciativa de Maia, acompanhada por diversas críticas à condução do governo no
caso, deixou claro o crescente distanciamento entre o Planalto e lideranças do
Congresso, que já haviam enterrado, no início do ano, qualquer chance de
votação da reforma da Previdência.
Aliado
de primeira hora de Temer até meses atrás, o próprio presidente do Senado,
Eunício Oliveira (MDB-CE), evitou associar a crise à Casa e se distanciou de
Temer. O “xeque-mate” veio através de críticas do senador Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB), líder de um dos principais partidos de sustentação do governo.
“Cadê
o presidente da República? Cadê o ministro de Minas e Energia? Quem fala à
sociedade e fala de forma arrogante é o presidente da Petrobras. Chegaremos num
tempo em que o presidente da Petrobras é quem nomeará o presidente da
República? Se o senhor Pedro Parente não se demite, que seja demitido, pelo bem
do Brasil”, disse.
A
perda de apoio prejudica planos do governo de, passadas as eleições, retomar a
reforma da Previdência. Possíveis saídas para a crise que dependam da aprovação
de parlamentares também exigiriam maior esforço do governo, sobretudo na
perspectiva de adoção de medidas impopulares em ano de eleição.
Além
disso, o isolamento complicaria ainda a vida do presidente no caso de uma
terceira denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele - algo hoje
visto, no entanto, como pouco provável.
Paralelamente,
avança no Senado - coincidentemente ou não - projeto que prevê eleição indireta
em caso de vacância da Presidência.
Pesa
ainda contra Temer a pouca eficácia – pelo menos até agora – das ações promovidas pela gestão com o
movimento grevista. Na reunião de quinta-feira, o governo anunciou com
entusiasmo acordo que traria fim à crise, através do congelamento do preço do diesel
bancado pelos cofres da União. Só que os protestos continuaram e o Planalto
teve que apelar novamente ao Exército para desocupar vias obstruídas por
caminhoneiros.
Paralelamente,
o presidente deu respostas pessoais fracas à escalada da tensão provocada pelas
paralisações. Na quinta-feira, quando se radicalizavam movimentos pelo País,
Temer participava de entrega de carros. Depois, embarcou para Belo Horizonte
para participar de evento do Dia Nacional da Indústria.
A
opção pelo emprego do Exército, mais uma vez, foi alvo de críticas no
Congresso. “O (uso do) Exército é desnecessário (...) não parece o passo
correto neste momento. Os manifestantes estão dialogando”, disse Rodrigo
Maia.
O
próprio fato de a negociação ter ocorrido sem qualquer contrapartida inicial
dos caminhoneiros, como a liberação de trechos ocupados, também foi alvo de
críticas. “Infelizmente, palavras do presidente estão tendo pouca credibilidade
com a sociedade, que, de forma legítima, está se manifestando”, continua o
deputado.
O
descrédito das soluções propostas pelo governo e pela Petrobras prejudicam
sobretudo o legado econômico da gestão Temer, até então visto como principal
acerto de um governo que amarga taxa de 4,3% de aprovação na última pesquisa
CNT/MDA deste mês.
Com
a instabilidade trazida por caminhoneiros, o principal prejudicado é o
ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (MDB), “cara” do projeto econômico
do governo. Pré-candidato ao Planalto, ele já entrará na disputa tendo que
responder pela demora do governo em responder às mobilizações.
Questionado
na última sexta-feira sobre o tema, Meirelles foi duro na defesa das respostas
do governo no caso. “É inaceitável que, além dos problemas graves e reais dos
preços do petróleo e derivados, haja um componente político-ideológico e
empresarial nessa aliança de entidades politicamente engajadas com empresas
transportadoras”, disse.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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