As
regras do jogo eleitoral mudaram e impõem incertezas para quem pretende brigar
por um cargo eletivo este ano. Sancionada no fim do ano passado, parte da
reforma política começa a valer nas eleições de 2018, ainda amargando críticas
por pouco interferir no sistema político. O fato é que, profundas ou não, as
mudanças já exigem dos competidores novos movimentos.
Entre
as novidades deste ano, está a proibição de financiamento de empresas para as
campanhas. Os candidatos terão de se virar com recursos próprios ou com doações
de pessoas físicas, também limitadas. No caso dos deputados federais, os custos
totais não poderão ultrapassar R$ 2,5 milhão. Para estaduais, o limite é de R$
1 milhão.
A
mudança é uma das que já movimentam bastidores dos partidos, por obrigar uma
divulgação não baseada em exorbitâncias. Outra regra que tem provocado dúvidas
internas diz respeito à distribuição do fundo partidário.
Criado
para resolver a possível dificuldade de amealhar financiamento de empresas, o
fundo é estimado em R$ 1,7 bilhão de dinheiro público que deve ser dividido
entre os partidos seguindo alguns critérios. O maior aporte vai para aqueles
com representatividade no Congresso Nacional, principalmente, deputados
federais.
A
lógica de distribuição desses valores para os candidatos é de responsabilidade
de cada sigla e já tem gerado discussões internas.
Os
repasses abrem margem para prováveis disputas internas por apoio financeiro.
Isso porque há uma tendência de os partidos priorizarem deputados federais —
são eles que garantem o aumento do dinheiro advindo do fundo.
Segundo
o cientista político Valmir Lopes, a forma de financiamento é entendida como a
principal mudança, sobretudo, pelo poder dos partidos políticos na “irrigação”
desses recursos. Na avaliação dele, candidatos a deputados federais devem ser
os principais beneficiados, o que não é bem uma novidade. “Estes sempre foram
os que detinham mais recursos e possibilidades. Eles (candidatos a deputados
federais) montavam grupos de candidatos a estaduais para apoiar e isso,
provavelmente, vai continuar acontecendo”, afirma.
“Vai
ser uma campanha atípica”, opinou o vice-presidente do MDB, Gaudêncio Lucena,
considerando principalmente a questão financeira. Para ele, o teto estabelecido
para as campanhas é “ínfimo”. “Um candidato para deputado estadual gasta esse
valor só com papel (material de divulgação), gasolina e equipe”, afirma.
Conforme
o emedebista, o critério de distribuição do fundo partidário será definido em
reunião do diretório nacional do partido, mas ele defende que os valores não
sejam repartidos de maneira igualitária entre os candidatos.
“Provavelmente,
os partidos investirão recursos do fundo em proporção maior naqueles candidatos
que têm chances reais de se eleger. E é natural que os partidos queiram eleger
número maior de federais”, completa Gaudêncio, embora reconheça que essa
composição cria “desigualdades”. “Isso será motivo inclusive de atrito entre os
candidatos”, prevê.
No
PT, se fortalece a ideia de que os recursos devem chegar de maneira proporcional
a todos os candidatos da sigla. “Mesmo os recursos sendo limitados, a gente
pretende dividir igualmente”, pondera o presidente interino do PT Ceará, Moisés
Braz. A decisão também dependerá de debates com a executiva. Ele entende que as
mudanças podem gerar campanhas “mais simples”, mas deve eliminar “vícios de
campanha”. “Quem quer oferecer vantagens vai ter mais dificuldade. As regras
também vão deixar mais clara essa fiscalização”, aposta.
Considerando
as mudanças como “positivas”, o presidente estadual do PSDB, Francini Guedes,
já defende que os recursos do fundo sejam repartidos respeitando alguma
igualdade. “Para os federais, no entanto, é possível que seja um pouco maior
pela própria condição da candidatura”, afirma. Essa decisão ainda não está resolvida
internamente e só será definida após decisão do diretório nacional, prevista
para o próximo dia 9, e de reunião com a executiva estadual.
O
fundo, embora seja considerado importante pelos partidos, não tem sido
considerado a principal forma de arrecadação. Conforme o presidente estadual do
Democratas, Chiquinho Feitosa, os repasses para deputado estadual podem não
chegar a 20% do teto. Na avaliação dele, o resultado deverá ser campanhas mais
modestas. “É o natural, porque eu não sei se tem algum partido em condições de
oferecer R$ 1 milhão para custear uma campanha para deputado estadual, por
exemplo”, disse.
Enquanto
as mudanças de legislação ainda precisam passar por adaptação entre os maiores
partidos do País, o Psol diz que as alterações não interferem no que a sigla já
vinha fazendo nos últimos anos. “Para nós, isso não faz diferença, porque a
gente sempre fez campanha sem altas somas de dinheiro. Na última campanha para
governador, gastamos R$ 60 mil. Elegemos um deputados estadual com poucos
recursos financeiros e com soma de energia militante”, diz o presidente
estadual do Psol e pré-candidato de oposição ao Governo, Ailton Lopes
Segundo
ele, a reforma empreendida foi aquém do esperado. “As campanhas continuam com
limites absurdos. A gente entende que essa disputa tem que ser por ideais, mas
quando a gente vê somas milionárias das campanhas a gente percebe que o poder
do dinheiro influencia, sim”, afirma.
Para
Lopes, as novas regras não conseguem reduzir o que chama de “reflexos da
democracia pelo dinheiro”. “Os limites de gastos com campanha ainda são muito
altos e ainda se permite que empresários deem somas vultuosas”, comenta.
Com
informações portal O Povo Online
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