A
nova demografia médica feita pelo Conselho Federal de Medicina e pelos
Conselhos Regionais demonstra que, apesar de o número de médicos ter aumentado
vertiginosamente, sua distribuição continua desfavoravelmente desequilibrada.
Em
1920, existiam 14 mil médicos para atender uma população de 30 milhões de
brasileiros. Hoje são mais de 450 mil médicos atuantes no Brasil, um terço
deles é de generalistas, o resto conta com alguma área específica de atuação.
Nos últimos dez anos aumentaram 100 mil médicos para um crescimento para menos
de 20 milhões de pessoas. O número de médicos cresce 15% ao ano e vai crescer
muito mais, pois o total de vagas nas escolas médicas subiu de 8,5 mil no ano
2000 para mais de 29 mil em 2018.
Apesar
de o número de médicos atuando no país ter aumentado nas últimas cinco décadas
666% e a população 120%, a má distribuição de profissionais continua a mesma.
Mais da metade dos médicos estão nas capitais, e os estados mais ricos têm até
cinco vezes mais médicos proporcionalmente do que os estados mais pobres.
O
estado que menos médicos tem é Roraima, com 816, mas o mais desprovido
proporcionalmente é o Maranhão, que possui apenas 0,9 médico para cada mil
habitantes. Quem tem mais médicos proporcionalmente é o Distrito Federal, à
razão de 4,35/mil.
O
índice médio de médicos por mil habitantes no Brasil chegou a 2,18. Porém, a
variação entre cidades continua muito grande: nas 27 capitais, o índice chega a
5,07 médicos e nas cidades do interior a média é de apenas 1,28 médico por mil
habitantes. As regiões Norte e Nordeste, além de menos médicos, têm uma
concentração descomunal no confronto capital e interior, chegando a quase 30
vezes mais, como ocorre com Sergipe.
Cidades
pequenas são muito mal servidas: as mais de 1,1 mil cidades com menos de 100
mil habitantes acolhem 10% da população brasileira e muitas delas não têm
médico algum.Já a cidade de São Paulo, com mais ferramentas de trabalho para os
médicos e melhores salários, possui 28% de todos os médicos que atuam no
Brasil. São cinco por mil habitantes.
As
decisões de carreira mudaram, antigamente o médico ficava onde se formava e
tinha uma carga de trabalho acima de 60 horas semanais. Recém-formados preferem
a cidade onde nasceram para trabalhar em 44,5%; 20,4% escolhem o local em que
se formaram e 12,7 % preferem o lugar onde concluíram a residência médica.
A
grande maioria, 80%, prefere trabalhar em hospitais. A expectativa de renda
mensal da maioria dos formandos é de 20 mil reais em uma jornada de trabalho
flexível, onde se pode equilibrar a dedicação ao trabalho e a vida pessoal.
Sem
atingir a verdadeira causa da falta de médicos, os programas do Ministério da
Saúde erraram feio. Hoje propagamos as vagas de cursos de qualidade duvidosa,
formando profissionais sem a necessária base de conhecimento e experiência para
atuar, o que dificulta ainda mais o acesso à saúde da população mais
necessitada.
Os
responsáveis pela pesquisa chamam atenção: a competição empurrar os malformados para as áreas de maior
demanda, piorando a qualidade de assistência médica nas regiões mais
necessitadas. É transformar o ruim em péssimo.
O
estudo está sendo utilizado pelos conselhos médicos para reforçar a necessidade
de controle na criação de novas escolas médicas e de tornar obrigatória uma
prova de validação, como ocorre com o exame da Ordem dos Advogados.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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