Pedro Jerônimo, Antônio Teodoro e Frei Tito estavam na lista do ditador Geisel |
No
mínimo três cearenses morreram ou desapareceram após o então ditador do Brasil,
presidente Ernesto Geisel (1974-1979) autorizar, a partir de 11/4/1974, a
execução de “subversivos e terroristas”. Um memorando da CIA, a Agência de Inteligência
Americana, revelado na semana passada pelo pesquisador Matias Spektor (FGV),
mostra que Geisel deu o aval para as execuções planejadas pelos generais João
Baptista Figueiredo, Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton.
Segundo
levantamento após o documento articulado entre a CIA e o governo de Geisel Pedro
Jerônimo de Souza foi morto em 1975, após ser preso, em 11/9, por agentes da
Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Sete dias após sua prisão, a
família do militante do Partido Comunista do Brasil (PCB) recebeu a informação
de que ele havia se suicidado com uma toalha de rosto em uma cela. Na verdade,
ele foi executado por estrangulamento com uma haste de ferro.
Antônio
Teodoro de Castro, integrante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e
desaparecido durante a Guerrilha do Araguaia. Ferido em 30/9/1972, ele teria
sido executado e enterrado ou em 25/12/1973 ou 27/2/1974. Seu corpo teria sido
enterrado a cinco ou seis quilômetros da Base do Mano Ferreira/cemitério
clandestino da Base da Bacaba – Brejo Grande do Araguaia (PA).
Já
Frei Tito, preso e torturado a partir da prisão em 1969, foi exilado em 1973 na
França, onde se suicidou. Mas a morte é envolta em mistério e perturbações
psicológicas do dominicano por causa da perseguição do delegado Sérgio Paranhos
Fleury, que o prendeu e o levou ao limite do martírio.
Segundo
Lúcia Rodrigues Alencar, sobrinha do religioso dominicano e diretora do
Instituto Frei Tito, no Ceará foi criado o Grupo de Trabalho Memória e Verdade
para acompanhar os desdobramentos de mais este capítulo da ditadura fundada em
1964.
Para
a empresária Sandra de Castro, irmã de Antonio Teodoro, que tinha sete anos
quando Teodoro foi embora de Fortaleza (1970) para se integrar à resistência
armada, enquanto os governos não decidirem “desembrulhar de vez” o que
aconteceu na ditadura o Brasil permanecerá no limbo da desconfiança e da culpa.
“As energias não fluirão daqui. As pessoas que desapareceram precisam descansar
o espírito. Sequer foram enterradas como deveriam”, diz.
Até
hoje, duas irmãs de Sandra permanecem na busca pelos restos mortais de Teodoro
– segundo mais velho numa família de nove irmãos. Maria Eliana e Maria Merces
dedicaram parte da vida a procurar pelo estudante de Farmácia da Universidade
Federal do Ceará (UFC) que foi para o Araguaia.
Sandra
de Castro conta que na mãe, dona Benedita, nos irmãos e no pai Raimundo de
Castro Sobrinho restaram consequências profundas. “Cada um a sua maneira. Meu
pai silenciou. Minha mãe era a espera”, ressente. Vivia, segundo Sandra,
achando que ele voltaria da Bélgica onde teria ganhado uma bolsa de estudos.
Justificativa que Teodoro criou para não revelar sobre o Araguaia. “Os agentes
da ditadura eram tão ruins que, após o matarem, espalharam que ele estava bem
na Europa. Mamãe vivia correndo atrás de boatos”, recorda
A
história revelada pelo pesquisador Matias Spektor, na avaliação de Sandra de
Castro, foi apenas uma confirmação do que já acontecia no País desde 1964
quando os militares deram um golpe e assumiram o poder. “Para quem é parente de
um desaparecido político é um horror viver no sobressalto de notícias assim.
Passamos a reviver muita coisa ruim e não há um ponto final”, afirma.
Com
informações portal O Povo Online
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