Guardadas
as devidas proporções e elas são imensas, o processo contra o ex-presidente
Lula, no caso do apartamento do Guarujá está transformando Reinaldo Azevedo
numa espécie de Émile Zola à brasileira. Jornalista anti-PT veemente, criador
dos termos “Petralha” e esquerdopata, representa para Lula o que Carlos Lacerda
significou para Getúlio Vargas, um ardoroso inimigo político.
Fez uma campanha
feroz pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, chamou Michel Temer de
“presidente” muito antes de ele assumir o Planalto. Por todos esses motivos, o
jornalista Reinaldo Azevedo se torna a principal voz crítica contra a
condenação e prisão do ex-presidente nos termos do julgamento ao qual tem sido
submetido.
Após
a decisão do TRF-4, Azevedo afirmou num artigo que a condenação de Lula não
tinha a ver apenas com a figura do ex-presidente, mas principalmente com cada
um de nós, que corríamos a partir daquele momento, ser condenado por um crime
sem que houvessem provas suficientes.
“Aí temos uma soma de exotismos, no que
se refere ao direito, que nos torna a todos inseguros. Lula, então, foi
condenado por ser quem era e porque só não há provas de que é o dono do
apartamento porque é próprio da lavagem de dinheiro que assim seja. Ou por
outra: a prova de alguma coisa aconteceu é não haver provas de que aconteceu”,
escreveu o jornalista em janeiro passado.
Ontem,
sexta-feira, Reinaldo Azevedo pareceu uma voz solitária. Com uma mistura de
surpresa e espanto escreve: “É evidente que Lula está sendo vítima de um
processo de exceção e de procedimentos que agridem o direito de defesa”.
A tese
argumentada por Azevedo de que a jurisprudência do Caso Lula atinge a todos e
nos deixa cada vez mais vulneráveis diante da toga não tem uma leitura fácil e
se contrapõe completamente à visão rasa de que Justiça neste País só se faz
quando se encarcera alguém.
No caso do ex-presidente, sua prisão, para uma
expressa parte do Brasil, tem o poder de provocar um gozo coletivo com toda a
angústia e tensão que antecedem o estado pré-orgásmico nacional, que se arrasta
desde o início desse processo.
A
voz do inimigo público de Lula soa ainda mais destoante quando ele afirma que
foi criado no Brasil um Partido da Polícia, que se configura como “um ente de
razão que tutela a democracia brasileira”.
Negar o habeas corpus, a pressa no
despacho da prisão sem que os protocolos da defesa e os julgamentos de embargos
e tentativas de revisão das decisões condenatórias a que o réu tem direito
legal, deixam a Justiça no papel complexo de em vez de jogar sobre o que está
opaco ou submerso na ação julgada como crime, nos lança no escuro da ignorância
jurídica e nas mãos da interpretação rasa da política do cotidiano, às vezes
reduzida ao mínimo possível: um meme.
Considero
que o ex-presidente Lula foi omisso, flertou com as benesses do poder, criou
condições para que seus assessores se sentissem à vontade para fortalecer ainda
mais a corrupção do seu governo.
No entanto, é impossível concordar com esse
julgamento visivelmente feito às pressas, passando por cima dos direitos
legais, numa vontade excessiva de encarceramento como se este fosse a única
possibilidade de enfim, acalmar a turba odiosa, pacificar o ódio da maioria,
transformá-lo em símbolo cartático de uma direita jovem e violenta, amparada
pelo que há de mais retrógrado.
Parece que dia após dia estamos caminhando ao
coração das trevas.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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