A foto de Lula, cercado por uma multidão tirada por Francisco Proner, foi distribuída pela Reuters para todo o mundo e reproduzida nos jornais influentes |
A prisão
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de sábado, e seu discurso
no ato político realizado em São Bernardo do Campo, onde anunciou que se
renderia à Polícia Federal, receberam grande destaque na imprensa estrangeira.
O assunto está nas primeiras páginas de diversas publicações em todo o mundo e
é um dos principais temas das agências internacionais de notícias. A foto de
Lula, cercado por uma multidão em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
tirada por Francisco Proner, foi distribuída pela Reuters para todo o mundo e
reproduzida em jornais influentes, como o inglês The Guardian e o canadense The
Globe and Mail.
As
palavras-chave são a rendição do maior líder da esquerda brasileira, que está à
frente na corrida presidencial, a transformação de Lula em preso político e a
desconfiança sobre o sistema judiciário do país. O material produzido pelas
principais agências de notícia – AP, Reuters, Bloomberg, AFP, EFE, DW e Prensa
Latina – ganhou o mundo. Vários despachos foram sendo atualizados ao longo do
dia.
O
americano The New York Times traz longa reportagem assinada pelos
correspondentes Manuel Androni, Ernesto Landoño e Shasta Darlington, com foto
de Lalo de Almeida, destacando que Lula se rendeu para cumprir pena de 12 anos
de prisão. “Sua prisão é uma reviravolta ignominiosa na notável carreira
política de Lula, filho de trabalhadores rurais analfabetos que enfrentou os
ditadores militares do Brasil como líder sindical e ajudou a construir um
partido reformista de esquerda que governou o Brasil por mais de 13 anos”, diz
a reportagem.
Os
correspondentes do NYT relatam que antes de se render às autoridades policiais
federais, Lula, 72 anos, acusou promotores e juízes de intencionalmente
persegui-lo com um caso infundado. “Eu não os perdoo por criar a impressão de
que sou um ladrão”, disse um indignado Lula, rouco, diante de uma multidão
reunida do lado de fora do sindicato de metalúrgicos. A reportagem destaca que,
durante horas no sábado, em um impasse tenso, seus fervorosos defensores haviam
bloqueado fisicamente sua rendição, antes de finalmente permitir que ele
partisse.
O
americano Washington Post informa que Lula se entregou à Polícia Federal, mas
disse que, mesmo encarcerado, vai fazer campanha política. Segundo o jornal,
que destaca em foto Lula sendo levado nos braços do povo no berço do
sindicalismo brasileiro, que a prisão “intensificou o drama político na maior
nação da América Latina”. De acordo com o texto dos correspondentes Marina
Lopes e Anthony Faiola, a cadeia transformou um homem que o presidente Barack
Obama chamou de “o político mais popular da Terra” no prisioneiro mais famoso
da região.
O
inglês The Guardian reproduz a foto distribuída pela Reuters com Lula cercado
pela multidão e destaca em manchete: “Lula inicia sentença de prisão no Brasil
depois de se entregar à polícia”. Segundo o diário, o ex-presidente promete
provar sua inocência da corrupção depois de encerrar um impasse de dois dias
com as autoridades. “Faça o que quiser, o poderoso pode matar uma, duas ou 100
rosas. Mas eles nunca conseguirão impedir a chegada da primavera”, discursou o
líder político.
O
jornal canadense The Globe and Mail destaca em primeira página que Lula foi
para a cadeia, “mas aqueles que ele defendeu lamentam o fim de uma era”, publicando
também a foto de Francisco Proner, distribuída pela Reuters. O texto é da
correspondente Stephanie Nolen, que abre a reportagem falando que Lula se
entregou à Polícia Federal no sábado de noite, tendo feito antes um inflamado
discurso de 55 minutos a apoiadores reunidos na frente do sindicato. “Foi o fim
de uma dramática jornada de 48 horas que uniu o Brasil e forneceu suporte a uma
extraordinária história política”, relata.
“Muitos
brasileiros anunciaram a visão de um líder supremamente poderoso em custódia da
polícia como um ponto de virada para o país, um golpe contra a impunidade dos
poderosos”, escreve a correspondente. Mas para outros, a prisão de Lula é um
fim devastador para uma era de um tipo diferente de política. “Lula trouxe um
poder para os pobres brasileiros – as pessoas foram viver acima da linha da
pobreza, pessoas que nunca tinham estudado começaram a estudar, trabalhadores
domésticos tiveram direitos quando antes eram todos escravizados”, disse Elisa
Lucinda, uma proeminente atriz, poeta e cantora. “Era um Brasil que nunca havia
sido visto antes e agora vai desaparecer novamente”.
O
site russo Sputnik reporta que Lula se entregou à polícia. Os muitos despachos
ao longo do dia foram reproduzidos em outras línguas, inclusive nos serviços em
espanhol e português. Em um dos destaques no site, reportagem relata que embora
tenha sido condenado por subornos, a Justiça não apresentou provas e que o
ex-presidente é líder inconteste nas pesquisas de opinião para voltar ao poder
nas eleições previstas para este ano. “A direita brasileira joga com fogo”,
destaca.
A
emissora de TV Russia Today destacou no final da noite que Lula acabou com o
impasse e se entregou à polícia. A reportagem aponta que, antes de se entregar,
Lula se dirigiu a uma audiência de milhares de pessoas que estavam nas ruas de
São Bernardo do Campo e discursou: “Quanto mais dias eles me deixarem (na
cadeia), mais Lulas nascerão neste país”. A multidão gritou: “Libertem Lula!”.
Na
Argentina, o jornal Clarín destacou em manchete de primeira página, que Lula já
está preso em Curitiba para cumprir sua pena por corrupção. Outro jornal
argentino, o Página 12, aponta que a detenção de Lula é um segundo golpe que o
país vive, e que, durante todo o dia, o líder do PT recebeu o apoio e
solidariedade de milhares de militantes e simpatizantes. Ele falou à multidão,
onde disse que o único crime que cometeu “foi tirar milhões da pobreza” e que o
golpe que começou com a deposição de Dilma Rousseff terminou com a decisão de
impedi-lo de ser candidato à Presidência. Também o La Nación destacou em
primeira página que Lula já está na sede da PF em Curitiba, onde cumprirá sua
pena.
AGÊNCIAS
INTERNACIONAIS
Matéria
da AP, reproduzida em 10,6 mil sites noticiosos, relatou que Lula foi levado no
início da noite sob custódia policial, depois de um confronto tenso com seus
próprios partidários e três intensos dias que de fortes emoções por causa do
seu encarceramento. “Apenas algumas horas antes, Lula disse a milhares de
partidários que se entregaria à polícia, mas alegou inocência e disse que sua
condenação por corrupção era simplesmente uma maneira de os inimigos garantirem
que ele não fugisse – e possivelmente vencesse – as eleições presidenciais de
outubro”, diz o texto assinado por Maurício Savarese e Peter Prengaman.
Reportagem
da AFP relata a tensão no final de sábado da saída de Lula da sede do sindicato
dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, apontando-o como favorito da eleição
presidencial de outubro. O despacho destaca que “Lula se considera vítima de
uma trama da elite para impedir que concorra a um terceiro mandato”. O jornal
traz declaração forte do ex-presidente: “A obsessão deles é ter uma foto do
Lula prisioneiro”, disse. O material foi replicado por 3,7 mil veículos de
imprensa no mundo.
A
agência espanhola EFE, em despacho divulgado no final de sábado, relatou que
Lula pôs fim à sua resistência e já estava nas mãos da Polícia Federal,
destacando trecho do seu discurso em que confessou ter cometido um delito. “Eu
cometi um crime: trazer os pobres para a faculdade, o que lhes permite comprar
carros, eles têm alimentos”. “Serei um criminoso pelo resto da minha vida”.
Texto, vídeo e fotos foram reproduzidos em 2.590 sites e veículos noticiosos em
todo o mundo.
Texto
da Reuters, com a foto de Lula cercado pela multidão de simpatizantes e
militantes de esquerda no pátio do sindicato onde começou sua vida política,
foi reproduzido em dezenas de sites de notícias. A reportagem aponta que Lula
se entregou à polícia, acabando com o impasse, no início da noite de sábado.
Segundo a agência, “a prisão de Lula remove a figura política mais influente do
Brasil, líder da campanha presidencial deste ano”. O texto especula que isso
poderia aumentar as chances de um candidato centrista prevalecer. O despacho da
agência foi reproduzido por 2.480 sites e jornais, inclusive o The New York
Times.
A
Deutsche Welle deu em manchete que “o ex-presidente brasileiro Lula está na
prisão”, que o primeiro prazo ele havia deixado passar, no sábado os seus
seguidores impediram a sua detenção, mas o líder condenado por corrupção foi
levado afinal por policiais. “Vários pedidos para permanecer em liberdade até o
final do apelo foram negados”, relata a agência alemã. “Lula também pediu ao
Comitê de Direitos Humanos da ONU em Genebra uma liminar para evitar a
detenção”.
EUROPA
O
diário espanhol El País deu manchete de primeira página para a prisão de Lula,
destacando no título trecho do discurso do ex-presidente: “A morte de um
combatente não para a revolução”. Segundo o jornal, o líder petista foi para a
prisão no final da noite de sábado, condenado a 12 anos de prisão, mas que
falou antes a uma multidão: “Não sou um ser humano mais. Eu sou uma ideia. E as
ideias não se encerram”.
O
jornal francês Le Monde, por exemplo, em editorial na edição de sábado avalia
que, mesmo Lula tendo caída em “desgraça” a Justiça brasileira terá que provar
ao mundo que sua mobilização contra a corrupção é capaz de atingir também a
outros grupos políticos. “A Operação Lava Jato deve demonstrar ao país que a
prisão de Lula não é um ato político”, aponta o editorial.
“A
prisão daquele que continuará sendo um dos dirigentes mais marcantes da
história do país não significa o fim dos processos. (…) A Lava Jato precisa ter
a mesma severidade com outros caciques de partidos do centro e da direita”. E
cita o ex-presidenciável tucano Aécio Neves, “suspeito de corrupção passiva e
obstrução da justiça”, estranhando que “seu caso ainda não foi examinado pela
Suprema Corte”.
Em
reportagem da correspondente Claire Gatinois, o Le Monde destacou que Lula se
rendeu à polícia, abrindo a notícia com a declaração do ex-presidente para “uma
multidão em lágrimas” de que “podem matar um combatente, mas a revolução
continua”. “Ofegante e animado”, descreve a jornalista, “o velho confirmou a
sua rendição”.
O
tradicional jornal Liberation questionou em sua edição de domingo se a ida de
Lula para prisão poderia ser interpretado como “um golpe de misericórdia na
esquerda latina”. Ouvindo especialistas, o jornal relata que Lula é o candidato
da esquerda reformista – “não revolucionária” – a mais amigável em relação aos
mercados.
“O
resultado é que ele vai tornar-se radical”, analisa Patricio Navia, orientador
acadêmico do Centro de abertura e desenvolvimento da América Latina (Cadal).
Fontes ouvidas pelo jornal avaliam que a esquerda terá grandes dificuldades em
voltar, mas que “enquanto as sociedades da região da América Latina forem
marcadas pela pobreza, desigualdade e exclusão social, sempre haverá um desafio
para mudar o status quo”.
O
jornal L’Humanité aponta um “golpe judicial e militar contra Lula”, reforçando
o argumento da esquerda brasileira de que o ex-presidente está sendo
perseguido. “O Supremo Tribunal do Brasil rejeitou na quarta-feira a libertação
do ex-presidente Lula, que é o candidato presidencial em outubro. Contra o pano
de fundo das ameaças do exército”, resume. O também francês Le Fígaro destacou
que Lula anunciou que aceitava a sua prisão, mas a matéria ressalta que ele
contestou as acusações que pesam contra si e disse que vai provar que seu
julgamento é um “crime político”.
Em
outro despacho no mesmo jornal, o destaque foi a reportagem da agência France
Press, também reproduzida no diário Le Progress, noticiando que, no final da
tarde de sábado, Lula foi impedido de se entregar pelos simpatizantes que
cercavam o sindicato dos metalúrgicos, onde ele despontou sua liderança, na
região de São Bernardo do Campo. O material também foi reproduzido no canal
France24, nos jornais La Provence e La Croix, no canadense Le Journal de
Montreal, as emissoras de rádio DH, da Bélgica, e Radio Canada.
O
português Diário de Notícias, em reportagem do correspondente João Almeida
Moreira, destacou que o último dia de liberdade de Lula, poderia ser de
tristeza, com sua despedida e a missa em memória da sua falecida mulher como
panos de fundo. Mas se tornou uma festa, com direito a set list escolhida pelo
ex-presidente: “Asa Branca” e “O que é, o que é”, de Gonzaguinha, “Apesar de
Você”, de Chico Buarque, e o samba “Deixa a Vida me Levar”, de Zeca Pagodinho.
A matéria reproduz trechos do discurso de Lula – “Eu não sou um ser humano, eu
sou uma ideia, todos vocês agora vão virar Lula, eles acham que tudo o que
acontece nesse país é responsabilidade do Lula, agora eu responsabilizo vocês”
– e diz que o petista também citou Martin Luther King.
Na
Bélgica, a RTBF manteve flashes sobre Lula e a sua iminente prisão, durante a
programação de sábado. Foram quatro destaques sobre o líder brasileiro, a
última reportagem apontando que o petista foi impedido de se entregar à polícia
pelos simpatizantes.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.