Um dos pontos de encontro no Rio para manifestações lembrando um mês do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes foi a Lapa (Foto: Cristina Índio do Brasil) |
Ontem sábado (16/04) foi um dia de muitas manifestações em homenagem à
vereadora Marielle Franco (PSOL) e ao motorista Anderson Gomes e marcou um mês
do crime que provocou a morte dos dois, em 14 de março, no Estácio, região
central do Rio. Marielle foi atingida na cabeça por quatro tiros e Anderson foi
morto por três disparos nas costas. Uma assessora de Marielle que também estava
no carro sobreviveu ao ataque com ferimentos por estilhaços.
Logo
no início do dia, o Amanhecer por Marielle e Anderson, se espalhou por diversos
bairros do Rio e cruzou fronteiras para outros estados e países. Em nome da
vereadora e do motorista, o partido dela, o PSOL, e diversos movimentos sociais
marcaram eventos pela internet. No Brasil, houve mobilização no Distrito
Federal e em 13 estados, entre eles, Piauí, Ceará, Paraíba, Goiás, Mato Grosso,
Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul. Fora do país, ocorreram
manifestações nos Estados Unidos, Canadá, Peru, na Argentina, Itália, Alemanha,
Suécia, Suíça, nos Países Baixos, no Reino Unido, na Hungria, em Portugal e na
França.
O
site de Marielle informava a intenção dos atos: “Precisamos mostrar que estamos
transformando nossa dor em força, que não daremos nenhum passo atrás e que nem
o tempo nem o medo vão nos calar!”.
Com
este propósito, diversas pessoas foram às ruas reforçar as causas que a
vereadora defendia: contra o racismo, a intolerância religiosa, o preconceito e
a violência contra negros.
No
Rio, ocorreram manifestações em vários bairros. Em Campo Grande, na zona oeste,
o estudante Cauã Lopes, de 18 anos, levou uma tela com o desenho do rosto de
Marielle para incentivar as crianças a colorirem. “A gente resolveu criar uma
arte que atraísse o público infantil, sob o ponto de vista de que a criança
também faz parte da questão política”, disse.
Cauã
faz parte do Coletivo Juntos que era incentivado por Marielle. O estudante tem
se recordou do contato que teve com a vereadora. “Meu convívio com a Marielle
foi muito forte porque a minha família é composta por negros e a minha irmã,
Yamê Pedrosa, foi a primeira mulher da zona oeste que participou da comissão de
diretos da mulher negra da OAB. O mandato dela [de Marielle] sempre foi muito
receptivo conosco. O que ela sonhava para a comunidade negra e em geral a gente
sempre se identificou”, disse.
A
arte que Cauã começou a fazer em Campo Grande foi levada para outra manifestação.
No início da noite, centenas de pessoas se concentraram nos Arcos da Lapa, no
centro do Rio, com pequenas apresentações artísticas para depois seguirem em
caminhada pelas ruas da região central até o bairro do Estácio, onde ocorreu o
crime contra Marielle e Anderson.
O
deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) que faz parte da comissão externa da
Câmara que acompanha as investigações do crime destacou que há uma “tradição
terrível" na história brasileira que é a da não apuração de crimes
políticos.
“Se
a gente não gritar, se a gente esquecer, esse mínimo que não traz de volta as
vidas dos nossos amados, mas que pelo menos nos acalma um pouquinho, que é
saber quem puxou aquele gatilho certeiro, profissional e quem mandou e
organizou este homicídio", disse o deputado.
A
deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), que também integra a comissão, disse que
tem participado de reuniões com o chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, com
o interventor federal, general Walter Braga Netto, e pelas informações que tem
recebido as investigações estão bastante avançadas.
“Nós
não temos ainda um prazo para o esclarecimento, porque tanto para o chefe da
Polícia Civil como para nós, é para além do executor que apertou o gatilho. É
fundamental entender a motivação. Nós queremos também saber a motivação para
entender o alcance do risco que tem para os outros ativistas dos direitos
humanos e de todas as pessoas que estão nesta luta”, afirmou. Ela lembrou que o
assassinato da juíza Patrícia Acioli levou quase dois meses para ser
esclarecido e o de Marielle e Anderson com um mês de investigação já está em
estágio mais avançado que as apurações da morte da magistrada.
O
deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que participou hoje de diversos
atos desde o Amanhecer por Marielle e Anderson e da missa da família da
vereadora, no centro do Rio, destacou que é importante reforçar a mensagem de
Marielle.
“Porque
que ela só foi apresentada à sociedade depois de ter a vida ceifada desta
forma? Acho que é uma grande lição que fica para todos nós. Para onde nós
olhamos antes disso? Será que a pauta da Marielle era uma novidade? Talvez não.
Porque a importância que estamos dando agora é maior diante da brutalidade.
Acho que manter esta pauta viva, fazer o Amanhecer, fazer a caminhada, é fazer
com que essa batalha nunca mais seja perdida”, disse.
Com
informações portal Agência Brasil
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