Menos
de uma semana após o golpe militar de 1964 completar 54 anos, um tweet do
comandante-geral do Exército, Eduardo Villas Bôas, dividiu o País e reacendeu
debate sobre a fragilidade da democracia brasileira e os limites de atuação das
Forças Armadas.
Em
página nas redes sociais, Villas Bôas escreveu na noite de terça-feira que o
Exército “repudia a impunidade” e está “atento às suas missões”. Publicada às
vésperas do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) no Supremo Tribunal Federal (STF), a mensagem foi interpretada como
forma de pressão sobre a Corte e dividiu opiniões.
“É
algo extremamente perigoso”, diz a historiadora Maria Aparecida de Aquino, da
Universidade de São Paulo (USP). “Membros do Exército não podem, até pelas
regras deles, fazer interferências nem dar essas opiniões. Além disso, é
bastante grave que aconteça justo agora, quando muita coisa ilegal tem sido
feita com aspectos de legalidade”, diz.
A
professora destaca que, à época do golpe militar de 1964, diversos setores da
sociedade defenderam a ação por acreditarem que se trataria de uma intervenção
“pontual” de curta duração. “Muita gente acreditou no discurso que seria algo
pontual, só para ‘arrumar a bagunça’, como se tem dito muito hoje. Deu no que
deu”, afirma.
As
declarações de Villas Bôas dividiram pré-candidatos à Presidência, com pelo
menos seis deles criticando, ainda que de forma velada, o general e outros dois
o apoiando. “O comandante do Exército está chantageando o STF e fazendo ameaças
veladas? É isso mesmo?”, questionou o candidato do Psol, Guilherme Boulos.
Já
Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e Álvaro Dias (Podemos-PR), também presidenciáveis,
endossaram a fala. “O general Vilas Bôas coloca o Exército brasileiro em
sintonia com o desejo do nosso povo de ver nascer nova justiça onde todos serão
iguais perante a lei”, diz Dias.
Mesmo
opositores ao PT, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e o
ministro da Fazenda, Henrique Meireles (MDB), criticaram fala do general. Maia
disse que, se o Exército quisesse, deveria ter se manifestado
institucionalmente. “O ideal é que os comandantes, respeitado a hierarquia,
tivessem um cuidado maior. Acho que da forma como foi feito, gerou
especulação”.
Na
tarde de ontem, a Procuradoria da República no Distrito Federal intimou
ministro interino da Defesa, Joaquim Silva e Luna, cobrando explicações pelas
falas do comandante. Pela manhã, grupo de 150 juristas e outro de 23 senadores
lançaram notas em defesa da democracia.
Em
boletim interno à Força Área, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro
do ar Nivaldo Luiz Rossato, repercutiu afirmações de Villas Bôas. Ele destacou
que o povo está “polarizado” e ordenou subordinados a respeitar a Constituição
e não se “empolgar a ponto de colocar convicções pessoais acima das
instituições”.
Com
informações portal O Povo Online
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