Lula da janela do Sindicato acena para os manifestantes em São Bernardo do Campo - SP (Foto: Ricardo Stuckert) |
No
coração da militância lulista em São Bernardo do Campo, um andar inteiro foi
dedicado a alguns petistas mais chegados, conhecidos antigos, “imprensa amiga”
e políticos. O segundo piso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC passou quase
todo o dia com seguranças controlando com rigor a entrada e a saída dos
“companheiros”. Os também pré-candidatos à Presidência da República Manuela
D’Ávilla (PCdoB) e Guilherme Boulos (Psol) visitaram Luiz Inácio Lula da Silva
na sala da presidência da entidade.
“Resolvemos
deixar as diferenças de lado. Esquerda unida jamais será vencida”, disse
Boulos. O choque e tristeza do mandado de prisão que saiu antes do esperado
ficou na quinta-feira. Era passado. A sexta, 6 de abril, deveria ser de
resistência. Teve batucada, choro, expectativa. A angústia, que já dura meses,
se acentuou ao longo da tarde.
Cada
minuto até o bater das 17 horas, prazo dado pelo juiz Sergio Moro para Lula se
entregar, passava com tensão. Qualquer grito ou muvuca era sinônimo de
correria. Corriam os fãs e a imprensa. “É ele? Vai falar? Vai ter discurso?”,
ninguém sabia. Nem o próprio Lula. Enquanto isso, surgiam teorias de como seria
dali para frente, água e comida. Liberaram o almoço de arroz com feijão e carne
cozida. “Era R$ 16 a refeição. Mas não estão mais cobrando porque acabou o
churrasco. Podem se servir”, disse o garçom.
“Tem
que comer, né, companheira? Porque o rojão vai ser grande. Vai ter luta. Vão
vir com tudo para cima da gente”, comentou uma mulher de vermelho, na casa dos
50 anos, à mesa do restaurante do sindicato.
O
fim do prazo foi celebrado com música e contagem regressiva. Depois de
anunciado que subiria ao carro de som, Lula desistiu no meio do caminho. A multidão
foi se amontoando pela rua no cair da noite. Mas antes das 20 horas, começou a
se dispersar. A segurança baixou um pouco a guarda e entramos, a imprensa, o
mais discretamente que podíamos no tal segundo andar.
Em
volta da sala da presidência do sindicato, onde estava Lula, família, amigos e
dirigentes do partido, havia uma cerca de metal. Lá dentro, uma sala o isolava
dos demais. Do lado de fora, deputados e sindicalistas formavam rodas de
conversa. Riam, cochichavam. Mais seguranças vigiavam quem tentasse furar o
bloqueio.
Na
varanda, o ex-prefeito Fernando Haddad, visto como o plano B do PT para
candidatura à Presidência, fumava uns cigarros com um grupo de homens,
assessores e amigos. “Não vou dar entrevista. Estou cansado, há 14 horas aqui”,
disse a um conhecido. Enquanto isso, discutia na noite fria que até seus amigos
advogados da direita não viam motivo para a condenação de Lula. E criticou a
atual gestão da Prefeitura, a ferida aberta da derrota para João Dória no ano
passado.
“Lula
está bem, está reunido com os advogados. Não vi os aposentos dele, mas está bem
acomodado com a família”, afirmou o deputado Henrique Fontana às 19 horas. O
presidente do PT de São Paulo, Luiz Marinho disse que Lula estava bem cuidado.
O espaço para ele já estava montado havia meses. “Sempre houve esse espaço aqui
no sindicato”, disse Marinho.
Na
noite de ontem, o plano, segundo Rui Falcão, era o de negociar como se daria a,
agora admitidamente inevitável, prisão de Lula. Para esta manhã, às 9h30min,
ali mesmo no sindicato, estava marcada a missa de aniversário da já falecida
Marisa Letícia, mulher do ex-presidente. Depois da celebração, poderiam ser
considerados os termos de encarceramento. Domingo, talvez, seja o dia em que ele
se encontrará com a Polícia Federal (PF).
Assim
como o discurso de Lula, a PF nunca veio. Não houve confronto, cordão humano.
Na rua do sindicato só tinha veículos de imprensa. De carro oficial, só os da
Guarda Municipal de São Bernardo que bloqueavam a rua e um com placa preta da
Assembleia Estadual de São Paulo (Alesp). “Nós vencemos”, disse a deputada
federal Maria do Rosário. Para os petistas, o ato político estava enfim,
consolidado.
Com
informações portal O Povo Online
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