O
presidente Michel Temer (MDB) informa a aliados que pretende mesmo concorrer à
reeleição, segundo informou o Estado de S.Paulo. Caso a intenção se concretize,
será uma ótima notícia.
Michel
Temer não passou pelo crivo das urnas para se tornar presidente. Certo, ele foi
eleito vice-presidente, sim. Desse modo, entrou na linha sucessória. Numa
campanha na qual até a legitimidade da cabeça de chapa era questionada.
O
PSDB, por exemplo, nunca reconheceu a derrota e levou o assunto à Justiça
Eleitoral. Se Dilma Rousseff (PT) não sofresse impeachment antes, a chapa teria
sido cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Arrastando Temer junto.
Teria havido nova eleição. Isso não ocorreu porque ela foi cassada e o TSE não
quis atrapalhar o arranjo. Motivo havia.
Mas,
principalmente, ninguém vota no vice imaginando-o no cargo. O que o eleitor
observa é o cabeça de chapa e pronto. Quem votou em Dilma não queria Temer
presidente. Mas a venda é casada. Fosse uma relação de compra, desrespeitaria o
direito do consumidor.
Mesma
coisa com suplente de senador. Pouca gente lembra que o presidente do Senado,
Eunício Oliveira (MDB), “golpista” favorito dos petistas do Ceará e de Lula
também, tem como suplente Waldemir Catanho (PT), braço direito de Luizianne
Lins (PT). Está errado que o eleitor pense assim, mas é a realidade.
Em
resumo, Temer não foi escolhido pelo eleitor para estar onde está. Não recebeu
um voto para colocá-lo no lugar que ocupa. E, mais complicado de tudo do ponto
de vista democrático, executou programa radicalmente diferente do apresentado
pela chapa na eleição. Temer passou pelo crivo indireto do eleitor, de carona.
O programa de governo, nem isso.
Obviamente
que o caminho não é o correto e está distorcido. Mas, se não foi votado
diretamente para estar cargo antes do mandato, que pelo menos seja ao final.
Será bom para a história que Temer seja julgado e avaliado no voto.
Há
hoje muita discussão: a economia melhorou ou não, a vida das pessoas está
melhor ou pior, a intervenção federal no Rio de Janeiro é um sucesso ou um
fracasso. Há hoje pesquisas de opinião que aferem percepções. Nada como o velho
e bom voto direto e universal para sabermos o que pensa o povo, soberano do voto
e opinião mais importante em qualquer democracia.
Não
que encerre discussões e seja juízo definitivo. Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), Lula e Dilma foram todos reeleitos. E, em diferentes segmentos, há
críticas muito pertinentes aos governos de todos eles. Mesmo sem ser a última,
definitiva e absoluta verdade, a posição popular será critério importante para
a leitura histórica desse período e da percepção popular sobre as decisões.
Recordista
histórico de impopularidade, Temer pode não ser o cachorro morto que parece.
Numa eleição pulverizada, quem chegar a algo como 15% de intenções de voto terá
chance de brigar pelo segundo turno. O governo tem máquina poderosa e
convincente. Tem dinheiro para distribuir e obras para inaugurar. Tem
prefeitos, vereadores, governadores e deputados, como nenhum outro partido.
Deve ter maior tempo de televisão. Conta com a pirotecnia do Exército no Rio, a
evolução de alguns indicadores econômicos. Se os cerca de 6% de aprovação de
Temer virarem, sei lá, 12% em seis meses, ele estará vivo. Não é fácil, mas
impossível também não é.
Amostra
da força das candidaturas à reeleição está na história. Até hoje, o
aproveitamento é de 100%. FHC, Lula e Dilma: quem tentou a reeleição foi
vitorioso. Porém, a situação de Temer é diferente. É uma reeleição de quem não
foi eleito - não para este cargo. Ele não se tornou impopular. O que aconteceu
é que ele nunca foi popular. A tarefa não é recuperar votos perdidos. É
conseguir eleitores que nunca teve.
Temer
não precisa vencer para ter papel digno. Se ficar na briga pelo segundo turno,
já mostrará que não é tão impopular e tem segmento representativo ao seu lado.
Por
outro lado, caso sofra a humilhação de um desempenho ridículo, provocará
estrago de grandes proporções ao seu campo político e às ideias que defende.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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