Cerca de cinco mil pessoas foram ouvir Lula no encerramento da caravana em Curitiba (Foto: Divulgação) |
Nem
a chuva intermitente que caiu sobre Curitiba foi capaz de afastar os 5 mil
cidadãos que se espremeram nos arcos da centenária Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Era a última etapa da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O ato, na
noite da quarta-feira 28, já estava marcado, mas ganhou um novo tom após o
ataque a tiros sofrido pela caravana na noite anterior.
A
caravana, após dois ônibus serem alvejados por armas de fogo na rodovia entre
Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, foi a Curitiba. A estratégia montada
pelo MBL para impedir a chegada do ex-presidente não funcionou. Lula e comitiva
chegaram de madrugada. A fala do ex-presidente estava marcada para às 17 horas.
Na
praça Santos Andrade, os oradores se revezavam para esperar Lula. Estavam
presentes deputados, senadores, lideranças sindicais, de movimentos sociais, a
ex-presidenta Dilma Rousseff e os pré-candidatos à presidência da República,
Manuela D´Ávila, do PC do B e Guilherme Boulos, do PSOL.
Manuela
defendeu o direito de Lula ser candidato. “Nesse momento, não podemos nos
dividir no que é fundamental. A luta é contra o golpe. Defender Lula e sua
candidatura não é uma tarefa apenas do PT, mas de todos nós”, afirmou.
Boulos
foi mais enfático. Acusou Bolsonaro como responsável por toda a onda de
violência, “pelo fascismo” que se alastra pelo País. Defendeu Lula e afirmou
que as “diferenças pontuais entre as candidaturas de esquerda não vão nos
impedir de sentar à mesa para defender a democracia”.
Dirigindo-se
a Lula e Manuela, Boulos afirmou que “já passou a hora da gente sentar para
discutir a formação de uma frente democrática a fim de enfrentarmos o
fascismo”. Para ele, não se conversa com fascistas para negociar. “O fascismo
se combate e para tanto é preciso unidade” afirmou.
João
Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, conclamou a
militância a não permitir “que a burguesia prenda o Lula. ” Disse que é preciso
sair às ruas para denunciar “os golpistas”. Sugeriu que “cada militante “saia
de casa com spray na bolsa para pintar os muros e denunciar os escândalos e as
mentiras. Para ele, a eleição a presidente da República será “uma luta de
classes, não pelo confronto, mas para decidir um projeto de governo para o
Brasil”. Terminou sua fala com a frase “Lula inocente. Lula presidente”.
O
senador paranaense, Roberto Requião, PMDB, criticou o projeto econômico do seu
partido. Falou a falência dos modelos neoliberais na Europa e citou a Grécia
como exemplo. “Como esse modelo faliu por lá, eles resolveram implementar no
Brasil”. Defendeu a candidatura de Lula e afirmou que ninguém poderá impedir
essa vontade popular. “Há uma verdade absoluta: é impossível encarcerar a
esperança de um povo. Eu quero votar no Lula para presidente”.
Lula
começou a falar quando já passava das 21 horas. Fez uma retrospectiva de toda a
caminhada que se iniciou em Bagé (RS). Falou da violência, dos ataques sórdidos
e culpou a imprensa por toda essa situação. “O culpado por esse ódio no Brasil,
quem estimulou a violência no País é a Rede Globo de Televisão”.
O
ex-presidente acusou a Globo de estar por trás das mentiras propagadas pela
série O Mecanismo, da Netflix, inspirada na Operação Lava Jato. “Há cerca de
seis meses fui informado que a Globo preparava um documentário. Agora, ela usa
a Netflix para disseminar a mentira”. Afirmou que vai processar os culpados, no
Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. “Não posso aceitar essas mentiras”.
Apesar
das críticas, Lula lembrou que quanto “mais eles falam e batem em mim, mas eu
cresço nas pesquisas”. Disse de sua disposição e vontade em ser candidato a
presidente da República para devolver ao povo os direitos e benefícios mais
elementares que foram retirados pelo governo Temer.
Lula
reiterou sua inocência nos processos em que é acusado. “Não tenho nada contra a
Lava Jato, mas tenho tudo contra a mentira. Desafiou o juiz Sergio Moro, o
Ministério Público, a Polícia Federal, o Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, a provar o crime que tenha cometido. “Se eles provarem, eu paro de
fazer política e vou embora. Mas quero uma única prova convincente” afirmou.
Lembrou da invasão ao seu apartamento e da revista feita pela PF, que nada
encontrou. “Estou nessa luta para defender a minha honra”.
Afirmou
que, uma vez eleito, irá revogar todo o “desmonte” feito pelo governo Temer.
Prometeu federalizar o ensino médio do País e disse que, no seu governo, “todo
aquele que ganhar até cinco salários mínimos estará isento do Imposto de Renda.
” “Esse país precisa voltar a ser feliz, a sonhar, ter esperança”.
Para
ele, ninguém irá conseguir prender os sonhos, as ideias, os projetos de um
Brasil mais justo. “Se me impedirem de ser candidato, de andar por esse país
distribuindo esperança, eu andarei por meio das pernas de vocês. Vocês levarão
as minhas ideias e meus projetos por todo esse Brasil. Se me calarem, vocês
serão a minha voz”.
Passava
das 22 horas quando Lula encerrou sua fala. Chovia muito, mas a multidão
mantinha-se atenta. “Quero dizer que nunca tive tanta vontade de voltar a ser
presidente da República” afirmou. Conclamou a todos a permanecerem unidos
“porque vamos devolver a esse País a alegria e seremos, novamente, uma grande
nação ”.
Há
menos de um quilômetro do local, o Movimento Brasil Livre (MBL) ensaiou uma
manifestação na Praça Dezenove de Dezembro, no centro da capital paranaense.
Menos de cem pessoas se espalhavam pelos gramados.
Pouco
mais distante, o deputado Jair Bolsonaro era recebido no aeroporto Afonso Pena
por menos de trezentas pessoas. A caminho do município de Ponta Grossa, a 100
quilômetros de Curitiba, tratou de subir no caminhão de som para falar aos
simpatizantes. Jactou ódio e violência.
No
discurso, defendeu que a Polícia Militar “atire para matar em defesa do povo” e
justificou o uso de armas pela população. “Podem ter certeza, os nossos homens
de segurança, quando cumprirem uma missão, serão condecorados e não mais
processados. Eu quero uma Polícia Militar que, em defesa do povo, atire para
matar”, disse. “E para o povo brasileiro nós queremos também o direito à
legítima defesa. Sem história de desarmar vocês e deixar os vagabundos soltos
muito bem armados por aí”.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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