O ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está muito perto de ser preso. É possível,
talvez até provável, que a prisão ocorra ainda este mês. Só há uma instância
capaz de livrá-lo hoje - o Supremo Tribunal Federal (STF) - e ela não parece
disposta a entrar no assunto agora.
A prisão de Lula será marco histórico. Já
houve ex-presidentes presos antes, em três tipos de circunstâncias: após
revoltas populares, antes de revoltas populares (impulsionadas pela prisão,
aliás), ou durante uma ditadura. Lula será o primeiro julgado e condenado. O
primeiro preso por crime comum. Com alguns ingredientes extras. Na véspera de
eleição presidencial, ele é, disparado, o líder em todas as pesquisas. Num
nível em que, sem ele, o cenário fica nebuloso e ninguém desponta como
favorito.
A
prisão de Lula provocará euforia em uns e revolta em outros. Haverá
manifestações de comemoração e protesto. A dúvida é a dimensão que isso terá. A
temperatura pode mudar, mas não me parece que o cenário aponte para o que disse
lá atrás a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann.
Não me parece que será
necessário “matar gente” para prender Lula. Aliás, assim espero. Não enxergo
ambiente para um grande levante popular. Isso por causa do próprio PT. Desde
2002, os movimentos sociais perderam capacidade de mobilização. A Central Única
dos Trabalhadores (CUT), os principais sindicatos, os líderes que eram
referência aderiram ao governo, moderaram discursos e métodos. Mesmo movimentos
como o MST também adotaram postura muito mais branda, de quem tinha um aliado
no poder.
Toda
uma geração foi formada sem a mesma experiência de mobilização. Resultado: os
atos em defesa de Dilma Rousseff (PT) jamais se equipararam aos movimentos
pró-impeachment. As manifestações em defesa de Lula e contra a condenação foram
pequenas.
Verdade que prender Lula é algo muito mais extremo. Porém, não me
parece que esteja em preparação algo de grande impacto. Independentemente disso,
há o impacto político. A prisão de Lula muda os rumos das eleições de 2018, não
apenas para presidente.
Com Lula preso, o PT vai minguar ou, ao explorar a
imagem de perseguição, conseguirá fazer uma forte bancada? Como governadores
petistas, Camilo Santana incluído, serão afetados? Quem o PT apoiará para
presidente e como ele se sairá? Como diria Accioly Neto, pode acontecer tudo,
inclusive nada.
De todo modo, Lula preso será um espectro sobre a campanha e
sobre o governo que for eleito. Se o eleito for um petista ou aliado, o
ex-presidente preso será um fantasma a incomodar. No caso de ser um adversário
do PT, Lula na prisão será uma sombra a perturbar.
Até
hoje, todas as prisões de ex-presidentes ocorreram em cenário de exceção.
Hermes da Fonseca (1910-14), presidente do Clube Militar, foi preso em 1922, em
função de críticas a intervenção federal na eleição em Pernambuco. Passou seis
meses detido. A prisão foi um dos estopins da revolta dos 18 do Forte de
Copacabana, que eclodiu três dias depois. Com a Revolução de 1930, Washington
Luís (1926-30) foi deposto e preso no Forte de Copacabana. Em 1932, Arthur
Bernardes (1922-26) foi preso ao incitar levante em Minas Gerais em apoio à
Revolução Constitucionalista que eclodira em São Paulo. Jânio Quadros
(1961-1961) passou quatro meses em confinamento em Corumbá, em julho de 1968,
por ordem do governo Costa e Silva. O objetivo era afastá-lo das manifestações
políticas que sacudiam o País. Em dezembro do mesmo ano, na noite da decretação
do Ato Institucional número 5 (AI-5), foi preso Juscelino Kubitschek (1956-61).
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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