O
poder de disseminar notícias falsas pelas redes sociais ficou exposto, nos
últimos dias, pelo caso envolvendo a vereadora Marielle Franco, do Psol-RJ. As
motivações, de acordo com especialistas ouvidos pelo jornal O POVO, tem viés político
e acende debate sobre o poder de alastramento das fake news durante o período
eleitoral.
A
prática não é de agora. Pesquisa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas
da FGV, publicada em agosto do ano passado, mapeou o uso de perfis falsos especializados
em disseminar informações mentirosas e incendiar as discussões na rede. A
prática motivou pelo menos 10% das discussões políticas nas eleições de 2014.
O
estudo mostrou que o artifício também foi replicado em outros eventos como o
impeachment da presidenta Dilma, nas eleições municipais em 2016 e nas votações
da reforma trabalhista, sem distinção do campo político. A conclusão do estudo
é que a estratégia pode, sim, direcionar as inclinações do futuro.
Para
o professor Pablo Ortellano, coordenador do Monitor do Debate Político no Meio
Digital (USP), o uso da estratégia está ligado à polarização do debate
político, tanto na produção quanto na propagação das notícias falsas. Ele
explica que, nesse contexto, a rede vira um espaço de combate e as informações,
ainda que mentirosas, são usadas nessa disputa. “A sociedade está muito
apaixonada e começa a difundir informações de combate”, afirma. “Nas eleições,
o fenômeno se acentua”, explica.
Já
se antecipando, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) formou grupo de trabalho
para discutir formas de combate às fake news em janeiro deste ano.
Representantes do Minsitério Público Federal e da Polícia Federal participam
das atividades. O tema também chegou no Congresso Nacional com projetos de lei
que, entre outras finalidades, pretende criminalizar a criação e a difusão de
conteúdos falsos na internet. As matérias também visam responsabilizar as plataformas
de disseminação, como o Facebook e o Twitter, caso não retirem as postagens do
ar.
Na
avaliação de Ortellano, as iniciativas não podem contribuir para a solução. O
especialista não acredita que a prática diminua ante das punições mais graves. Ele
justifica dizendo que é difícil acompanhar e apurar todos os casos e que a
criminalização poderá levar a abusos e censura na rede.
“Não
vejo solução a curto prazo. Tem uma parcela de estudiosos do tema que aposta na
abordagem educativa dos usuários e na transparência dos sites de
compartilhamento (Facebook, Twitter, etc). Mas isso só dá resultado com tempo”,
direciona.
Renato
Torres de Abreu Neto, presidente da Comissão de Direito da Tecnologia da
Informação da OAB-CE, discorda. Segundo ele, a falha está na legislação e
defende a criação de lei específica para punição dos casos, além da ampliação
de mecanismos de denúncia envolvendo o Ministério Público Estadual e Federal.
“Falta consciência das pessoas. Elas acham que o fato de estar replicando uma informação
ela não tem nada a ver com isso. Não é assim”, considera.
O
advogado, no entanto, concorda com o professor quando defende que, aliada à
ampliação de mecanismos de denúncia e combate da prática, é preciso ampliar a
discussão na sociedade. “O ideal seria campanhas mais incisivas do governo
contra as fake news. A gente vê esse movimento agora por conta das eleições,
mas precisa de mais”, opina.
Com
informações portal O Povo Online
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