Cresceu
a possibilidade de o ex-presidente Lula ser preso até o fim do mês devido à
condenação no processo do apartamento no Guarujá. Todos os sinais do STF
(Supremo Tribunal Federal), corte que poderia impedir a prisão de Lula após o
fim do julgamento de todos os recursos no TRF-4 (Tribunal Regional Federal) da
4ª Região, indicam isso.
A
8ª Turma do TRF-4 deverá analisar os pedidos da defesa de Lula na última semana
de março. Como a 8ª Turma tende a confirmar a condenação de janeiro, haveria a
execução da pena em seguida. Ou seja, prisão do ex-presidente.
No
STF, o ministro Edson Fachin, que poderia pedir ao plenário para julgar
rapidamente o habeas corpus apresentado pela defesa de Lula, tem sinalizado que
não fará isso. Portanto, o cenário mais provável é a possibilidade de prisão
até o fim deste mês.
Se
o TRF-4 deixasse para analisar o caso em abril e a presidente do STF, Cármen
Lúcia, submetesse a análise do plenário duas ações de repercussão geral sobre a
possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, haveria chance de
Lula evitar a detenção. Mas o TRF-4 tem acelerado o julgamento do petista, e
Cármen Lúcia já divulgou a pauta de abril sem prever inclusão das ações que
permitiriam rediscussão do plenário sobre execução da pena de prisão após condenação
em segunda instância.
É
uma decisão política de uma juíza. A presidente do STF atua de forma
contraditória na comparação com ocasiões do passado em que a classe política
demandou a apreciação de casos de ampla repercussão.
Por
exemplo: ela levou a julgamento em outubro do ano passado uma ação de três
partidos (SD, PP e PSC) que pedia que o afastamento do então presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, determinado pelo Supremo em maio de 2016, tivesse de ser
analisado previamente pela Câmara. Ao final, prevaleceu a decisão, por 6 a 5,
de que o Congresso deve ser consultado antes da aplicação de medidas cautelares
que impeçam o exercício do mandato.
Naquele
episódio, havia pressão política semelhante à que existe hoje em relação à eventual
prisão de Lula. A diferença é que aquele lobby foi feito por tucanos e
peeemebistas. Agora, são petistas que pressionam. Com o voto decisivo de Cármen
Lúcia, venceu em outubro o entendimento que acabaria beneficiando o senador
Aécio Neves, do PSDB, e o manteria no exercício do mandato.
Há
no Supremo um debate interno sobre a execução da pena após decisão condenatória
na segunda instância. Existem duas ações de repercussão geral que poderiam
levar a uma mudança dessa jurisprudência. Carmén Lúcia é contra essa alteração
e não quer debater o tema.
Atualmente,
o STF autoriza a possibilidade de prisão após a condenação na segunda
instância. Se rediscutisse o caso, a corte poderia mudar essse entendimento,
determinando a espera de uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), já
na terceira instância, para autorizar a execução da pena de prisão.
Cármen
Lúcia já deu prova de que faz política quando julga conveniente, como ao
receber o presidente Michel Temer no último fim de semana em sua casa. No caso
de Lula, ela age de forma que prejudica o ex-presidente, ainda que mais à
frente ele consiga ter sucesso num recurso no STJ ou no STF para tirá-lo da
eventual prisão. Mas já teria ocorrido a ida dele para a prisão, o que tem
enorme efeito simbólico.
Acirrar
ânimos
Do
ponto de vista político, a eventual prisão vai acirrar ainda mais os ânimos no
país. Deverá dividir ainda mais o Brasil.
As
pesquisas mostram um país cindido em relação a Lula. Metade o quer na cadeia. A
outra metade julga que ele não merece tal destino. Não será uma decisão que
será aceita passivamente por uma parcela da sociedade.
Deverá
haver protestos. Deverá haver enorme repercussão internacional. Terá peso
simbólico triste a eventual prisão do primeiro presidente do Brasil que possui
realmente uma origem popular.
Para
alguns segmentos da sociedade, será mais um sinal de fim da impunidade, de
aplicação da lei penal com mais rigor contra poderosos. Para outros setores
sociais, será uma perseguição judicial, uma violência de uma Justiça seletiva
que utiliza mais uma vez na História o discurso do combate à corrupção para
enfraquecer projetos políticos que combateram a desigualdade social e
beneficiaram os mais pobres do país.
Do
ponto de vista eleitoral, a prisão pode fortalecer a capacidade de Lula
transferir votos se for confirmada a sua exclusão das urnas. Haverá uma
tendência de maior solidariedade ao seu calvário.
A
eventual prisão também deverá elevar o debate público sobre a condenação no
processo do apartamento no Guarujá, considerada frágil por boa parte dos
advogados criminalistas e professores de direito penal do país e defendida por
Sergio Moro e as principais figuras da Lava Jato. Esse processo tem
fragilidades jurídicas que tenderão a ser vistas no futuro como uma injustiça
histórica.
Publicado
originalmente no Blog do Kennedy
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