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7 de março de 2018

"O que o WhatsApp e o canto da sereia têm a ver" por Leandro Vasques


Você já parou para pensar em quantas vezes por dia desbloqueia o seu celular? Estima quantas vezes perde o foco em uma atividade importante para checar notificações das redes sociais? Certamente mais do que o esperado. 

Estamos 24 horas por dia, 7 dias por semana, conectados por um aparelho que está sempre ao alcance da mão. Estamos incessantemente conectados aos outros, afinal a internet nunca fecha. Ficamos off-line no máximo quando o celular descarrega ou quando se perde o sinal da rede móvel, o que pode transformar alguns minutos em uma “eternidade em miniatura”, como diria o insuperável lusitano Fernando Pessoa. Quando chegamos a qualquer lugar, a saudação obrigatória parece ser “qual a senha do wi-fi?”.


É a era da hiperconectividade. Os benefícios proporcionados por essa tecnologia são indisfarçáveis . Mas os prejuízos precisam ser discutidos, principalmente porque a torrente de estímulos a que somos continuamente submetidos não vem acompanhada de regras nem protocolos, nem de etiquetas – muito menos nos dá tempo para processar e refletir sobre tudo isso.

Além do inevitável déficit de atenção, efeito devastador da hiperconectividade pode ser verificado nas relações de trabalho, quando funcionários simplesmente não conseguem se desvencilhar da tensão de manter-se conectado com os problemas da empresa via e-mail ou WhatsApp. Não é necessário interagir ativamente com as situações tratadas por mensagens, pois a simples preocupação em mostrar-se disponível já pode elevar a ansiedade a patamares preocupantes. Outros problemas já bastante presentes, segundo alguns estudos, são a dependência e a incapacidade de gestão do tempo.

Todo o aparato de conectividade é pensado justamente para nos prender à tela pelo maior tempo possível. Cabe a nós o esforço de diminuir essa exposição – nem que para isso tenhamos que reler a “Odisseia” de Homero e reinventar os artifícios de Ulisses contra o canto das sereias: tapar nossos ouvidos às notificações e nos distanciarmos fisicamente do aparelho celular.

Confesso que decidi me permitir essa experiência, tente também visitar essa “Odisseia”.
Publicado originalmente no portal O Povo Online

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